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    Flordelis: entenda o caso da deputada acusada de mandar matar o marido

    Investigação envolve relações familiares complexas

    Anna Satie, da CNN

    A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou nesta semana uma operação que mira os envolvidos na morte do pastor Anderson do Carmo de Souza – assassinado com mais de 30 tiros em junho de 2019.

    A ex-mulher dele, a deputada federal e também pastora Flordelis (PSD-RJ) foi indiciada como a mandante do crime. Ela não pode ser presa por ter imunidade parlamentar — deputados e senadores só podem ser detidos se forem pegos em flagrante cometendo um crime inafiançável.

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    O mesmo privilégio não se estende à família de congressistas: sete de seus filhos foram presos, preventivamente, suspeitos de participação no crime. Flordelis é mãe de 55 filhos, quatro deles biológicos.

    Ela já era bastante famosa antes do ocorrido: em 2009, foi lançado um filme sobre a vida dela, estrelado por Bruna Marquezine, Reynaldo Gianecchini, Rodrigo Hilbert e Deborah Secco. Em 2018, a pastora foi a mulher mais votada para o cargo de deputada federal do Rio de Janeiro.

    O crime chama a atenção pelo tamanho da família, a relação entre eles e a quantidade de perguntas não respondidas. Entenda melhor o caso Flordelis.

    Quem é Flordelis?

    Nas redes sociais, Flordelis dos Santos de Souza se apresenta como deputada federal, mãe de 55 filhos, viúva do pastor Anderson, pastora e cantora gospel.

    Desde adolescente, ela recebia crianças em situação de abandono onde morava, na favela do Jacarezinho, zona norte carioca.  

    Em 1994, adotou de uma só vez 37 crianças, sobreviventes da chacina da Candelária. Com a grande família, composta por 51 filhos adotivos e quatro biológicos, fundou uma comunidade evangélica que levava seu nome, o ministério Flordelis.

    Em junho de 2019, o marido, também pastor Anderson do Carmo, foi morto com 30 tiros ao chegar de madrugada na casa onde morava em Pendotiba, Niterói. Flordelis disse, na época, que o crime teria sido parte de um assalto.

    Desde a data, a deputada rememora o ex-marido em publicações saudosas em seus perfis no Facebook e Instagram.

    A relação Flordelis e Anderson

    Flordelis e Anderson do Carmo
    Flordelis e Anderson do Carmo
    Foto: Instagram/ Reprodução

    Antes de se casar com Flordelis, Anderson já havia sido filho e genro dela. Isso porque ela recebeu Anderson em sua casa como um de seus protegidos. Na época, ele se relacionou com Simone, uma de suas irmãs e filha biológica de Flordelis. A deputada e o filho adotivo se casaram em 1994: ela tinha 33 anos, ele, 17.

    Essa não é a única relação disputada dentro da família. Em junho deste ano, Flordelis admitiu que Daniel, rapaz que apresentava como único filho biológico de seu casamento com Anderson, é adotivo — no entanto, não houve qualquer processo de adoção formal.

    Outro caso semelhante é o da neta Rayane, que teria sido a primeira criança a ser acolhida na casa de Flordelis e foi registrada como filha de Simone. No entanto, também não há nenhum processo legal nesse sentido e o ECA (Estatuto Legal da Criança e do Adolescente) também não o permitiria: a diferença de idade entre Simone e Rayane é de 13 anos — para requerer a adoção, é necessário que o pretendente tenha ao menos 16 anos a mais.

    As relações informais não são o maior problema da família no momento. O inquérito da polícia concluiu que ao menos sete filhos de Flordelis estão envolvidos na morte do pastor Anderson.

    O crime

    Na madrugada de 16 de junho, Anderson do Carmo foi assassinado com 30 tiros na garagem da casa da família, em Pendotiba, Niterói. Flordelis disse se tratar de um assalto, mas as câmeras de segurança do imóvel não registraram a entrada de ninguém estranho.

    No velório de Anderson, Flávio, um dos filhos biológicos da pastora, foi preso, apontado como o autor dos disparos. Poucas horas depois, Lucas, filho adotivo do casal, também foi detido, suspeito de ter fornecido a arma do crime ao irmão.

    Lucas negou aos investigadores a participação no crime, mas após um tempo de detenção, escreveu uma carta, por meio da qual assumia responsabilidade pelo assassinato. Pouco tempo depois, ele negou autoria da carta e disse que só havia copiado um documento escrito pela própria Flordelis.

