Enem ocorre neste domingo com expectativa de ausência recorde
Além da alteração na data, a pandemia da Covid-19 trouxe ao mundo uma nova realidade
A prova do Enem deste ano é diferente de qualquer outro exame. Além da alteração na data, a pandemia da Covid-19 trouxe ao mundo uma nova realidade. As relações mudaram, o contato mudou, a escola fechou e milhares de alunos ficaram sem aula e sem acesso aos conteúdos curriculares.
A diferença social entre estudantes de escolas públicas e privadas foi ainda mais evidenciada. Enquanto alunos de escolas particulares conseguiram o mínimo de contato, por meio de aulas pela internet, uma boa parte dos jovens de escolas públicas ficaram parados.
Para completar, no fim de 2020, poucas semanas antes do exame, o novo coronavírus registrou um expressivo aumento de casos em diversas regiões, além da nova cepa e do colapso na saúde em Manaus, que ficou sem oxigênio nos hospitais.
Neste contexto, hoje, dia 17 de janeiro, quase 6 milhões de inscritos estão convocados para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio.
“Eu acho que teremos aumento nas abstenções. Normalmente, o Enem já tem abstenção alta e, neste ano, será maior, por dois fatores: receio da covid e, também, porque muitos estudantes se acham despreparados em função de não terem tido aulas presenciais em 2020”, explica o professor Wolney Candido de Melo, doutor em educação pela USP.
O professor Dr. João Hilton Sayeg-Siqueira, titular de Língua Portuguesa da PUC-SP entende que a abstenção pode ser pequena. “O interesse dos candidatos a vagas em universidades é grande. Alguns podem não comparecer para se valer da situação, pleiteando alguma vantagem posterior.”
Nas redes sociais, alunos e familiares estão preocupados com as condições de segurança sanitária durante a realização do exame. Este, aliás, foi um dos principais motivos para a solicitação do adiamento do Enem.
“Mesmo seguindo todos os protocolos de segurança, acredito que é impossível evitar a aglomeração. Seja na entrada, ou na própria sala. Na Fuvest do último domingo, houve aglomeração nas entradas mesmo com a ampliação de horário de entrada. O volume de pessoas é muito grande”, argumenta a professora Rita Carolino, mestre em tecnologia e especialista em educação.
O conteúdo da prova também está gerando grande expectativa em boa parte dos candidatos. Com um ano atípico e de explosão da vida digital, as questões e as já conhecidas situações-problema apresentadas na prova devem seguir uma linha diferente dos anos anteriores.
O coordenador pedagógico do colégio Compa, Rudney Soares, acredita que “a maioria das questões tratará da segurança sanitária mundial, de pandemias que ocorreram ao longo do tempo, de fake news, com enfoque nas medidas de combate ao coronavírus em todo mundo e no fato histórico que foi o desenvolvimento de vacinas em curto espaço de tempo.”
Rudney também acredita em novos modelos nas escolas. Segundo o professor, a pandemia mudou completamente as escolas, famílias e os estudantes.
“Ensino híbrido, recursos tecnológicos, livros digitais, reuniões virtuais, simulados e provas a distância: tudo isso fará parte do cotidiano escolar, independentemente da modalidade de ensino e de onde estiver localizado o colégio. A pandemia foi ruim em vários aspectos, mas é inegável que moveu as escolas para outro patamar. A década que se avizinha será a década da Educação, não tenho dúvidas. Jamais se viu a valorização do ensino como a que veremos nos próximos anos.”
Porém, o cenário digital presente nas escolas particulares não faz parte da realidade da maioria dos estudantes brasileiros de escolas públicas.
A professora Rita Carolino lamenta essa situação. “Minha expectativa é de uma prova que, infelizmente, mais uma vez, traga à tona o abismo que existe entre a educação privada e a educação pública. Os alunos das escolas públicas com menos chance ainda de conseguir uma boa classificação para usar os programas de educação e ingressar no ensino público.”
As transformações ocorridas em 2020 por causa do contexto pandêmico atingiram de forma direta a educação em todo o mundo. No Brasil, que segue buscando melhorias na qualidade de ensino e no rendimento de seus estudantes, ainda mais.
As instituições de ensino não estavam preparadas para uma mudança abrupta de realidade, e os estudantes que vão sentir na pele, ao ingressar no mercado de trabalho, a falta de um ano de estudos e de aquisição de conhecimentos, competências e habilidades.
É difícil e arriscado prever o futuro da educação no país, mas novas profissões e novos comportamentos sociais chegaram e outros ainda estão por vir. Preparar as novas gerações com qualidade é uma obrigação do Governo e uma missão de todas as escolas e, no aspecto pessoal, das famílias.