O dendê, principal ingrediente da culinária baiana, pode sumir das prateleiras
Falta de tecnologia na colheita dificulta a produção de dendê
Quem já experimentou um bom acarajé ou aquela moqueca de dar água da boca, não tem nenhuma dúvida: o sabor que se destaca é o do dendê. Só que, nos últimos meses, a especiaria tem se tornado artigo raro na lista de ingredientes do baiano.
Houve queda na produção e o fornecimento do óleo – ou azeite, como costuma ser classificado o dendê no Brasil – caiu nos supermercados. Com isso, o preço disparou.
A escassez do ingrediente na Bahia preocupa principalmente quem sobrevive da venda do acarajé. “A baiana depende do dendê. A gente tem que manter o dendê para poder manter o ofício da baiana”, fala Rita Santos, presidente da Associação das Baianas do Acarajé.
A Costa do Dendê é uma área paradisíaca, cercada de belas praias, como as Ilha de Itaparica e Morro de São Paulo, e tomada por dendezeiros. A planta, uma palmeira com origem africana, veio com os escravos de navio para o Brasil e se desenvolveu facilmente nas terras baianas.
Só que, com o tempo, o cultivo dos dendezeiros não foi aprimorado. E uma das dificuldades apontada pelos agricultores da região é a forma de colheita do fruto que origina o azeite de dendê. ?
Na maioria das fazendas da Bahia que cultivam o dendenzeiro, a colheita ainda é manual. O problema é que algumas árvores chegam a 20 metros de altura, e o coquinho de onde é extraído o dendê fica no topo.
Segundo a agricultora Valdirene dos Santos, a falta de emprego de tecnologia fez a colheita de dendê se tornar um desafio trabalhoso. “Pra subir é muito alto, ninguém está querendo mais produzir por isso. É muito difícil, não se acha mais cortador de dendê”, argumenta.
A preocupação com o futuro do dendê tem sido o principal assunto entre os agricultores e entidades da área. Para o consultor agrícola Valdemir Pereira, o problema pode causar prejuízo à tradição baiana.
“O dendê é cultural, é emprego e renda. Mobiliza uma cadeia social muito diversificada. Não dá para imaginar e entender como funciona uma Bahia sem seus produtos”, explica.
(* Da DOC. Films, especial para a CNN)