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    MP do Rio faz operação contra organização que inclui acusado de matar Marielle

    Autoridades afirmam que organização é formada por Ronnie Lessa, além de dezenas de criminosos; Rogério e Gustavo de Andrade lideram grupo que "comanda estrutura voltada à exploração de jogos de azar"

    Léo LopesCamille CoutoThayana AraújoStéfano Sallesda CNN , em São Paulo e no Rio de Janeiro

    O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) deflagrou, nesta terça-feira (10), a Operação Calígula, contra uma organização integrada por dezenas de criminosos, incluindo Ronnie Lessa – denunciado como o executor do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.

    A organização alvo da operação, de acordo com as autoridades, é liderada por Rogério Costa de Andrade e seu filho Gustavo de Andrade.

    Foram expedidos 29 mandados de prisão e 119 mandados de busca e apreensão para esta operação. No total, são 30 denunciados acusados pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

    De acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, 14 pessoas já foram presas, incluindo o delegado Marcos Cipriano. Além disso, mais de R$ 1,5 milhão em espécie foram apreendidos por conta da operação da Força Tarefa do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-RJ.

    “Segundo narram as denúncias oferecidas pelo MP, Rogério e Gustavo de Andrade comandam uma estrutura criminosa organizada voltada à exploração de jogos de azar. Não apenas no Rio de Janeiro, mas em diversos outros estados, que há décadas exerce o domínio de diversas localidades”, alega o MP.

    As autoridades acrescentam que o domínio da organização era “fundamentado em dois pilares”. A “habitual e permanente” corrupção de agentes públicos, e o emprego de violência contra “concorrentes e desafetos”.

    “Ainda segundo os Promotores de Justiça, esta organização criminosa estabeleceu acertos de corrupção estáveis com agentes públicos integrantes de diversas esferas do Estado, principalmente ligados à segurança pública, incluindo tanto agentes da Polícia Civil, quanto da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro”, afirma a denúncia do MP.

    O MP alega que membros da Polícia Civil fluminense compunham a organização e “mantinham contatos permanentes com outros policiais corruptos, pactuando o pagamento de propinas”. Já policiais militares ligados à organização garantiam, através do pagamento de valores mensais, o livre funcionamento das casas de aposta do grupo.

    Parceria com Ronnie Lessa, acusado no caso Marielle

    A parceria entre o líder da organização, Rogério, e Ronnie Lessa é apontada nas denúncias como antigas, “havendo elementos de prova de sua existência ao menos desde 2009”, afirma o MP.

    O MP relata que, em 2009, Lessa, “indicado como um dos seguranças de Rogério de Andrade, perdeu uma perna em atentado á bomba que explodiu seu carro”.

    “Posteriormente, em 2018, ano da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, os dois denunciados se reaproximaram. Rogério de Andrade se aliou novamente a Ronnie Lessa e pessoas a este ligadas, abrindo uma casa de apostas na Barra da Tijuca”, aponta o MP.

    Além disso, o MP conta que, intermediado pelo delegado Marcos Cipriano, Ronnie Lessa participou de um encontro com Adriana Cardoso Belém, então delegada da 16ª DP, da Barra da Tijuca, e fechou acordo “que viabilizou a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas”.

    O pagamento de propina teria sido propiciado por Rogério de Andrade. Nesta terça (10), o MP apreendeu mais de R$ 1,76 milhão em espécie na casa da delegada, que é alvo da operação. 17 celulares, 5 notebooks e 107 máquinas de caça-níquel também foram apreendidas.

    “O bingo financiado por Rogério de Andrade, e administrado por Ronnie Lessa e Gustavo de Andrade e outros comparsas, foi fechado pela Polícia Militar no dia de sua inauguração. Em seguida, após ajustes de corrupção com policiais civis e militares, a casa foi reaberta e as máquinas apreendidas liberadas, conforme narrado”, relata o MP.

    Lessa está no Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, unidade de segurança máxima. A CNN entrou em contato com a defesa dos denunciados.

    Em nota, a Polícia Civil afirmou que “ambos os delegados alvos da operação não tem cargos na Polícia Civil atualmente”. ” Adriana Belém está afastada de licença e Cipriano trabalhando em outra instituição. A Corregedoria solicitará acesso às investigações para dar andamento aos processos administrativos necessários”, acrescentou.

    Atualmente, Marcos Cipriano é conselheiro da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado (Agenersa). Em nota, a Agenersa disse que “não comenta decisão da Justiça e esclarece que os fatos não têm relação com as atividades da agência”.

    Adriana Belém, que era delegada da 16ª DP, atualmente trabalha na Secretaria Municipal de Esporte e Lazer da capital carioca. Em nota, a pasta afirmou que “a delegada licenciada Adriana Belém está lotada na Secretaria Municipal de Esportes, no cargo de assessora, e será exonerada nesta terça-feira, após a deflagração da Operação Calígula”.

    Acusado de ser a cabeça da organização, Rogério Andrade se manifestou, por meio de sua defesa, em nota. “Essa operação além de não deixar demonstrado a necessidade da prisão cautelar do Rogério, se mostra claramente uma afronta ao STF que acaba de conceder o trancamento de uma ação penal contra ele”, afirma o comunicado do advogado Ary Bergher.

    “Isso vem ocorrendo desde juízes como o De Sanctis, Marcelo Bretas e Sérgio Moro, que tentam burlar as decisões do STF”, acrescenta.

    Já a defesa de Ronnie Lessa afirmou que soube pela imprensa do ocorrido. “Nós ainda vamos nos inteirar do que está acontecendo. Saber se há alguma acusação, qual acusação e quais os elementos que subsidiam ela. Por enquanto, não temos como nos posicionar. Estamos no escuro”, afirmou.

    *Iuri Corsini, da CNN, contribuiu para esta reportagem

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