Incêndios na Amazônia transformam “rios voadores” em corredores de fumaça
Sistema responsável por transportar chuva da floresta amazônica para outros lugares da América do Sul está dando lugar a névoa que afeta pelo menos 11 estados do Brasil
A região da Amazônia enfrenta uma crise ambiental histórica, com queimadas fora de controle, agravadas pela seca extrema que assola a região.
Em agosto, uma nuvem de fumaça encobriu vastas áreas do bioma e se espalhou por pelo menos 11 estados do país, alcançando milhares de quilômetros de distância, diz análise da WWF-Brasil.
Com base nos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estudo demonstra que somente até o dia 27 de agosto, foram registrados 28.697 focos de queimadas na Amazônia, um aumento alarmante de 83% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram identificados 15.710 focos.
Esse número também supera em 38% a média dos 10 anos anteriores, que vai de 2014 a 2023. Com isso, o total de queimadas em 2024 já alcançou 53.620 focos, um crescimento de 80% comparado a 2023, e o maior número registrado para o período desde 2010.
A situação é particularmente grave nos estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso, que concentraram mais de 80% das queimadas registradas em agosto. O Pará lidera com 36% dos focos, seguido pelo Amazonas, com 29%, e Mato Grosso, com 16%.
Especialistas alertam que, com a intensificação das queimadas, os “rios voadores”, nome dado as correntes de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras regiões da América do Sul, estão se transformando em imensos corredores de fumaça.
Esse fenômeno climático, essencial para o ciclo das chuvas no continente, agora carrega partículas de fumaça que podem ser vistas até do espaço, agravando a crise ambiental e a qualidade do ar em áreas distantes da floresta.
“As áreas no bioma da amazônia onde foi observada uma temperatura enormemente aumentada no mês de agosto coincidem com esses locais onde há estradas, como se fosse uma cicatriz que remete ao nosso modelo de desenvolvimento. Onde há estradas também há cidades e, com isso, além dos impactos do fogo sobre o meio ambiente, a fumaça produzida pelos incêndios tem grande impacto também na saúde humana”, afirma Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil.
Essas massas de ar desempenham um papel crucial na produção de chuvas em outras regiões do Brasil e países vizinhos. No entanto, com as queimadas descontroladas, essas correntes estão transportando, além da umidade, grandes quantidades de partículas suspensas, criando uma ameaça adicional ao meio ambiente e à saúde pública.