Ideologizar é fazer caça às bruxas na elaboração das questões, diz especialista
À CNN, diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV, Claudia Costin defende que "política de educação deve ser política de Estado, não de governos"
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, na última segunda-feira (15), que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) “começa agora a ter a cara do governo”. A declaração foi feita enquanto ele respondia sobre uma crise institucional no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Nas últimas semanas, trinta e sete servidores deixaram os cargos que ocupavam no órgão que cuida da gestão do exame.
Para a diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV, Claudia Costin, a postura do governo federal em relação à prova é “lamentável”.
“Desde quando foi criado, o Enem reflete o contexto em que se vive. A cada prova se procura ver em que medida estes jovens acompanham o noticiário, estão bem informados e são capazes de fazer uma reflexão crítica, como pensadores autônomos, sobre o que se passa no nosso país e no mundo. Ideologizar é fazer a caça às bruxas no processo de elaboração das questões”, disse em entrevista à CNN.
A especialista, que já atuou como Diretora de Educação do Banco Mundial, complementou sua fala dizendo que o Inep “é respeitado internacionalmente” e considerado uma instituição “bastante sólida”. “Eu imagino o horror deles com a ideia de um controle ideológico das questões, muito triste”, declarou Costin.
Claudia Costin falou ainda que políticas educacionais devem ser pensadas como políticas de Estado, não de governos.
“Não deveria ter prova nenhuma, organizada nacionalmente, a cara de um governo, seja este ou outro. Política educacional deveria ser política de estado e não de governos, e provas mais ainda, em que se procura aferir se estes jovens estão prontos para o ensino universitário.”
Ela ressaltou que ninguém do governo pode ter acesso ao Enem e lamenta: “Infelizmente foi criada uma Comissão para analisar se as questões têm o desenho ou a configuração do ideário do Bolsonaro.”
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Inep Enem: O aplicativo oficial do Enem traz -- além das informações sobre a prova, como local, horário e dados pessoais do estudante -- conteúdo para estudo com simulados, informações sobre os exames de anos anteriores e a possibilidade de visualizar sua nota e redação de provas anteriores (Android/iOS) • Reprodução
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Questões Enem 2021 e Provas de Vestibulares: O app traz exames de anos anteriores para simulados. Além do Enem, a plataforma aposta no estudo para vestibulares, com gabaritos e explicações (Android) • Reprodução
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Enem Game: O app visa transformar o estudo em um momento descontraído, de forma lúdica. Traz um jogo de perguntas e respostas para estimular o estudo para o Enem. São mais de 7 mil perguntas (Android/iOS) • Reprodução
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Questões Enem - aulas, simulados e provas: o app traz todas as provas de Enem desde 2009. Aposta em simulados como forma de estudo e disponibiliza temas como Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática, Inglês e Espanhol (Android/iOS) • Reprodução
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Prepara Simulado Enem 2021: O app reúne todas as provas do Enem em mais de 3.600 questões. Traz dicas para a redação, os temas abordados em anos anteriores e simulados divididos por áreas (Android) • Reprodução
Na análise da diretora, nenhum país que tenha um bom sistema educacional abre brechas para uma avaliação sobre a natureza das questões. “É bom lembrar: elas são feitas com base em um edital público de chamamento de professores que vão formular estas questões. Há um banco organizado de questões e inclusive dos temas das redações”, explica.
Costin também critica a falta de coordenação do Ministério da Educação (MEC) ao longo da pandemia de Covid-19. Em sua visão, o Brasil caminhava a passos lentos para uma melhoria no nível educacional de sua população, mas, agora, é provável que o país viva um retrocesso.
“Vínhamos de uma trajetória de melhoras, lentas, mas melhoras. O que nós estamos vendo com a pandemia, mas também com a falta de uma coordenação nacional de resposta à pandemia, é um retrocesso e nós vamos pagar caro por este desinteresse do MEC durante boa parte destes quatro anos.”