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    “Eu vou te matar e vou comer seu coração”: escritora conta o que Pedrinho Matador dizia ao cometer crimes

    Assassino em série foi morto e, posteriormente, degolado com uma faca de cozinha no último dia 5, aos 69 anos

    Retrato do detendo Pedrinho Matador na penitenciaria 2 de Franco da Rocha, na Grande São Paulo
    Retrato do detendo Pedrinho Matador na penitenciaria 2 de Franco da Rocha, na Grande São Paulo 08/10/2004JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:208276

    Douglas PortoLucas Schroederda CNN

    em São Paulo

    “Eu vou te matar e vou comer seu coração”. Era assim que Pedrinho Matador anunciava seus crimes, segundo conta em entrevista à CNN a criminóloga Ilana Casoy, escritora dos livros “Serial Killers – Louco ou Cruel?” (2002), “Serial Killers – Made in Brazil” (2004), “Casos de Família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni” (2016) e “Bom dia, Verônica” (2020).

    Pedro Rodrigues Filho foi assassinado, aos 69 anos, na manhã do último domingo (5), em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Conforme o boletim de ocorrência da Polícia Civil, ele foi morto a tiros e, depois de cair, foi degolado com uma faca de cozinha.

    Com 71 crimes listados em sua ficha criminal, ele declarava que fez mais de 100 vítimas. O serial killer ganhou notoriedade nos anos 1980, quando foi condenado a mais de 300 anos de prisão.

    Posteriormente, a pena foi reduzida após o Código Penal Brasileiro não permitir que alguém cumpra pena privativa de liberdade por mais de 40 anos. O assassino foi solto em 2018.

    Casoy conta que a maioria dos crimes de Pedrinho foi realizada dentro do sistema carcerário. “Quando ele vai preso, em seu primeiro dia na penitenciária, foi ‘servido numa bandeja’ para o cara mais importante ali, porque ele era uma carne nova no pedaço. Assim, começa a luta dele também pela sobrevivência, para impor respeito nesse meio”.

    Quanto mais ele se transformou lenda, mais alimentou a lenda, que é uma maneira de sobreviver.

    Ilana Casoy, sobre Pedrinho Matador

    Na Casa de Custódia de Taubaté, Pedrinho ficou por 16 anos em isolamento. “Isso seria, nos moldes de hoje, totalmente contra a lei. Não pode fazer isso, pegar uma pessoa na cadeia onde você quiser isolar. Sem contato humano que é o que aconteceu com ele”, explica a criminóloga.

    “Então, veja, eu não estou defendendo, nem dizendo que isso é a causa. Mas não ajudou em nada em uma progressão, uma socialização, ver a vida de outro jeito. Ele só continua vendo a vida cada vez pior”, continua.

    Conforme relato de Pedrinho em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em 2004, seu primeiro crime foi contra um primo distante, após jogá-lo em um moedor de cana por ele ter “dado um soco no olho e uns pontapés, porque eu peguei o cavalo dele emprestado para dar um rolê”.

    Suas primeiras mortes orquestradas aconteceram aos 11 anos, quando executou o traficante Jorge Galvão, além de seu irmão e seu cunhado, com uma arma de fogo.

    Ao ser questionado pela escritora sobre ter matado seu pai, o serial killer ponderou: “Doutora, mas deixa quieto, eu mataria se pudesse”.

    Casoy conta que o objetivo dele não era se tornar um ser humano melhor, mas sobreviver, sem remorso.

    Pedrinho ria e banalizava a violência quando se encontraram: “Por que a senhora fica tão impressionada com matar e morrer? Matar e morrer faz parte da vida, na minha família, muita gente matou, muita gente morreu.”

    Como funciona a mente de um assassino em série?

    Alguns assassinos em série ficaram famosos por repetir um padrão de comportamento. O Maníaco do Parque, preso em 1998, foi condenado por estupro e assassinato de nove mulheres.

    Chico Picadinho esquartejava suas vítimas. Ele foi preso em 1966 pela primeira vez e posteriormente em 1976. E segue sob custódia da Justiça.

    O Bandido da Luz Vermelha foi condenado por quatro assassinatos. Seus crimes consistiam na invasão de mansões para roubo, em que utilizava um lenço e uma lanterna vermelha. Após cumprir 30 anos de prisão, ficou livre em 1997 e morreu um ano depois, numa briga de bar.

    O Vampiro de Niterói é acusado de ter matado 14 garotos, dos quais confessou 13 assassinatos. Além de matar, ele abusava sexualmente de suas vítimas.

    No fim do ano passado, o termo serial killer tomou conta das redes sociais a partir do sucesso da série “Dahmer: Um Canibal Americano”, da Netflix, que conta a história de Jeffrey Dahmer, assassino que foi morto em 1994, nos Estados Unidos.

    A obra analisa os crimes cometidos pelo jovem e as circunstâncias que permitiram que ele continuasse agindo impunemente ao longo de mais de uma década.

    Questionada pela CNN sobre como funciona a mente de um assassino em série, a psicanalista Ana Cristina Banzato, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, explica que eles apresentam um transtorno grave: a psicopatia.

    “Seu comportamento é antissocial, não sente culpa nem arrependimento, não consegue se vincular afetivamente e é incapaz de amar. Seu interesse gira em torno de seu benefício, não consegue se colocar no lugar do outro e nem aprender com suas experiências, está sempre buscando seu próprio prazer. Todos esses traços de personalidade fazem com que cometam crimes com frieza sem sentir emoções”, diz.

    “Não há apenas sede por sangue, ou um sentimento intenso de ódio, o psicopata é um perverso, portanto sente prazer na hora que está cometendo um crime, sente prazer com o sofrimento do outro”, finaliza.

    Ilana, por sua vez, pondera. A criminóloga cita que os casos possuem peculiaridades únicas, com fatores biológicos, sociais e biológicos podendo levar o serial killer a agir.

    Sobre Pedrinho, a escritora revela que ele diz nunca ter matado uma mulher. “Mulher é uma coisa sagrada, é intocado, porque todo histórico com a mãe dele. Agora, outros são assassinos de quê? De mulheres.”

    “Porque o Pedrinho tinha o código de ética que montou, que é próprio. Ele era um menino que foi criado por uma mãe muito religiosa, com muitos castigos, ele nunca pode assistir televisão, ele adorava ficar sozinho, sempre teve uma vida muito isolada. Esse isolamento é uma das causas do código que ele vai construir dele de ética, que não é de mais ninguém, só dele.”