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    Exclusivo: Lava Jato queria prender Gilmar Mendes e Toffoli, diz hacker à CNN

    Walter Delgatti Neto ficou conhecido como hacker de Araraquara (SP), após ter divulgado conversas privadas de procuradores com ex-juiz Sergio Moro

    Caio Junqueira, da CNN, em São Paulo e Adriana Farias, colaboração para a CNN

     

    O hacker Walter Delgatti Neto afirmou, em entrevista exclusiva ao CNN Séries Originais, que a Operação Lava Jato tinha por objetivo prender os ministros do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli e Gilmar Mendes.  

    “Eles queriam. Eu não acho, eles queriam. Inclusive Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Eles tentavam de tudo pra conseguir chegar ao Gilmar Mendes e ao Toffoli, eles tentaram falar que o Toffoli tentou reformar o apartamento e queria que a OAS delatasse o Toffoli, eles quebraram o sigilo do Gilmar Mendes na Suíça, do cartão de crédito, da conta bancária dele, eles odiavam o Gilmar Mendes, falavam mal do Gilmar Mendes o tempo todo.”

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    Delgatti ficou conhecido como o hacker de Araraquara (SP), após ter divulgado conversas privadas de procuradores com o ex-juiz Sergio Moro, em meados do ano passado. A entrevista exclusiva para o programa CNN Séries Originais foi exibida neste domingo (20). 

    Delgatti disse também que, pelas conversas dos ministros do Supremo, era possível concluir que alguns deles queriam ajudar a operação. 

    “O [ministro do STF Luís Roberto] Barroso, eles tinham um laço bem próximo. O Barroso e o Deltan [Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato] conversavam bastante, (sobre) vida pessoal. Inclusive o Barroso, em conversas, auxiliava o que colocar na peça, o que falar. Um juiz auxiliando, também, o que deveria fazer um procurador.”

    Conversas eram apagadas

    Delgatti relata que acessou o celular de quatro ministros do STF. No de Alexandre de Moraes não havia  mensagens. 

    “Ele apagava tudo. Tive acesso também ao e-mail dele, tinha, inclusive, o livro novo dele. Eu apenas baixei o livro para ler, mas…. Tinha conversas em e-mail, mas era entre eles [ministros do STF], era conversa de processo, que não tinha interesse. Era conversa formal. Acredito que era, inclusive, o assessor dele que mandava o e-mail, não ele. Já quanto ao Telegram, não tinha conversa nenhuma, ele apagava todas.”

    O hacker contou também que acessou, na mesma madrugada, os celulares do presidente Jair Bolsonaro, do deputado federal Eduardo Bolsonaro e do vereador pelo Rio Carlos Bolsonaro. 

    Disse que pouco viu ali, uma vez que eles direcionavam as conversas para um chat privado. 

    “As conversas deles eram apagadas. Eles apenas diziam que era para ir para o chat secreto, pois o chat secreto. Uma pessoa que acessa a sua conta não consegue acessar a conversa do chat secreto.”

    Sem pagamento por mensagens

    O hacker afirmou que ninguém pagou pelas mensagens capturadas. 

    “Não, ninguém pagou. No começo, eu até pensei [em ganhar dinheiro com as mensagens], para ser bem sincero. Mas comecei a entender o que eu estava fazendo. A Manuela [d’Ávila, ex-deputada federal], assim que eu comecei a conversa com ela, ela perguntou: ‘o que você quer por isso? Quanto você quer por isso?’ Eu disse que não queria nada em troca e que ia enviar, e queria apenas justiça. Foi quando ela me passou o contato do Glenn [Greenwald, jornalista americano fundador do site The Intercept, que divulgou trechos das conversas hackeadas].” 

    Delgatti diz que Glenn nunca ofereceu dinheiro pelas mensagens. 

    Ele conta ainda que chegou ao jornalista Gleen Greenwald por meio de Manuela d’Ávila. 

    “Eu enviei um áudio da conversa que é a voz de um procurador falando coisas irregulares. Ela ouviu esse áudio, foi quando ela teve interesse. Lembro que ela não respondia. Enviei o áudio e fui tomar café da manhã. Quando eu voltei, tinha 25 ligações dela. Desesperada.”

    Famosos hackeados

    Depois do primeiro acesso, o hacker conta ter ficado obcecado em acessar a todo instante as mensagens. 

    “Essa época eu estava sem dormir, eu estava empolgado com tudo e fiquei cego, comecei a enxergar somente isso. Eu pensava nisso, eu sonhava com isso, eu acordava pensando nisso, eu fazia isso, eu ia para a aula com o celular, com o Telegram conectado, lia conversas.” 

