Engenheiro florestal diz que medidas não foram tomadas para proteger o Pantanal
Coordenador do ICV diz que a maior parte [das queimadas] acontece em imóveis cadastrados junto ao governo, o que possibilitaria identificar os responsáveis
O engenheiro florestal Vinicius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), afirmou à CNN, nesta quinta-feira (1°), que o Pantanal vive “uma tragédia anunciada” e que há condições de responsabilizar os autores das queimadas, que, para ele, são criminosas.
“A seca já era prevista, tanto pelo Inpe (Instituto Pesquisas Espaciais), quanto pela Nasa, e infelizmente não foram tomadas medidas para se mitigar esse cenário de incêndios. Desde 1998, isso nunca tinha sido visto”, avaliou ele.
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De acordo com o coordenador do ICV, “a maior parte [das queimadas] acontece em imóveis que já estão inscritos no Cadastro Ambiental Rural”. “Então o governo federal já detém as informações dos proprietários, então é possível fazer essa responsabilização”, apontou.
Silgueiro ainda descreveu as dificuldades técnicas e logísticas de combater o fogo em uma região de mata fechada e extremamente seca. “Por isso que é tão importante o emprego do uso de aviões para poder fazer esse combate”, ressaltou.
Por fim, o engenheiro florestal citou os incêndios na Amazônia em 2019 e cobrou medidas mais rígidas por parte dos governantes. “Temos uma ação criminosa bastante evidente e uma sensação de impunidade muito grande, desde o ano passado, que foi muito crítico de incêndios”, recordou.
“E o que se sabe sobre a responsabilização dos criminosos autores do Dia do Fogo, no Pará? Então, entramos em 2020 com essa sensação de impunidade muito grande. A fiscalização é uma excelente ferramenta também de prevenção”, defendeu.
Esclarecimentos
Convidado a prestar esclarecimentos sobre as ações do governo federal no enfrentamento aos incêndios do Pantanal, o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, afirmou à CNN que pretende aceitar o convite aprovado pelos senadores na quarta-feira (30).
A audiência será na Comissão Temporária Externa do Senado que acompanha a situação. O procurador-Geral da República, Augusto Aras, também será convidado.
Salles confirmou à CNN que vai viajar com os senadores do colegiado, no sábado (3), para Corumbá (MS). Lá, o ministro e os parlamentares se encontram com o governador do estado, Reinaldo Azambuja, para averiguar o impacto dos incêndios na região. Em 19 de setembro, parlamentares da comissão e representantes do governo local sobrevoaram locais afetados pelos incêndios e cobraram a participação de Salles e Mourão em uma próxima viagem.
O presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, participou da audiência da comissão externa do Senado e afirmou que o instituto trabalha “no limite do orçamento” e espera que os incêndios de 2020 sirvam como lição para os próximos anos.
(Com informações de Marcos Amorozo, Tainá Farfan, Rudá Moreira e Bruno Silva, da CNN, em Brasília)