Estudo da Secretaria Estadual de Saúde do RJ sobre pandemia é alvo de críticas
Nota técnica da pasta aponta que 98% da população fluminense está com baixo risco de contrair coronavírus
Especialistas da saúde criticaram um estudo divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) sobre indicadores da pandemia. A nota técnica concluiu que 98% da população fluminense está com baixo risco de contrair Covid-19.
O estudo revelou que apenas a região Centro-Sul, com população estimada em menos de 2% do total do estado fluminense, está no estágio da bandeira laranja – ou seja – de pessoas com risco moderado de contrair o coronavírus.
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À CNN, médicos disseram que avaliação vai na contramão das informações divulgadas pela SES-RJ. Para o infectologista com formação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alberto Chebabo, o risco de a população contrair Covid-19 na Região Metropolitana, onde está a capital, e na populosa cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, não é baixo.
Segundo ele, pesquisadores da UFRJ identificaram um risco ainda moderado de transmissão. “Sinceramente não sei de onde eles tiram esses dados ou essas conclusões”, concluiu.
O médico e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Mario Dal Poz diz que o risco de contágio ainda é muito presente, particularmente no transporte coletivo como ônibus, trem e metrô. Dal Poz lembrou que nesses veículos estão alguns dos maiores focos de aglomeração. “Todos têm risco. Uns mais e outros menos. Enquanto o vírus estiver circulando todos têm risco real de ter coronavírus. Alguns grupos têm mais risco que outros, mas todos têm risco”, ressaltou.
Mesmo assim, Dal Poz reforçou que o papel das autoridades sanitárias é de manter a vigilância epidemiológica, procurando identificar os casos, testar os contatos e acompanhar os possíveis contaminados, ao mesmo tempo encaminhar para os serviços de saúde os casos comprovadamente positivos. Para ele, esse trabalho vai ser importante para o retorno das aulas no estado do Rio.
A nota técnica divulgada pela SES-RJ apontou que com baixo risco da doença, estão as regiões que concentram mais de 98% da população fluminense: a capital e as outras cidades da Região Metropolitana, a Região Norte, as áreas litorâneas e serranas do território fluminense.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o Rio de Janeiro teve, como um todo, diminuição de 18% no número de óbitos e queda de 15% no número de casos, indicadores que, associados à taxa de ocupação dos leitos, mantém a classificação do estado na bandeira amarela, de risco baixo.
Estudo passado
Divulgada em 17 de setembro, a atualização anterior do Mapa de Risco apontava que 94% da população estava em áreas de baixo risco, e só a Região Norte, que concentra 5,5% da população fluminense, com risco moderado, em bandeira laranja.
Na Região Metropolitana, mais 40 leitos
A subsecretária extraordinária de Covid-19, Flávia Barbosa, explicou que, considerando a heterogeneidade da curva epidêmica em todo o estado, é necessária uma análise regional para a tomada de decisão sobre medidas de prevenção.
“A Região Metropolitana I se mantém em risco baixo para Covid-19, com uma variação negativa de óbitos e internações, quando comparada a Semana Epidemiológica 38 com a 36. Cabe ressaltar que o agravamento da pandemia na Região Metropolitana I, apontado na publicação do Boletim 04, não se manteve na avaliação mais recente graças a ampliação de mais de 40 leitos, o que permitiu que a região permanecesse em um nível de risco baixo para taxa de ocupação”.
Flávia ressalta, ainda, que a Covid-19 continua sendo um problema de saúde pública, principalmente pela possibilidade de ocorrerem casos graves em população de maior risco.
“É extremamente importante reforçar as medidas de distanciamento social, o uso de máscara, a lavagem das mãos e o uso de álcool gel”, afirma.
Em nota, SES-RJ defende o estudo:
O Mapa de Risco da Covid-19 leva em conta critérios de classificação de risco estabelecidos pela Opas (Organização Pan Americana de Saúde) e pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). A classificação em bandeiras é feita com base em seis critérios: taxa de positividade de pacientes testados para coronavírus; variação de casos por SRAG, variação de óbitos por SRAG; taxa de ocupação de leitos de UTI destinados a SRAG, taxa de ocupação de leitos clínicos destinados a SRAG, e previsão de esgotamento de leitos de UTI para SRAG. A partir disso é feita uma tabela de pontuação para indicar a bandeira de cada região do estado. As cores das bandeiras e os riscos indicados variam entre roxa (risco muito alto), vermelha (risco alto), laranja (risco moderado), amarela (risco baixo) e verde (risco muito baixo). Cada nível de risco representa determinado conjunto de recomendações de isolamento social.