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    Motoboy de São Paulo relata medo e falta de auxílio para trabalhar em quarentena

    "Meu maior medo é levar esse vírus pra minha casa e infectar a minha família", diz Bruno Mio, que faz entrega para aplicativos de delivery nos finais de semana

    Bruno Laforé e Talis Mauricio , Da CNN, em São Paulo

    Os finais de semana do motoboy Bruno Mio, de 28 anos, são sempre iguais. Onze da manhã ele aciona os aplicativos para os quais faz entregas de refeições, remédios e compras. Enquanto parte da população está em isolamento domiciliar para se proteger do novo coronavírus, ele está nas ruas, mas o medo é inevitável.

    “A gente fica com medo, né? Eu, particularmente, estou com receio de sair para entregar, pegar o alimento nos restaurantes e entregar para os clientes. Porque, talvez, nem todos os clientes e lojistas têm o mesmo cuidado que eu tenho, de passar o álcool em gel nas mãos, se prevenir para não pegar o vírus”.

    Mesmo que bares e restaurantes não possam abrir as portas no período de quarentena, que começou no dia 24 de março e vai até 7 de abril, as entregas por aplicativo desses locais estão autorizadas –entraram no rol de atividades essenciais liberadas pelo governo de São Paulo em meio à pandemia do novo coronavírus. 

    Com o objetivo de conhecer a realidade dos entregadores por aplicativo, a reportagem da CNN acompanhou a rotina de Bruno neste domingo (29).

    O encontro se deu no Largo Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, local onde o motoboy costuma iniciar os trabalhos. Tão logo acionou os apps, surgiu o primeiro chamado, comemorado por Bruno. “O sindicato disse que iam aumentar os pedidos, mas na prática caíram muito”, reclamou.

    Com a crise, o sindicato que representa a categoria, o SindimotoSP, prevê um aumento na demanda por pedidos delivery. Mas Bruno, que trabalha apenas nos finais de semana, disse que antes da crise tirava R$ 500, e agora está tirando R$ 200, uma queda de 60% nas entregas.

    Entre o recebimento do chamado, a retirada do pedido no restaurante e a entrega na casa do cliente são cerca de trinta minutos, às vezes um pouco mais.

    No restaurante, o contato é mínimo entre as partes. O alimento é deixado num balcão, retirado pelo motoboy, seguindo direto para o baú de entregas. Não havia álcool em gel disponível no local de retirada da refeição. 

    A viagem até a casa do cliente. Com o pagamento feito pela internet e a uma distância segura, cliente e motoboy nem precisam se aproximar um do outro.

    “Não é medo, não. É só pra gente se proteger e eles também, né? Então, é respeitar o espaço um do outro e os dois colaborarem e se ajudarem. É que cada um está num lugar, vivendo situações diferentes, então é melhor a gente se precaver”, diz o gerente de desenvolvimento Thiago Oliveira, autor do pedido entregue pelo motoboy.

    Sem proteção

    O entregador Bruno Mio
    O entregador Bruno Mio
    Foto: Divulgação

    Assim que deixa a entrega, Bruno corre para higienizar as mãos com o frasco de álcool em gel que trouxe de casa. É a única proteção que dispõe para evitar uma infecção pelo novo coronavírus. O frasco fica guardado em um compartimento de sua motocicleta.

    “Não estamos recebendo nada [das empresas de aplicativo]. O álcool em gel que eu tenho comprei por minha conta para evitar infecção. Máscara, luva… nada, nada”, desabafa Bruno entre uma entrega e outra. Ele também reclama que faltam incentivos para que, em meio a tantos riscos, os entregadores se sintam motivados a sair de casa. “O que eu ganhava antes era na faixa de R$ 5 a 6 por entrega. E continua a mesma coisa. Sem incentivo algum, sem adicional, nada”.

    Durante a semana, Bruno vive de bicos e desempenha outras funções. Mas não é o suficiente para o sustento da família. Por isso faz entregas por aplicativo nos finais de semana, como complemento de renda. Com duas faculdades no currículo, Gestão em Recursos Humanos e Logística, foi a alternativa que encontrou diante do desemprego. Sem convênio médico e auxílios básicos para enfrentar o novo coronavírus, seu grande medo é levar a doença para a família.

    “Meu principal medo é pegar o vírus, infectar o meu pai que está na zona de risco, minha mãe que tem imunidade baixa, minha sobrinha que é recém-nascida e minha cunhada que acabou de ter o neném e está com a imunidade baixa. Meu maior medo é levar esse vírus pra minha casa e infectar a minha família”.

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