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    No Amazonas, Rosa Weber lança primeira Constituição traduzida para língua indígena

    Língua Nheengatu foi a escolhida; para a ministra, o texto reconhece os direitos territoriais dos indígenas como originários

    No Amazonas, Rosa Weber lança primeira Constituição traduzida para língua indígena
    No Amazonas, Rosa Weber lança primeira Constituição traduzida para língua indígena Divulgação/STF

    Lucas Mendesda CNN

    em Brasília

    A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, lançou nesta quarta-feira (19) a primeira Constituição da história do Brasil traduzida para uma língua indígena. O idioma escolhido para o projeto foi o Nheengatu, conhecido como o tupi moderno.

    O lançamento foi feito na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira (AM). O Nheengatu é uma das quatro línguas cooficiais do município, conhecido como o mais indígena do país.

    Para Weber, a tradução representa um momento “histórico” e “símbolo do compromisso da garantia de que todos os povos indígenas tenham acesso à Justiça e conhecimento das leis que regem o país”.

    Conforme a ministra, a Constituição já havia sido traduzida antes para inglês e espanhol, mas nunca para um idioma nativo do Brasil.

    Também acompanharam a atividade a ministra do STF, Cármen Lúcia, e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, além da presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.

    Em seu discurso durante o lançamento, Rosa Weber fez diversas reverências ao movimento indígena e à necessidade de proteção dos territórios.

    “Por meio da nossa Constituição cidadã, indígenas tiveram seus direitos à diferença reconhecidos”, afirmou. “Não foi só isso. Os artigos 231 e 232 reconhecem os direitos territoriais dos povos indígenas como originários e imprescindíveis para preservação de sua cultura e organização social, segundo seus usos, costumes e tradições”.

    “Esses dispositivos reconhecem mais. Reconhecem a proteção e o dever de proteção do Estado brasileiro, de desenvolvimento de políticas voltadas à inclusão e preservação das culturas indígenas, inclusive do direito de acesso à Justiça e a legitimidade de comunidades e organizações indígenas a demandarem seus próprios direitos perante o Poder Judiciário”, declarou.

    A fala da ministra ecoa os impactos da tese do marco temporal, em julgamento no STF, especialmente sobre o que se entende como “direitos originários”.

    Pela tese, defendida por ruralistas, os povos indígenas só podem reivindicar territórios que estavam ocupando na data da promulgação da Constituição em 1988.

    A análise do caso na Corte foi interrompida no começo de junho por um pedido de vista do ministro André Mendonça. O magistrado tem até 90 dias para devolver o processo para julgamento, mas disse na ocasião que se comprometia a entregar antes. A própria Rosa Weber disse, durante a sessão, que gostaria de votar na ação – ela se aposenta no começo de outubro.

    No momento, o placar contra o marco temporal está 2 a 1, com diferenças nos votos contrários ao marco.

    Constituição em língua indígena

    A tradução da Constituição para o Nheengatu foi feita por indígenas bilíngues da região do Alto Rio Negro e Médio Tapajós.

    O projeto foi realizado em parceria com o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM) e a Escola Superior da Magistratura do Estado do Amazonas, com o apoio da Fundação Biblioteca Nacional e da Academia da Língua Nheengatu.

    Segundo o STF, a iniciativa visa promover os direitos dos povos indígenas no marco da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) das Nações Unidas. Também tem o objetivo de cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16 da Agenda 2030, cuja finalidade trata da promoção de sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, e garatias para o acesso à justiça para todos.