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    Maurício Pestana: férias, lugares e diversidade

    Visitar o continente europeu é entender um pouco sobre a diversidade que compõe o Brasil colonizado por europeus

    Maurício Pestana

    É período de férias, e minha escolha se deu novamente pelo lugar mais diverso que já pude visitar. Não só do ponto de vista geográfico, uma vez que é possível conhecer alguns países em um curto espaço de tempo, mas também experimentar culinárias, hábitos e línguas diferentes, assim como ver imigrantes de toda parte do planeta, seja na condição de turistas ou de trabalhadores, em busca de oportunidades que não encontram em seus países originários. Meu destino foi o velho continente europeu.

    Diferentemente das últimas férias, minha entrada não se deu por Madri a caminho de Paris, onde logo de cara, na recepção no aeroporto da capital espanhola, fui juntamente com um peruano que também estava no meu voo convidado para uma entrevista no posto da PF do aeroporto, com aquelas perguntinhas: “pra onde vai” e “o que veio fazer aqui?”

    Coincidência ou não, éramos os únicos negros naquele avião. Meu relato foi rápido, pior para o peruano que, mesmo respondendo às perguntas, teve que ir para a salinha escura das revistas e um interrogatório mais intenso. Acredito que muito mais pelo nervosismo dele do que por qualquer outra coisa.

    Neste ano, em Lisboa, sem interrogatório, apenas as perguntas de praxe no posto da imigração, onde fiz questão de ser irônico e dizer que eram duas as finalidades da viagem: uma, as férias, outra, reivindicar uma herança de meus avós, os Pestanas – afinal, ouvi dizer que são ricos em Portugal, donos até de rede hoteleira global: hotéis Pestana, muitos presentes no Brasil. Brinquei com a agente federal lusitana, que sorriu também, dizendo que os Pestanas são realmente poderosos  economicamente em terras lusitanas.

    Brincadeiras à parte, visitar o continente europeu em comparação ao continente africano, que também já pude conhecer, é entender um pouco sobre a diversidade que compõe o Brasil colonizado por europeus, com forte presença africana e dos povos originários, e entender também os desdobramentos e olhares, muitas vezes discriminatórios e bilaterais que adquirimos com o passar do tempo, fortalecendo o racismo sistêmico construído também nos detalhes.

    Exemplo: minha estadia aqui se dará na passagem por vários países e sempre ouço que grande parte desses países têm línguas diferentes como português, espanhol, alemão, francês etc., e a língua universal que é o inglês. Já quando vivi a mesma experiência na África, me falaram que aquele continente fala muitos “dialetos”. Eu me pergunto por que, na Europa, são línguas e, na África, são “dialetos”?

    Na busca desta resposta, soube que, nos anos 40 do século passado, o sociólogo e linguista judeu russo Max Weinreich se notabilizou ao afirmar que os critérios para distinguir língua e dialeto são arbitrários e têm mais a ver com decisões e disputas geopolíticas do que necessariamente com determinações linguísticas. Eu acrescentaria critérios também discriminatórios para distinguir uma coisa da outra.

    Enfim, gosto da definição de alguns estudiosos do assunto que dizem: “As línguas e os códigos de comunicação são organismos vivos, fluídos, que se comportam de maneiras particulares dependendo de tantos fatores que é improvável, em alguns casos, criar regras que deem conta de todas as possibilidades”. O resto é preconceito.

    Por falar em preconceito, discriminação e racismo, minha próxima parada será Barcelona, na Espanha. Quem sabe sobre um tempinho para um bate-papo com Vini Jr. para falarmos de amenidades e sobre sua relação de afeto com parte da torcida espanhola. Até lá!

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