Mais de 20 mil indígenas já testaram positivo para Covid-19 no Brasil
Dos casos confirmados, 345 evoluíram para morte e 14.718 tiveram cura clínica; 5.158 indígenas estão internados para tratar a doença
Um boletim epidemiológico da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) divulgado nesta terça-feira (18) indica que 20.255 indígenas já testaram positivo para a Covid-19. É a primeira vez que o órgão do Ministério da Saúde registra mais de 20 mil casos desde o primeiro caso de coronavírus entre indígenas, divulgado em 1º de abril.
Dos casos confirmados, 345 evoluíram para morte e 14.718 tiveram cura clínica. Atualmente, 5.158 indígenas estão internados para tratar a doença.
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Os dados são levantados pela Sesai com informações dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) do país, demarcados com base nas terras indígenas – ou seja, apenassão contabilizados os indígenas que são atendidos pelas equipes de saúde das áreas.
Entre os DSEIs, o que mais registrou casos foi o de Leste de Roraima, com 1932 casos e 32 mortes. Dos dez com mais casos, sete estão na região Norte.
Segundo o Ministério da Saúde, a Sesai tem intensificado o apoio na região desde o mês de julho, em conversas com as lideranças indígenas das comunidades e com o Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi).
Desde o primeiro caso, foram necessários 103 dias para o número de indígenas infectados superar 10 mil. No entanto, desde que atingiu a marca, foram necessários apenas mais 36 dias para dobrar o número e ultrapassar 20 mil casos.
De acordo com o censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 896.917 indígenas. Desses, 2,25% já contraíram a Covid-19. O percentual é, inclusive, maior do que o nacional: dos 19.0732.694 brasileiros contabilizados no censo do mesmo ano, 1,78% testaram positivo para o coronavírus.
Pedido de ajuda ao governo
Tonico Benites Guarani Kaiowa, antropológo, liderança e porta voz de Aty Guasu Guarani e Kaiowa (Organização da Assembleia Geral do povo Guarani e Kaiowa) disse para a CNN que, após o primeiro caso registrado em sua região, as lideranças indígenas se uniram para pedir ajuda para os órgãos públicos para ajudar a conter a propagação: “Estamos pedindo aos órgãos públicos municipais, estaduais e federais.”
A Articulação dos Povos Indígenas (APIB) também divulgou e ressaltou a importância da proteção dos povos indígenas, principalmente os isolados que, se forem contaminados, “corre-se o risco de ser o grupo inteiro exterminado”. “No caso dos indígenas, o genocídio vem seguido do etnocídio, porque além do extermínio da vida, tem-se também o extermínio das culturas que jamais serão recuperadas”, diz a organização.
A APIB moveu uma ação no Supremo Tribunal Federal para que o Governo Federal adote um plano de contenção do coronavírus e proteção dos povos tradicionais. Em 5 de agosto, os ministros deferiram o pedido da organização.
O Dr. Eloy Terena, advogado da APIB na ação, ressaltou na época a importância da medida: “Essa ação é a voz dos povos indígenas na Corte (do STF) e é uma ação histórica porque pela primeira vez os indígenas vem ao judiciário em nome próprio.”
Para o combate ao coronavírus entre os povos indígenas, o Ministério da Saúde comunicou, em nota, que investiu mais de R$ 70 milhões em ações contra a doença. Segundo o último balanço divulgado pela pasta em 09 de agosto, cerca de 1 milhão de itens entre Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas, aventais e frascos de álcool em gel – além de insumos e medicamentos foram enviados aos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas do país.
Entre as ações, a Sesai também informou que realizou a implementação de 150 leitos para indígenas nos estados do Amazonas (Manaus, Atalaia do Norte, Benjamin Constant), Amapá (Macapá), Pará (Belém, Marabá, Santarém) e Roraima (Boa Vista).