Médicos acionam MP contra calendário único no Rio de Janeiro
Categoria defende prioridade dos profissionais de saúde na vacinação contra Covid-19
O Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro entrou com uma representação no Ministério Público para questionar o calendário único de vacinação contra a Covid-19, lançado essa semana pelo Governo do Estado. A categoria argumenta que o cronograma desrespeita a ordem de públicos prioritários estabelecidos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).
A proposta de um calendário único para o estado do Rio de Janeiro surgiu a partir de uma demanda de prefeituras, como a da capital, para conter a migração de moradores de outras cidades em busca de doses. Mas ao invés de padronizar o avanço da campanha, tornou-se um ponto de confusão que os municípios terão de resolver.
O principal embate está no início da vacinação dos agentes de segurança, a partir do dia 12 de abril, antes do término da imunização de idosos, profissionais de saúde e da previsão de públicos apontados pelo PNI, como pessoas com comorbidades.
Na capital, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse que a prioridade é vacinar todas as pessoas acima de 60 anos até o dia 24 de abril. Só depois, a cidade deve partir para outros grupos, ainda a serem definidos. Os critérios de idade e comorbidade vão pesar.
“As pessoas com comorbidade são as que estão internando mais e vindo a óbito por Covid. Então, elas são necessariamente e epidemiologicamente prioridade nessa fila, mas também a gente não pode desconsiderar professores e outras categorias, que são categorias importantes também”, declarou Soranz na manhã desta quinta-feira.
Entre algumas das cidades mais populosas do estado, São Gonçalo informou que ainda avalia a unificação e Niterói, que acha o processo importante. Já Nova Iguaçu informou que irá se balizar pelo Plano Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.
Após críticas, Estado acusa descuprimento do PNI pelos municípios
O calendário único do Governo do Rio de Janeiro não foi bem avaliado por especialistas ouvidos pela CNN, como a sanitarista e professora de Medicina da UFRJ Lígia Bahia. “Pela falta de coordenação do Ministério da Saúde, há uma interpretação livre de estados e municípios, e o Rio incluiu forças de segurança à frente de grupos que são ainda mais prioritários, com condições clínicas mais frágeis. Como se o Rio fosse primeiro vacinar primeiro um policial jovem, e deixar a mãe dele, que tem doença pulmonar crônica obstrutiva, atrás do filho. Não faz sentido em termos epidemiológicos, porque o objetivo da vacinação é diminuir a mortalidade, não é aumentar a popularidade de determinados políticos”, avalia.
Depois de ser criticado por ir contra o Plano Nacional de Imunizações, o Governo do Rio de Janeiro rebateu o ataque às prefeituras e divulgou que mapeia os hospitais do estado para vacinar, por conta, todos os trabalhadores de saúde. O motivo seria o descumprimento do PNI pelos municípios, que teriam ignorado os trabalhadores da linha de frente contra a Covid-19.
Na capital, por exemplo, funcionários dos hospitais federais reclamam que foram deixados de lado. “Vamos acelerar o processo, já que as prefeituras escolheram uma estratégia fora do PNI”, disse à CNN o secretário estadual de saúde, Carlos Alberto Chaves. O Rio de Janeiro tem 1,2 milhão de pessoas imunizadas contra a Covid-19 até a manhã desta quinta-feira.