“Graças a Deus, sou brasileiro”, diz repatriado que perdeu 45 familiares na guerra entre Israel e Hamas
Quando eclodiu a guerra, Ahmed Alajrami recorreu à Representação do Brasil à Palestina. Junto com outros brasileiros ficou abrigado em Rafah até receber a autorização de deixar Gaza
O motorista Ahmed Alajrami, de 43 anos, desembarcou nesta quarta-feira (15) no Aeroporto de Guarulhos. Ele é um dos 22 repatriados que serão encaminhados para viver em um abrigo no interior de São Paulo. Na bagagem, pouca roupa e a dor de ter perdido 45 pessoas da família na guerra.
“Graças a Deus sou brasileiro”, disse à CNN.
Alajrami conseguiu a cidadania brasileira após morar entre 2014 e 2019 em Cuiabá, onde trabalhava como motorista de Uber.
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Em 2020, ele foi morar em Toulouse, na França, onde ainda estão a mulher e os dois filhos, de 14 e 16 anos. Lá trabalhava transportando carrinhos de bagagem. Retornou à Faixa de Gaza para rever a família.
Quando eclodiu a guerra, Alajrami recorreu à Representação do Brasil à Palestina. Junto com outros brasileiros ficou abrigado em Rafah até receber a autorização de deixar Gaza pela fronteira com o Egito.
“Perdi 45 pessoas”
A família de Alajrami morava em Jabalia, campo de refugiados atacado por Israel em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro.
“Eu perdi tudo. Nossa casa foi destruída. Perdi 45 pessoas da minha família, incluindo dois irmãos, mulheres e crianças. Hoje perdi dois amigos”, contou à CNN durante conversa nesta terça-feira (14), ainda na Base Aérea de Brasília, onde passou duas noites antes de embarcar para São Paulo.
Alajarami conta que o pai dele e os irmãos – quatro crianças – estão abrigados em uma escola em Deir al-Balah, no sul de Gaza. No celular, ele mostra fotos dos familiares deitados no chão.
“Minha família quase toda morreu, meus amigos morreram. É muito triste. Tenho 43 anos e parece que minha vida acabou também. Minha cabeça está ruim, não consigo ficar tranquilo. Queria que a minha família que restou fosse brasileira também”, disse.