Ex-diretor da PRF pediu para Bolsonaro receber nos EUA representante de empresa investigada por fraude em licitação
Captura de tela do celular de Vasques enviado a CPMI do 8 de janeiro e obtidos pela CNN mostra que Silvinei Vasques tentou organizar o encontro entre Bolsonaro e Maurício Junot de Maria
O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques pediu para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontrar e “dar um abraço” no representante da Combat Armor no Brasil, empresa investigada por fraudar licitações na venda de blindados para a PRF.
A Combat é uma empresa com sede nos EUA e pertence a Daniel Beck, apoiador do ex-presidente Donald Trump. No Brasil, ela é administrada pelo empresário Maurício Junot de Maria, o representante que Vasques queria que Bolsonaro recebesse em sua casa.
A Combat Armor Defense vendeu por R$ 30 milhões, somente entre 2020 e 2021, blindados “caveirões” e “caveirinhas” para a PRF.
Uma captura de tela do celular de Vasques enviado a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de janeiro e obtidos pela CNN mostra que o ex-chefe da PRF tentou organizar o encontro entre Bolsonaro e Maurício Junot de Maria, enquanto o ex-presidente estava nos Estados Unidos, em fevereiro de 2023.
A imagem faz parte dos conteúdos obtidos pela CPMI na quebra dos sigilos telemáticos de Vasques.
O print mostra somente a mensagem de Vasques enviada para o contato “Pr Jair Bolsonaro Cel Novo 2023 Fevereiro”, mas não mostra a resposta.
“Bom dia Presidente, parabéns pela palestra. O Senhor Maurício da Combat Armor Defense liga diariamente. Ele quer dar um abraço no Senhor. Sempre muito preocupado com sua segurança. Perguntou se possível recebê-lo por breves minutos no dia 03/02 em Miami, na data que ocorrerá o evento Power Of the people”, escreveu Vasques.
“Ele é um grande líder empresarial e Mórmon no Brasil e nos EUA. Obrigado e forte abraço ao Senhor!!!”, completou.
No dia 3 de fevereiro de 2023, Bolsonaro estava nos Estados Unidos e participou do evento The Power of The People, em Miami. Não há registros que provem se ele encontrou o empresário.
Procurado, o ex-presidente não se manifestou até a publicação desta reportagem.
O advogado Eduardo Pedro Nostrani Simão, que defende Silvinei, disse que a “defesa não conhece a veracidade dessa notícia” e que seu cliente não se envolveu em nada ilegal.
“De outra banda, existente o fato não caracterizaria desvio legal ou moral. Registrou, por fim, que a divulgação de fatos irrelevantes demonstra à sociedade que Silvinei Vasques nunca se envolveu em nenhuma ilegalidade.”
Investigada por fraude
Desde junho deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) investiga a compra de veículos blindados da empresa Combat Armor pela Polícia Rodoviária Federal. O MPF apura se houve fraude nos processos de licitação e se havia necessidade da compra de veículos blindados para a PRF.
A PRF não tem função constitucional de fazer operações ostensivas, mas durante o governo Bolsonaro esse tipo de ação se tornou comum.
Dos 29 veículos blindados que a empresa forneceu para a Superintendência Regional do Rio, nove estão parados. Cinco blindados são de operações especiais, conhecidos como “caveirões” – que chegaram a custar quase R$ 1 milhão cada. Todos têm o símbolo da empresa fornecedora.
Procurada, a empresa Combat Armor não se manifestou.