MP-RJ investiga denúncias sobre operação policial no Complexo do Alemão

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) investiga denúncias sobre a operação policial que deixou 17 pessoas mortas no Complexo do Alemão, na última quinta-feira (21). Em nota, o MP afirma que elas se referem a 30 fatos ocorridos durante a operação.

O órgão recomendou ainda que a polícia faça perícias nos locais de crime, incluindo o carro onde Letícia Marinho Sales, de 50 anos, foi atingida e morta.

De acordo com a filha da vítima, Letícia e o namorado voltavam para casa no Recreio dos Bandeirantes pela Estrada do Itararé quando pararam em um sinal. Em seguida, um agente que estava no local atravessou a via e, segundo o depoimento da família, disparou contra o carro da vítima.

Segundo o MP-RJ, um perito foi designado para acompanhar a perícia nos corpos das pessoas mortas durante a operação. A análise do cumprimento da ADPF nº 635 também será apurada pelo promotor.

A Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do RJ mostraram preocupação depois de receber denúncias de omissão de socorro, invasão de domicílios, ameaças e execuções sumárias, o que foi negado pelas forças de segurança do estado em entrevista coletiva.

A ação, que durou cerca de 10 horas, repercutiu na imprensa internacional e teve destaque nas páginas de veículos como ABC News e Washington Post, dos EUA, France 24, da França, a agência espanhola EFE, o portal alemão da Deutsche Welle, a rede Al Jazeera, do Oriente Médio, a BBC de Londres, no Reino Unido, e as agências internacionais Reuters e Associated Press.

Entre os mortos na operação do Alemão estão 15 suspeitos, segundo a polícia, um policial militar e a autônoma Letícia.

No dia seguinte à operação, a Polícia Militar realizou outra ação no Complexo do Alemão para retirar barricadas colocadas por traficantes nos acessos à comunidade. Durante confronto entre policiais e criminosos na localidade da Caixa D’água, Solange Mendes, de 49 anos, foi baleada na cabeça quando voltava do mercado.

Amigo da família, o pastor Carlos dos Santos chegou ao local quando a mulher estava ferida no chão. De acordo com o pastor, testemunhas não sabem dizer de onde partiram os disparos. Ele diz que a família está muito abalada e prefere não falar sobre o caso.

“A família está revoltada com a situação, querem se mudar dali. O que eles dizem é que, se os policiais não estivessem lá, isso não teria acontecido. Dizem que não precisavam retirar as barricadas logo no dia seguinte à operação. E quem é refém dessa guerra são os moradores, que continuam muito apreensivos com a possibilidade de novas ações no Alemão”, afirma Carlos dos Santos.

Solange vendia quentinhas para ajudar a sustentar a família, junto com o marido, conhecido como Raminho. Ela deixa uma filha de 20 anos e um menino menor de idade.

Segundo o tenente coronel Ivan Blaz, porta-voz da corporação, Solange passou ao lado de uma equipe de policiais da UPP Nova Brasília no momento em que eles retiravam uma barricada. De acordo com a PM, os policiais foram atacados por disparos de criminosos, que atingiram Solange.

A corporação lamentou a morte da moradora e de outras duas vítimas — o cabo Bruno Costa e Letícia Marinho.

“A gente entende como natural o comportamento do morador quando acusa a polícia por força e opressão do crime local. Mas é inadmissível imaginarmos que alguns segmentos da sociedade tendem a naturalizar a presença de marginais fortemente armados nessas comunidades, sempre acusando a polícia, como se fôssemos parte unilateral dessa realidade, sem nem sequer citar a presença dos bandidos e seus fuzis”, afirmou Blaz em vídeo enviado à imprensa.

As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro foram procuradas para comentar o assunto, mas ainda não responderam.