“É o momento de diversidade”, diz delegado brasileiro candidato a chefe da Interpol
Diretor de cooperação internacional da Polícia Federal e vice-presidente da Interpol nas Américas, Valdecy Urquiza concedeu entrevista à CNN
O delegado de Polícia Federal (PF) Valdecy Urquiza, diretor de cooperação internacional e vice-presidente da Interpol nas Américas, defende que é o momento de a chefia da organização de polícias internacionais ser de um investigador que não seja da Europa ou da América do Norte.
“A organização completa 100 anos e sempre os mesmos cinco países dirigiram a organização. Quatro da Europa e um da América do Norte. Nós entendemos que é o momento de trazer um pouco mais de diversidade, de outras regiões do globo para contribuir na organização”, disse em entrevista à CNN.
O Brasil lançou em setembro a candidatura oficial de Urquiza para secretário-geral da Interpol, que é, na prática, quem comanda a instituição. É a primeira vez que um nome brasileiro é posto na eleição. E o processo é longo.
“É uma candidatura que vem sendo trabalhada pelo Ministério de Relações Exteriores e pelo Ministério da Justiça, além da PF. É um processo longo porque a decisão final em relação ao escolhido é decidida somente no final do ano que vem, durante a assembleia da Interpol. Tem uma etapa muito importante que acontece em junho do ano que vem, quando os países que compõem o comitê executivo da organização (13 países) se reúnem para avaliar dentre todos os candidatos que foram apresentados o nome que o comitê entende que é o mais adequado para liderar a organização nos próximos cinco anos. Uma vez finalizada esse processo, esse nome é levado à assembleia-geral e os 195 países que compõem podem validar ou não aquele nome indicado pelo comitê executivo”, explica o delegado
O investigador detalhou também o que faz o secretário-geral da Interpol: “o modelo da organização copiou um pouco o modelo de uma empresa privada de capital aberto. Então você tem uma assembleia-geral, que é formada pelos países membros da organização, e que cada país tem um voto, e ali são tomadas as decisões estratégicas da organização. Ao mesmo tempo estabeleceu um comitê executivo, que seria o equivalente a um conselho de administração, que dentre as várias funções que exerce tem também a atribuição de indicar o secretário-geral. Esse secretário-geral exerce esse papel operacional a partir da sede em Lyon e tem por missão executar aquelas estratégias que são definidas pelo comitê executivo e pela assembleia geral da organização e cuidar do dia a dia, direcionando os recursos e as atividades. Uma espécie de CEO de uma empresa”.
Cooperação internacional
O objetivo da Interpol, segundo Urquiza, é levar para a cooperação as polícias de todo o mundo. Na Interpol não há um quadro policial, ela depende das polícias dos países para exercer as suas atividades.
“Você não verá um agente da Interpol transitando pelas ruas e exercendo função de polícia em qualquer dos países, eles não têm arma e dependem obrigatoriamente das polícias dos países”, conta.
Cada país tem a sua soberania e as suas leis e agências policiais. É um trabalho de coordenação de atividades.
Difusão vermelha
A Interpol possui 19 bancos de dados e alguns deles estão com uma nomenclatura de cores. A difusora vermelha, a mais conhecida, é um banco de dados onde os países solicitam à organização o nome de pessoas que são procuradas pelo cometimento de algum crime em seus países.
Segundo o delegado Valdecy Urquiza, é preciso ter uma ordem de prisão expedida pelo juiz daquele país e uma vez enviados esses dados para a organização ela incluiu no banco de dados.
Nesse momento, essa informação passa a estar disponível para todos os 195 países que compõem a organização e eles podem atuar de diversas formas com essas informações, realizando cruzamentos com seus próprios bancos de dados com controle migratório, lista de passageiros, na tentativa de localizar uma possível futura extradição.
As difusões amarelas são para pessoas desaparecidas e a difusão negra para restos mortais.
“Nós temos trabalhado muito na campanha e na divulgação da candidatura brasileira ao posto de secretário-geral. Estamos confiantes. Tivemos recentemente o apoio relevante de todos os ministros de interior e justiça dos países que compõem a nossa região. Assinaram uma declaração conjunta, um manifesto a favor da candidatura brasileira, demonstrando que essa candidatura é importante não apenas para o Brasil mas também para toda nossa região como um instrumento efetivo de combate ao crime aqui na América do Sul”, disse à CNN o delegado Urquiza, confiante na campanha.