    Relata ainda ter acessado celulares de personalidades. “Que eu me recordo: Neymar, William Bonner, Ana Hickman, Luciana Gimenez. Muitos eu não me lembro agora.”

    Foco não era Lava Jato

    O hacker afirma também que o foco do hackeamento, no começo, nunca foi a Lava Jato. 

    “Eu não tinha como foco a Lava Jato. Se eu tivesse, teria conseguido antes. A Lava Jato seria o último lugar que eu pensei que ia encontrar irregularidades. Eu pensava: ‘Aqui tem, mas a Lava Jato não vai ter!” 

    Após acessar os celulares dos investigadores, conta sua frustração: “Quando eu tive acesso, acabei me decepcionando, vi que o crime estava sendo cometido entre eles.”

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    Para Delgatti, o foco da operação Lava Jato sempre foi o ex-presidente Lula. 

    “O foco era o Lula, mas os empresários, também, e outros políticos, ou diretores da Petrobras que eles mantinham presos até a pessoa falar. Exemplo: o Léo Pinheiro. Eles falavam: ‘Se ele enviar, fizer a delação e não falar do Lula, não será aceita’. Tinha conversa assim.”

    Nega, contudo, interesse político na divulgação. “No começo não [tinha interesse político]. Quando eu vi o que fizeram com o ex-presidente Lula, que eu vi que era uma injustiça e entendi que ele estava preso como eu fiquei preso em Araraquara, eu pensei. Exemplo: o fato que o prendeu não existe. Foi a mesma coisa que fizeram comigo.”

    Pressão para delatar

    Após sua prisão, Delgatti detalha que sofreu pressão para fazer delação premiada. 

    “Fui pressionado o tempo todo. Desde o primeiro dia. O delegado falava: ‘Olha, faça uma delação, conte a verdade, vamos esclarecer isso que eu te solto’. Eles davam a entender que a delação, caso eu fizesse, só seria homologada se eu falasse do Glenn. Todas as vezes, eles queriam que eu falasse do Glenn.”

    Crises na vida pessoal

    Sobre sua vida pessoal, Delgatti conta ter sofrido muito por ter sido abandonado pela mãe. 

    “Eles [os pais] se separaram e eu fui morar com a minha avó materna. Essa briga de quem fica, quem não fica, como se fosse uma peteca, e ela [a mãe] acabou me colocando na casa da minha vó, no portão da minha avó, com mala e tudo, com roupa, e eu fiquei lá. Acabei ficando lá por compaixão. Com o tempo e depois, com 19, 20 anos, indo em psicólogos e psiquiatras, eles disseram que abalou muito, que afetou muito a minha personalidade. Eu não converso com a minha mãe, até hoje, eu não consigo conversar com ela. Eu vejo ela e saio correndo. Me dá um pânico e eu saio correndo, eu não posso ver ela, seria como se ela fosse um inimigo gigantesco.”

    Sobre sua rotina, ele diz que toma remédios porque tem crises de pânico e transtorno de déficit de atenção. 

    “Começo a ler, eu li uma página, a segunda, na terceira eu esqueci a primeira. Com a medicação, eu consigo resolver isso. Fico muito hiperativo, eu não consigo falar, eu penso muito mais rápido do que eu falo, eu travo na hora de falar. Mexo a perna, o braço, e não consigo ficar parado. Tem tudo isso. Fora isso, tem a questão do pânico.”

    Nota de Barroso

    A assessoria de Barroso enviou uma nota sobre as falas do hacker. “O ministro Luís Roberto Barroso nunca teve o aplicativo “Telegram” e, consequentemente, jamais conversou com alguém utilizando essa plataforma. O Ministro jamais prestou qualquer auxílio a procurador da Lava Jato sobre o que colocar em alguma peça. Mais que isso, ele nunca sequer conversou com qualquer procurador da Lava Jato sobre mérito de processos da competência deles. Trata-se de informação falsa.”

    Nota de Bombardi

    Segundo o promotor Marcel Zanin Bombardi, o hacker aproveitou a entrevista para continuar divulgando uma versão fantasiosa. Bombardi ainda diz “que a perícia da Polícia Federal comprovou que a infração cometida contra ele foi posterior aos crimes perpetrados contra ministros do Supremo Tribunal Federal e agentes públicos envolvidos na Operação Lava Jato.”

    O promotor completa dizendo que as acusações de que ele faz parte de um susposto conluio para obter vantagens financeiras são “levianas e que não merecem créditos” e que não há nenhuma prova. Segundo Bombardi, isso se trata de um “disparate, que será corrigido por meio de medidas no âmbito judicial, a fim de que o hacker responda pelo crime de calúnia.”