Maurício Pestana: abril, que abre portas
Projeto inovador, criado para mudar os rumos da diversidade e inclusão no país, Fórum Brasil Diverso completa dez anos de existência
Duas datas que comemoro com muito louvor neste mês de abril: os cinco anos nos quais, por meio de texto e vídeos, tenho tido a oportunidade de expressar opinião em uma rede de prestigio mundial como a CNN Brasil, com total liberdade, sobre temas delicados como racismo, diversidade e inclusão. E também foi em abril, mas muito tempo antes, que criei uma iniciativa que vem rendendo muitos frutos, e é sobre esta ação que quero falar hoje.
Há exatos dez anos, mais precisamente em 2014, nascia aqui, na capital paulista, um projeto inovador, que mudaria os rumos da diversidade e inclusão, com o firme propósito de alterar a cara e a cor das empresas e, consequentemente, do meio corporativo brasileiro. Surgia o Fórum Brasil Diverso.
Como toda ideia disruptiva, causou espanto, entusiasmo e também muitas dúvidas de como as empresas brasileiras iriam encarar, e para valer, o grande problema da desigualdade e da exclusão negra, principalmente nos cargos de direção, como era o foco do Brasil Diverso.
Por ser pouco discutido no âmbito da gestão privada, eram raros os estudos realizados a respeito. E aí, na qualidade de secretário da Igualdade Racial da cidade de São Paulo na época, encomendei uma pesquisa ao Instituto Ethos e, com o apoio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), iniciamos uma ampla pesquisa com centenas de empresas sediadas na cidade.
Os números que emergiram neste trabalho foram assustadores: apenas 4,6% dos cargos de direção das empresas brasileiras eram ocupados por pessoas negras.
São Paulo é o Estado mais diverso racial e culturalmente do país. Por isso, é também o mais procurado por proporcionar oportunidades. Afinal, é na capital paulista que se concentra o maior número de japoneses e seus descendentes fora do Japão, de libaneses fora do Líbano, assim como de nordestinos e seus descendentes fora do Nordeste do país.
Mas a desigualdade racial entre negros e brancos também aparece como uma marca. Então, não por acaso, nasceu aqui a pioneira iniciativa do Fórum Brasil Diverso, que foi se mostrando ao longo de uma década um aliado do meio corporativo e da sociedade, impulsionando a cultura, a diversidade, a pluralidade e a inclusão.
Aos poucos, o Brasil Diverso foi se tornando um catalisador de tendências voltadas para a equidade, diversidade e inclusão no mundo corporativo e na sociedade como um todo. O seu pioneirismo nas discussões no Brasil trouxe temas relevantes e de vanguarda para o debate.
A iniciativa reuniu, ao longo desses dez anos, as principais lideranças do mundo corporativo, fomentando políticas de igualdade racial no trabalho, com exemplos para todo o mundo, uma vez que sempre teve participantes internacionais.
Foram encontros e workshops presenciais e virtuais debatendo temas críticos como racismo estrutural, institucional, cultural e excludente em algumas empresas – reflexo de uma sociedade desigual.
É difícil mensurar as inúmeras contribuições que o Fórum Brasil Diverso deu à sociedade brasileira, mas, só para recordar alguns temas que foram debatidos no Fórum, podemos dizer que, antes mesmo de qualquer empresa no país ter políticas de trainee para negros, esse assunto foi discutido em nossas edições.
Seis meses antes do mundo se fechar no trabalho remoto por conta da pandemia, o tema principal do Fórum foi “a inclusão e exclusão de trabalhadores em home office”. Vagas afirmativas, letramento racial nas empresas e um grande número de iniciativas na área da igualdade racial, todas essas iniciativas nasceram no seio dos debates desses dez anos do Fórum Brasil Diverso.
Ainda existe uma longa caminhada até que a igualdade entre homens e mulheres, negros e brancos e os demais grupos ditos “minoritários” da nossa sociedade seja plena, mas iniciativas como o Fórum Brasil Diverso nos dão a certeza de que uma parcela significativa da população não só acredita nesta transformação, mas está fazendo de tudo para que isso aconteça. E este é o combustível principal da mudança.