Entenda por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul
Fenômeno inusitado é causado pela interação de frentes frias com zona de alta pressão no centro do país, explica especialista
O Rio Grande do Sul está enfrentando uma situação inusitada de temporais e chuvas intensas, segundo explicou o analista de clima e meio ambiente da CNN, Pedro Cortês. O estado está sendo “atacado” por frentes frias vindas do sul do continente, mas que não conseguem progredir devido a uma zona de alta pressão no centro do Brasil, funcionando como uma “muralha”.
Essa mesma zona de alta pressão desvia a umidade do Oceano Atlântico para o Rio Grande do Sul pelo leste e pela Amazônia, entrando pelo oeste. Assim, o estado recebe umidade de todas as direções, enquanto a frente fria atual não consegue escapar.
“É o que eu chamaria de tempestade perfeita, porque o Rio Grande do Sul está sendo afetado pelas frentes frias que vêm do sul do continente, mas essas frentes elas não conseguem progredir por conta de uma zona de alta pressão no centro do Brasil”, afirmou Cortês.
Simulações e previsões
O especialista apresentou simulações do modelo europeu de previsão do tempo, mostrando o acumulado de chuvas previsto desde a véspera até a próxima sexta-feira (12). As imagens indicam grandes volumes concentrados no Rio Grande do Sul, com zonas vermelhas e roxas indicando a intensidade das precipitações.
Enquanto isso, a região central do país permanece sem chuvas durante toda a semana, com altas temperaturas de mais de 30 °C no Centro-Oeste. Segundo Cortês, essa massa de ar quente e seco deve continuar pelo menos até meados de maio.
Mortes no RS
Balanço divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul no início da noite desta sexta-feira (12) mostra que o número de mortos em razão das fortes chuvas que atingem o estado desde o início da semana subiu para 39. Ao todo, 265 municípios foram afetados, mais da metade do estado gaúcho.
Além dos óbitos, o estado contabiliza 74 feridos, e outros 68 desaparecidos. Ao todo, 351.639 pessoas foram afetadas pelas tempestades em território gaúcho, sendo que 24.080 estão desalojadas e 8.168 estão em abrigos.
Veja onde ocorreram as mortes:
- Canela (2)
- Candelária (1)
- Caxias do Sul (1)
- Bento Gonçalves (1)
- Boa Vista do Sul (2)
- Paverama (2)
- Pantano Grande (1)
- Pinhal Grande (1)
- Putinga (1)
- Gramado (4)
- Itaara (1)
- Encantado (1)
- Salvador do Sul (2)
- Serafina Corrêa (2)
- Segredo (1)
- Santa Maria (2)
- Santa Cruz do Sul (4)
- São João do Polêsine (1)
- Silveira Martins (1)
- Vera Cruz (1)
- Taquara (2)
- São Vendelino (2)
- Três Coroas (3)
Dificuldades nos resgates
As equipes de socorro enfrentam obstáculos para chegar às regiões mais afetadas. Mais de 100 trechos de rodovias estaduais e federais estão bloqueados, dificultando o acesso terrestre. Resgates estão sendo realizados por barcos e via aérea, quando possível.
As autoridades trabalham para orientar a população a buscar refúgios, seja em locais elevados ou com parentes e amigos. A previsão é de que os níveis continuem subindo nas próximas horas, agravando ainda mais a situação.
Interdição de pontes
O governo federal interditou, nesta sexta-feira (3), as pontes sobre o Rio Guaíba, em Porto Alegre, após o volume de água superar 4,6 metros acima do nível normal. O trânsito no local só será permitido para ambulâncias e veículos que atuam para o resgate de vítimas.
À CNN, o ministro dos Transportes, Renan Filho, disse que o bloqueio foi feito devido à pressão da água sobre as pilastras que sustentam a ponte. Além disso, o trânsito de veículo poderia aumentar ainda mais a pressão sobre a estrutura.
“Cremos que as pilastras vão sustentar a pressão, mas é uma medida de segurança, já que o nível da água se aproxima do recorde de 1941”, disse o ministro.
Rompimento de barragens
A barragem de Bugres, na cidade de Canela, na Serra Gaúcha, está com risco de ruptura iminente, exigindo providências para preservar vidas, segundo boletim divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul.
A barragem 14 de julho, em Cotiporã e Bento Gonçalves, também está ao nível de Emergência, com risco de ruptura iminente. A barragem é monitorada pela ANEEL e pelo ONS, ela colapsou na tarde desta quinta-feira (2) em razão das fortes chuvas que atingem o estado desde o início da semana e a situação segue inalterada até a tarde desta sexta-feira.
Outras duas barragens monitoradas pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) também estão com risco de ruptura iminente. São elas: Barragem do Arroio Barracão, em Bento Gonçalves, houve erosão da margem direita da barragem e 50 famílias estão sendo retiradas, e Barragem Saturnino de Brito, em São Martinho da Serra, com necessidade de evacuação da população potencialmente atingida.