Entenda os impactos do recorde de queimadas no Pantanal nos animais da região
Além de causar ferimentos e morte de animais, fogo desequilibra fauna de um dos biomas mais ricos do país
Além de danos à vegetação, o recorde de incêndios no Pantanal registrado no mês de setembro causaram prejuízos sem precedentes à fauna da região. Segundo a Organização Não Governamental (ONG) S.O.S Pantanal, os efeitos diretos do fogo para os animais que habitam a região são as queimaduras, intoxicações e mortes. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 16.201 focos de incêndio até o dia 23 de setembro de 2020, o maior valor desde o início do registro.
De acordo com dados da Agência de Notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Pantanal existem aproximadamente 130 espécies de mamíferos, 80 de répteis, 460 de aves, 30 espécies de anfíbios e 260 de peixes. Exemplar mais famoso do Pantanal, a onça-pintada sente os efeitos do fogo ao lado de antas, veados, jacarés, tucanos, tuiuiús, cobras e araras.
“Temos visto indivíduos mortos pela ação do fogo, o que, em anos normais, é muito raro, pois os animais se abrigam em rios ou campos alagados, e até mesmo em florestas, já que estas nem sempre são atingidas pelo fogo”, explicou Danilo Bandini Ribeiro, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e coordenador do Projeto Noleedi (palavra que significa fogo no idioma Kadiwéu, falado por tribos que vivem na fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai).
O professor Geraldo Damasceno, também da UFMS, afirma que a flora local possui boa capacidade de recuperação. Os danos à fauna, entretanto, são mais difíceis de se recuperar.
“Adicionalmente ao fogo temos o desmatamento aumentando significativamente no Pantanal e nos biomas vizinhos, o que diminui a chance do Pantanal ser recolonizado pelas espécies”, afirmou Ribeiro.
Animais de diferentes espécies estão em sofrimento
“A onça, por ser um predador do topo da cadeia alimentar, regula as populações de predadores de menor porte, que, sem as onças, poderiam ter um grande crescimento populacional, diminuindo as populações de presas mais sensíveis e afetando diversas espécies em um efeito cascata”, explica Danilo Ribeiro.
Ele esclarece ainda que os animais menores e de locomoção mais lenta podem ser os principais atingidos. Cobras, largartos, sapos e pequenos roedores são alguns exemplos. Por conta da sua velocidade de locomoção, eles acabam tendo menos chance de escapar das chamas.
Além de alterar o comportamento dos animais, as queimadas ainda podem ter efeitos no equilíbrio ecológico da região. Ribeiro, que estuda o efeito das queimadas nessas populações explica que, a longo prazo, as consequências podem ser mais graves: “Tomando como exemplo a onça-pintada, em eventos normais de fogo, esse animal consegue buscar refúgio em campos alagados, rios e lagoas e dificilmente são atingidos pelas chamas”.
“Nesse ano devido a seca histórica que o Pantanal vem atravessando esses refúgios diminuíram muito, além disso a grande extensão dos incêndios impossibilita a fuga desses animais que acabam feridos ou até mesmo mortos. Isso pode impactar a população das onças no Pantanal que já se encontram ameaçadas e, no pior cenário, aumentar o risco de extinção dessa espécie”, completou o professor.
Outra espécie que também corre riscos é a arara-azul. De acordo com o especialista, a principal população dessa ave no Brasil vive no Pantanal, chegando a 70% dos exemplares vivendo no bioma.
“A arara-azul consome principalmente os frutos do acuri e faz ninhos em ocos da árvore manduvi, porém só em árvores muito grandes e velhas, com mais de 70 anos. E o fogo ocorrendo na época de frutificação do acuri, deixa esta espécie sem alimento e sem lugar para fazer seus ninhos”.
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Um ano atípico
Segundo dados do Inpe, este é o mês de setembro com mais queimadas na história do bioma. Focos de incêndio são localizados na área todos os anos, mas a seca severa que ocorre em 2020, entre outros fatores, provocaram uma devastação inédita.
O Pantanal possui uma vegetação muito rica, e produz ganhos econômicos para o Brasil com pesca, turismo, pecuária e agricultura, e ações voltadas à preservação do bioma são essenciais, apontam os especialistas.
“Se nada for feito em relação ao manejo correto do fogo e a seca desse ano se repetir nos anos seguintes, o risco de extinção destas espécies tende a aumentar pela diminuição das populações que já são pequenas”, concluiu o professor.