Matrículas na educação básica em tempo integral têm redução de 31% em 5 anos
Queda está concentrada no Ensino Fundamental e pandemia deve piorar cenário de ingresso de estudantes nas escolas
Antes da pandemia da Covid-19, aumentar o número de alunos matriculados em tempo integral já fazia parte dos objetivos das secretarias estaduais e municipais de ensino para melhorar a qualidade da educação brasileira.
No Ensino Médio, foi identificado um importante crescimento, mas a queda nos anos iniciais do Ensino Fundamental colocou as matrículas na educação em tempo integral em baixa no Brasil. As informações estão no Anuário Brasileiro da Educação Básica 2021, elaborado pelo Todos Pela Educação, em parceria com a editora Moderna.
“O avanço das matrículas em tempo integral já era uma estratégia fundamental para melhorar a qualidade da Educação antes da Covid-19. Desde que feito com qualidade e com condições adequadas aos docentes, mais tempo na escola é uma forma de viabilizar uma aprendizagem à altura dos desafios dos nossos alunos, em especial aqueles em situação de maior vulnerabilidade, afirma Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação.
Ao analisar os últimos cinco anos, o número de matrículas em tempo integral na Educação Básica no Brasil caiu 31%. Nos Anos Iniciais do Fundamental, a queda foi de 63%; nos Anos Finais do Fundamental foi de 55%; já no Ensino Médio, o aumento de matriculados em tempo integral subiu 107% desde 2015.
O Anuário também apresenta dados que revelam uma forte redução nas despesas com Educação por parte de Estados e Municípios. De 2019 para 2020, os governos estaduais reduziram 9% para função Educação. Em números absolutos, isso significa uma diminuição de R$11,4 bilhões. Se compararmos 2020 com 2015, a redução chega a 14%, em termos reais.
No âmbito municipal, o total de despesas empenhadas na função Educação caiu 6% entre 2019 e 2020, uma queda de mais de R$10 bilhões. Em comparação com 2015, o valor de 2020 é 1% maior em termos reais.
No Brasil, a cada 100 estudantes que ingressam na escola: 93 concluem o Ensino Fundamental 1 aos 12 anos; 61,1% têm aprendizado adequado em Língua Portuguesa; 51,5% têm aprendizado adequado em Matemática; 82 concluem o Ensino Fundamental 2 aos 16 anos; 41,4% têm aprendizado adequado em Língua Portuguesa; 24,4% têm aprendizado adequado em Matemática; 69 concluem o Ensino Médio aos 19 anos; 37,1% têm aprendizado adequado em Língua Portuguesa; 10,3% têm aprendizado adequado em Matemática.
Em relação aos professores da Educação Básica, mais de dois milhões de profissionais: 43,6% têm Ensino Superior sem Pós-Graduação; 43,0% têm Ensino Superior com Pós-Graduação; 8,4% têm Ensino Médio Normal/Magistério; 4,8% têm Ensino Médio; 0,2% Têm Ensino Fundamental.
Do ponto de vista da alfabetização, um dos mais importantes indicadores educacionais em relação ao desenvolvimento social dos países, o Brasil segue sem “zerar” essa realidade. A taxa de 5,8% de analfabetos com idade de 15 anos ou mais, embora haja um pequeno avanço, persiste.
O número ainda é diretamente relacionado às diversas desigualdades sociais. A proporção de analfabetos entre a população com mais de 15 anos dos domicílios mais ricos é de apenas 0,3%. No entanto, entre os mais pobres, o número de pessoas que não sabem escrever o próprio nome salta para 7,7%
Se compararmos as áreas urbanas e rurais no Brasil, a desigualdade também é evidenciada. Nas áreas urbanas, 95,6% da população é alfabetizada, enquanto nas áreas rurais o índice cai para 84,9%.
O recorte geográfico é outro fator que evidencia as diferenças no Brasil. Em Santa Catarina, na região sul do país, 1,7% da população de 15 anos ou mais foi identificada como analfabeta, em 2020. Já em Alagoas, na região norte, essa proporção chega a 16%.