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    Emissões do Brasil crescem em 2020 com forte influência do desmatamento, diz estudo

    País emitiu 9,5% mais gases estufa no ano passado em relação a 2019, e acumulado de desmatamento na última década foi 176% maior do que pretendia o país

    Giovanna Galvanida CNN , em São Paulo

    Um relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), publicado nesta quinta-feira (28), mostrou que as emissões de gases que colaboram com as mudanças climáticas cresceram, 9,5% em 2020 – um contraste com a queda registrada de 7% ao redor do mundo por conta da pandemia de Covid-19.

    Foram emitidos 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) – medida que congrega em mesmo peso e efeito na atmosfera o gás carbônico e outros poluentes.

    A quantia foi proveniente, principalmente, de questões relacionadas ao uso da terra, categoria na qual o desmatamento é o protagonista.

    “As mudanças de uso da terra emitiram 998 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2020, um aumento de 24% em relação a 2019 (807 milhões)”, afirma o relatório do SEEG, associado à organização Observatório do Clima.

    Com isso, o Brasil chega a COP26, cúpula do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) a ser iniciada no domingo (31), com “o maior nível de emissão do país desde 2006”, afirma o levantamento.

    CNN procurou o Ministério do Meio Ambiente para comentários, mas ainda não recebeu retorno.

    Detalhamento de emissões

    Apenas na Amazônia, a emissão total na categoria de alterações foi de 782 milhões de toneladas de CO2e. “Se a floresta brasileira fosse um país, seria o nono maior emissor do mundo, à frente da Alemanha”, destaca o estudo.

    O segundo bioma com grande impacto pelo uso do solo foi o Cerrado, que emitiu 113 milhões de toneladas de CO2e.

    “A mudança de uso da terra mais uma vez desponta como a principal fonte de emissão do Brasil. 2020 foi o ano que tivemos as maiores emissões do setor em 11 anos, um reflexo claro do desmonte em curso da política ambiental, que tem favorecido a retomada das altas taxas de desmatamento”, criticou Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), organização responsável pelo cálculo das emissões do setor no SEEG.

    Pelo destaque do desmatamento, os estados do Pará (19,3%) e Mato Grosso (11,1%) aparecem como os principais emissores brutos, seguidos de Minas Gerais (7%), São Paulo (6,6%) e Rondônia (5,8%).

    Enquanto o peso maior voltou para o uso da terra, outros setores apresentaram queda ou aumentos de emissões mais tímidos no geral.

    O setor de energia, por exemplo, que era responsável por 18% das emissões em 2019, sofreu uma queda de 4,6% em poluentes liberados. O efeito da pandemia na mobilidade urbana e na geração de eletricidade foram apontados como responsáveis pelo dado.

    Já na agropecuária, as emissões do setor aumentaram 2,5% em relação a 2019, totalizando 577 milhões de toneladas de CO2 equivalente. A produção de bovinos é responsável por 75% dos gases emitidos pelo setor. “Diretamente, sem contar o desmatamento, a pecuária bovina no Brasil emite mais do que países como a Itália e a Argentina”, destacou o estudo.

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    Metas brasileiras

    Com a proximidade da COP26, os olhos de analistas nacionais e internacionais estão voltados às metas estipuladas pelo país em relação às emissões de poluentes e o que deve ser feito para melhorar o cenário.

    Isso porque relatórios recentes da ONU, que devem amparar os debates em Glasgow, apontam cenários pessimistas em relação ao cumprimento dos objetivos estipulados.

    O Acordo de Paris – assinado em 2015 e válido a partir de 2017 no Brasil – estimou um esforço coletivo para limitar o aumento das temperaturas em 1,5ºC ainda neste século. Porém, os compromissos atuais com o corte de emissões de gases de efeito estufa colocam o planeta a caminho de um aumento de temperatura médio de 2,7ºC neste mesmo período, diz o estudo “Emissions Gap Report”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

    O estudo do SEEG analisou metas estipuladas em 2009, com a implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), e as intenções do Brasil com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) – estas últimas firmadas depois da assinatura do Acordo de Paris.

    O país conseguiu se manter no limite proposto há mais de uma década e fechou, em 2020, com 2,047 gigatoneladas de CO2 equivalente até o ano em questão. A “folga” para o cumprimento foi de 1%.

    No entanto, especialistas destacam o fracasso de outra frente: a redução de 80% na taxa de devastação da Amazônia. Nos últimos 10 anos, o desmate acumulado ficou em 10.851 km², 176% maior do que o proposto pela PNMC.

    “Em relação a 2010, quando foi definida a meta da PNMC, as emissões brasileiras aumentaram 23%. Continuamos com o desmatamento dominando nossas emissões brutas e, o pior, com tendência de alta nas emissões no ano em que deveríamos começar a cumprir as metas do Acordo de Paris”, complementou Azevedo.

    O Observatório do Clima, organização que o SEEG faz parte, também criticou a última atualização das NDCs brasileiras, feita em dezembro de 2020 sob a gestão do ex-ministro Ricardo Salles, do meio ambiente.

    Há acusações de que a NDC brasileira foi alvo de uma “manobra contábil”: o governo substituiu a NDC depois de cinco anos, conforme demandado pelo Acordo de Paris, e reafirmou a mesma meta em relação ao ano de 2030: diminuir as emissões relativas a 2005 em em 43%.

    No entanto, um novo cálculo de emissões para o ano-base teria elevado o que elevou o total possível de emissões líquidas para 1,76 bilhão de toneladas em 2025 e 1,6 bilhão em 2030.

    Organizações ambientalistas chegaram a entrar na Justiça para reverter a nova NDC brasileira, já que ela, em tese, atingiria um Acordo ratificado pelo país, que passa a ter valor de lei. A CNN também questionou o Ministério do Meio Ambiente sobre as acusações e aguarda retorno.

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