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    MPF questiona fabricante de munições sobre cartuchos usado para matar Marielle

    CBC precisará justificar porque produziu, no mesmo lote, 100 vezes mais munições do que o permitido por lei - que autoriza 10 mil do mesmo calibre por lote

    Maria Mazzei e Elis Barreto, da CNN no Rio

    O Ministério Público Federal solicitou explicações à Companhia Brasileira de Cartucho (CBC) sobre a produção do lote UZZ18, de onde saíram as munições usadas para matar a vereadora Marielle Franco e o motorista dela, Anderson Gomes, em 2018.  

    No lote UZZ18 foram produzidas 1.859.000 munições 9 milímetros. Todas foram compradas pela Polícia Federal em 29 de dezembro de 2006 e distribuídas para as 27 superintendências do País. Agora, a CBC precisará justificar porque produziu, no mesmo lote, 100 vezes mais munições do que o permitido por lei – que autoriza 10 mil do mesmo calibre por lote. 

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    Em ofício enviado à companhia, o procurador Eduardo Benones, do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial, questiona “os motivos pelo qual foram produzidas 1.859.000 de cartuchos de munições em um único lote (UZZ18), em contraposição do disposto no artigo 2º da portaria número 16-D LOG, de 28 de dezembro de 2004, do Exército Brasileiro que estabelece que o lote padrão de comercialização deveria conter 10.000 (dez mil) cartuchos de munições do mesmo tipo”. O procurador deu prazo de 90 dias para a CBC responder.  

    Dois dias após as mortes de Marielle e Anderson, a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar um possível desvio de munições de uso restrito da instituição. 

    Benones também  determinou perícia nas munições usadas no crime para saber se fazem parte do lote original da PF ou se são as chamadas munições de “recarga”, ou seja, após terem sido usadas numa ação envolvendo agentes da Polícia Federal, alguém pode ter pego os cartuchos e os recarregado para uso futuro. Esse tipo de munição é mais usado para treinos de tiros, já que podem falhar. 

    Em meio às investigações sobre o caso, a PF descobriu que munições do mesmo lote foram usadas numa chacina com 17 mortos e sete feridos em São Paulo, em 2015. Além disso, meses depois do assassinato de Marielle, a PF também levantou que parte dos projéteis apareceu em um assalto em uma agência dos Correios na Paraíba, em 2017. 

    Conforme já noticiado pela CNN, investigadores da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio que atuam na apuração do homicídio da vereadora e do motorista dela apuraram que munições do mesmo lote também aparecem em outros 17 crimes no Rio de Janeiro. As munições começaram a surgir em cenas de crime no Estado em 2013, cinco anos antes da morte da vereadora. O primeiro caso ocorreu em uma apreensão de armas, na Rocinha, favela na zona sul do Rio.

    Os dados sobre as ocorrências mostram que em 53% dos casos as munições do mesmo lote que o encontrado no caso Marielle apareceram nas mãos de traficantes; 18% nas mãos de milicianos e 6% nas mãos da própria PF. No restante dos casos, não há informações mais detalhadas sobre quem estava com as armas.

    Em 2018, o então ministro da Justiça e Segurança Pública Raul Jungmann chegou a declarar que a PF tinha 50 investigações por todo o Brasil para apurar como houve o desvio deste lote de munições.
    Questionado sobre o excesso de balas produzidas pela CBC, o Exército informou que “foi aberto um Processo Administrativo em 2018 e que os responsáveis foram devidamente sancionados.” O Exército, porém, não explicou quais sanções foram essas e contra quem.