    A investigação

    Suspeitos de envolvimento no crime chegam à delegacia
    Operação da Polícia Civil mirou pessoas relacionadas à família de Flordelis
    Foto: Divulgação – 24.ago.2020 / DHNSGI

    Nesta semana, a pastora foi indiciada, suspeita de ser a mandante do assassinato. Uma operação da Polícia Civil, chamada de Lucas 12, prendeu nove pessoas ligadas à família — dentre esses, seis filhos e uma neta de Flordelis.

    Segundo as investigações, a deputada já vinha tentando matar o marido envenenado desde 2018, colocando arsênico na comida dele. O motivo seria o controle do dinheiro do Ministério Flordelis e relações de poder dentro da família.

    Em uma troca de mensagens com um de seus filhos, a deputada disse que o assassinato de Anderson seria a única saída. “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus”, escreveu.

    O diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa do Rio de Janeiro, delegado Antônio Ricardo, disse que o núcleo familiar de Flordelis formava uma organização criminosa.

    Nesta terça-feira (25), Flordelis entregou seu passaporte ao Ministério Público e está proibida de sair do país. Para ir à Brasília, precisa comunicar com antecedência. Ela também não pode entrar em contato com testemunhas ou com os outros réus do caso.

    No mesmo dia, seu partido, o PSD, suspendeu a filiação da deputada. 

    Seu advogado, Anderson Rollemberg, afirmou que ela é inocente e que a investigação está fazendo uma “ginástica” para enquadrá-la como mandante.

    “Ela não tinha ingerência sobre o dinheiro. Ela é cantora gospel, líder religiosa e parlamentar. A questão dela sempre foi dar o melhor para necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Para a defesa, está havendo um grande equívoco no desfecho da investigação”, disse.

    “Os elementos não são suficientes para que seja denunciada. Existe uma ilação, uma ginástica muito grande pra colocar a deputada como mandante. A defesa está pasma com o que viu”, afirmou o advogado.

    Foro especial

    Líderes da Câmara devem se reunir na próxima semana para debater o que poderá ser feito com o mandato da deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de ser mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson Carmo.

    “Estamos aguardando o recebimento da documentação pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. E, na próxima semana, vou fazer reunião da mesa e depois uma reunião com os líderes, vamos discutir o assunto e ver de que forma a Câmara quer encaminhar esse assunto”, afirmou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), nesta quarta-feira, 26.

    “Vou reunir a Mesa, vou reunir os líderes e vamos decidir em conjunto. Eu não posso decidir tudo sozinho, não é o melhor caminho”, disse.

    O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, recebeu nesta quarta-feira (26) um ofício assinado por 27 senadores de 11 partidos que cobram a inclusão em pauta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com o foro privilegiado para autoridades. Pelo texto, apenas os presidentes da República, da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal teriam a direto à prerrogativa.

    No ofício, os parlamentares citam o indiciamento de Flordelis. Ré na Justiça, ela não pode ser presa por ter imunidade parlamentar, que prevê prisão apenas em casos de flagrante de crimes inafiançáveis.

    Aprovada no Senado em 2017, a PEC está pronta para ser votada no plenário da Câmara dos Deputados desde o fim de 2018 após passar pelas Comissões de Constituição e Justiça e Especial.  

    Veja quem assinou o pedido de inclusão em pauta da PEC 333 de 2017:

    Senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) 
    Senador Álvaro Dias (PODEMOS-PR) 
    Senador Alessandro Vieira (CIDADANIA-SE) 
    Senador Plínio Valério (PSDB-AM) 
    Senador Major Olímpio (PSL-SP) 
    Senador Fabiano Contarato (REDE-ES) 
    Senador Flávio Arns (REDE-PR) 
    Senador Eduardo Girão (PODEMOS- CE) 
    Senador Jorge Kajuru (CIDADANIA-GO) 
    Senador Paulo Paim (PT-RS) 
    Senador Styvenson Valentim (PODEMOS-RN) 
    Senador Oriovisto Guimarães (PODEMOS-PR)
    Senador Marcos do Val (PODEMOS-ES) 
    Senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) 
    Senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL) 
    Senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) 
    Senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ) 
    Senadora Leila Barros (PSB-DF) 
    Senador Jorginho Mello (PL-SC) 
    Senadora Eliziane Gama (CIDADANIA-MA) 
    Senador Reguffe (PODEMOS-DF) 
    Senador Luiz do Carmo (MDB-GO) 
    Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) 
    Senador Esperidião Amin (PP-SC) 
    Senador Carlos Viana (PSD-MG) 
    Senador Dário Berger (MDB-SC)
    Senador Lasier Martins (PODEMOS-RS)

    (Com informações de Jéssica Otoboni, Jairo Nascimento, Thayana Nascimento, Leandro Resende e Daniel Adjuto da CNN em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília)

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