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    Mãe Bernadete foi executada a mando do tráfico, conclui polícia civil da Bahia

    Líder quilombola lutava contra a extração ilegal de madeira e contra o tráfico na região do Quilombo Pitanga dos Palmares

    Bernadete Pacífico foi morta a tiros, aos 72 anos, em 17 de agosto deste ano
    Bernadete Pacífico foi morta a tiros, aos 72 anos, em 17 de agosto deste ano Conaq

    Ana Coelhoda CNN*

    A Polícia Civil concluiu, nesta quinta-feira (16), que Bernadete Pacífico, ialorixá e liderança quilombola, foi morta a mando de um líder do tráfico de drogas na região do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, região metropolitana de Salvador.

    Ao todo, seis pessoas foram indiciadas pelo crime, sendo cinco pelo assassinato de Mãe Bernadete, e um sexto por posse ilegal de arma, segundo o Ministério Público da Bahia (MP-BA). Um dos indiciados e executores está foragido.

    Na coletiva realizada pela Polícia Civil, a delegada Andréa Ribeiro, responsável pelas investigações, afirmou que a líder quilombola era legitimada pela comunidade e desempenhava um papel significativo na defesa dos interesses locais e, quando confrontou os interesses do tráfico, acabou sendo assassinada.

    Exploração ilegal e tráfico de drogas

    De acordo com a Polícia Civil, um morador do quilombo, identificado como Sérgio, é o instigador do crime. Ele havia tido discussões com Bernadete, após a líder ter se manifestado contra a extração ilegal de madeira na região da qual ele fazia parte. Sérgio, então, deduziu que ela era autora de uma denúncia anterior, o que resultou na apreensão de madeira ilegal na região.

    Após a discussão, Sérgio informou para os líderes do tráfico na região, Murilo dos Santos, o “Maquinista”, e Ydney Carlos, o “Café”, que Bernadete poderia atrapalhar o trabalho do tráfico, porque ela estava atraindo a polícia para a região.

    A investigação também apontou que o tráfico havia montado uma barraca chamada “Pitanga Point”, onde atuava com o comércio de drogas na região.

    Diante da ameaça, eles ordenaram que os executores, identificados como Arielson, preso em Araçás (BA), e Josevan, foragido, invadissem a casa de Bernadete. A líder quilombola foi morta com vinte cinco tiros no dia 17 de agosto deste ano.

    Os acusados foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, de forma cruel, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima, segundo o MP-BA. O órgão concluiu que Mãe Bernadete morreu por que lutava contra o tráfico de drogas.

    Segundo a Polícia Civil, existem outros inquéritos em aberto que estão apurando o tráfico de drogas e conflitos fundiários na região do quilombo.

    Programa de Proteção

    A líder quilombola fazia parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do Governo Federal. Além de escolta armada, a sede do quilombo Pitanga dos Palmares, onde ela vivia, era monitorada por câmeras de segurança.

    À CNN, Leandro Silva, advogado da família, informou que algumas câmeras não estavam funcionando e que a qualidade do equipamento dificultou a análise das imagens.

    O Ministério dos Direitos Humanos havia proposto que os integrantes da família de Bernadete alterassem suas identidades, para que se protegessem de novas ações criminosas contra a família.

    A defesa recusou a proposta alegando que tal mudança drástica de identidade resultaria na ruptura de laços comunitários e atenderia aos objetivos do grupo criminoso que é a desmobilização da comunidade quilombola.

    No início de novembro, a família da líder quilombola contratou um perito particular para revisar o resultado da perícia e o laudo de morte feito pela Polícia Civil da Bahia.

    Quem era Mãe Bernadete

    Bernadete Pacífico liderava a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e, segundo nota emitida pela entidade, dedicou sua vida “à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo”.

    No texto, a Conaq lembra que o assassinato de Binho do Quilombo, filho da líder, segue sem resposta, a exemplo de homicídios cometidos contra outras lideranças quilombolas. “Junta-se à injustiça mais uma vítima da violência enfrentada por aqueles que ousam levantar suas vozes na defesa dos nossos direitos ancestrais”, afirmou.

    “Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização. Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas as adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho.”

    *Sob supervisão de Marcos Rosendo