O Grande Debate: ação do PT no STF busca desestabilizar o governo Bolsonaro?
Outros temas foram o texto publicado pelo ministro Ernesto Araújo, a crítica do governador de NY ao Brasil, o trabalho da OMS na pandemia e mais
Com participação dos advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares, O Grande Debate desta quinta-feira (23) teve como tema principal o prazo de 5 dias para que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) explique o que o governo federal tem feito para combater a COVID-19. O questionamento lançado aos debatedores foi se essa ação do PT no Supremo Tribunal Federal (STF) busca desestabilizar o governo Bolsonaro ou se é um questionamento pertinente?
Além da do prazo do Supremo para que o governo mostre transparência nas ações durante a pandemia, os dois falaram sobre do texto publicado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, no qual disse que a que a pandemia do novo coronavírus pode ser utilizada para a implementação de uma forma de comunismo. Gisele e Thiago também comentaram a declaração do governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, sobre o Brasil ser mau exemplo de atuação contra COVID-19.
Completando o debate, eles avaliaram o trabalho da Organização Mundial de Saúde (OMS), a informação de que dois deputados participaram do ato em Brasília que pediu intervenção militar e se a escolha do general Eduardo Pazuello foi a melhor opção para o alto escalão do Ministério da Saúde.
Gisele Soares abriu a discussão cravando que a ação no STF é uma medida anti-governo. “Claramente é, sim, uma tentativa de desestabilizar o governo num momento de enfrentamento de pandemia em que falamos, aqui, que precisamos de união de coesão e, principalmente, de pensar no Brasil”, defendeu a advogada. “Não vejo como o Partido dos Trabalhadores estaria pensando no Brasil ao propor uma ação que não tem nenhum fundamento legal e serve simplesmente para judicializar o inconformismo por estar afastado do governo e ter perdido o poder. É uma medida contrária aos brasileiros. O PT não pensa no país”, acrescentou.
Thiago Anastácio rebateu e disse que a ação do PT trata dos preceitos fundamentais da Constituição. Ele avalia que “não houve quebra de preceitos fundamentais nas ações do governo”, mas que há “problemas de quebra de decoro” de Bolsonaro. Apesar disso, Thiago contesta a ação. “Não me parece que o governo tomou atitudes contrárias ao povo brasileiro. Podem ter tomado atitudes erradas, mas não com uma intenção malévola, logo são coisas diametralmente opostas nessas duas situações”, disse o advogado.
Com a palavra, Gisele defendeu que o “governo está trabalhando muito bem” e “enfrentando, com excelência, a pandemia”. “Essa ação não tem o menor cabimento. Não houve jamais quebra de decoro pelo presidente. Ou exaltar o Brasil é quebra de decoro? Trazer ótimos ministros técnicos engajados é quebra de decoro? Onde aconteceu? O que que caracteriza essa quebra de decoro?”, questionou a advogada.
Thiago disse estar surpreso por ser questionado pela colega sobre o que seria essa quebra de decoro. “Parece que há uma confusão jurídica e propositadamente semântica sobre isso”, avaliou ele. Interrompido por Gisele, que fez nova defesa de Bolsonaro, o advogado manteve a opinião. “Há quebra de decoro, Gisele, me desculpe. Vamos lembrar as agressões, vamos lembrar as agressões à figura da mulher, falando do furo de uma repórter e a risadinha canhestra que ele deu”, continuou, listando algumas situações envolvendo Bolsonaro. “Então, não vamos confundir isso com o que o governo tem feito”, encerrou.
A advogada voltou ao tema principal, disse que se o pedido de ação do PT tem como base o combate à pandemia, o Brasil “é um exemplo de enfrentamento”. “Até porque a transparência do Governo em demonstrar números e ações é enorme”, avaliou, acrescentando que a única intenção por trás do movimento do partido é “prejudicar os brasileiros e a equipe técnica”.
Thiago incluiu no debate as ações dos governos estaduais para frear o avanço da pandemia e disse que, neste momento, o governo federal tenta se apropriar dessa “vitória de toda a luta contra o novo coronavírus”. “Foram os governadores que fizeram tudo isso (medidas de isolamento), inclusive sofrendo ataques do governo federal. Então quais foram as ações do presidente?”, declarou.
Thiago ainda levantou o tema da recessão econômica e disse que Bolsonaro pretende ficar como “o culpado de nada e quem avisou sobre tudo”. Para o advogado, todos sabem que o mundo estrará em recessão devido à pandemia e o presidente brasileiro joga com isso.
Ele retornou ao assunto principal para classificar a ação do PT como “descabida”, mas disse que não se deve silenciar a oposição. “Será que não precisamos de um equilíbrio institucional e político no Brasil?”, perguntou. “Os problemas nacionais não começaram em 2002”, completou.
Gisele Soares disse entender que “a oposição tem seu papel” dentro da democracia, mas voltou a ressaltar que “o pedido está errado”. “Não há a possibilidade de encontrar nada que vá contribuir para o país no pedido de investigação neste momento”, defendeu.
Thiago interrompeu para lembrar que o pedido foi aceito pelo ministro Alexandre de Moraes. Os dois iniciaram uma discussão sobre a relevância do processo no meio da pandemia.
“Vai se retirar uma energia da equipe [do Ministério da Saúde] para justificar o que já está justificado”, contestou ela. O advogado respondeu: “Pelo amor de Deus, é a AGU (Advocacia-Geral da União) que vai responder. Você não gosta que isso tenha acontecido, mas somos do mundo jurídico e [sabemos que] a AGU não vai fazer nada diferente do que já não faz cotidianamente”, rebateu.
Considerações finais
Nas considerações finais, Thiago Anastácio fez uma síntese sobre os temas abordados e pediu maior entendimento de diversidade de opiniões ao ministro Ernesto Araújo. “Ele está voltando um filme ruim. Essas pessoas estão apegadas ao passado porque talvez não souberam crescer e apenas na teoria do confronto é que têm cena”, criticou. “Precisamos parar com essa infantilidade de cidadania que temos no Brasil, porque só assim seremos úteis”, concluiu.
Gisele Soares classificou as ações do governo como “patriotismo e amor ao país”. “Acho que ontem foi apresentado um programa muito importante, o Pró-Brasil, e gostei muito de ver todos aqueles ministros trazendo números, dados técnicos e propostas baseadas nos eixos de ordem e progresso”, afirmou. “Gostei do resgate dessas palavras tão fortes, que estão na nossa bandeira. Esse é o momento de repensarmos e valorizarmos o amor que temos pelo nosso país, a nossa vontade de melhorar e nosso comprometimento para enfrentarmos essa pandemia com altivez. Então vamos valorizar as propostas, as atitudes propositivas e as boas notícias”, finalizou.