Denúncias de páginas com teor nazista aumentaram na pandemia
Situação se deve a uma "deterioração do espaço cívico no Brasil", avalia diretor-presidente da Safernet Brasil
O total de denúncias de atividades neonazistas na internet aumentou 60,7% em 2021, quando comparados aos dados de 2020. Foram registradas mais de 14,7 mil denúncias anônimas no período, de acordo com a Safernet, organização não-governamental que mapeia ações de crimes e violações aos direitos humanos no ambiente digital.
Os dados registram um crescimento de casos deste tipo. Em 2019, foram 1.071 casos, o que mostra um crescimento de 1.251% em dois anos. Os números de 2021 são os segundos maiores da série histórica, iniciada em 2006.
Atrás apenas de 2010, os dados referem-se a 894 páginas da internet e resultaram na remoção de 318 do ar, por decisão de autoridades.
Diretor-presidente da Safernet Brasil, Thiago Tavares aponta que o crescimento de páginas com teor nazista e de denúncias se intensificou com o início da pandemia de Covid-19.
“A deterioração do espaço cívico no Brasil nos últimos anos permitiu o afloramento de movimentos de cunho nazista-hitlerista, que se alimentam do ódio e da intolerância muitas vezes amplificada por políticos com mandato eletivo”, afirma.
Advogado da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Ricardo Sidi destaca que a pesquisa confirma uma percepção do conjunto de entidades judaicas brasileiras.
“O estudo confirma a percepção dos departamentos jurídicos, de que os casos de antissemitismo, as manifestações de ódio ao povo judeu, tem aumentado bastante. A doutrina de ódio aos judeus não é nova. Novo é o cenário atual que estamos vendo, de pessoas públicas, repetidamente, ajudando a construir um cenário que enaltece nazistas famosos e que faz gestos supremacistas brancos”, afirma Sidi.
Em dezembro do ano passado, após um alerta do Cyber Lab e da Homeland Secutiry Investigations (HSI), órgãos de governo dos EUA, uma operação do Ministério Público do Rio de Janeiro, com a Polícia Civil, resultou na prisão de um grupo extremista que fazia apologia ao nazismo e disseminava ódio a negros e judeus em redes sociais. Foram realizadas diligências em sete estados.
O assunto voltou a repercutir nas redes sociais depois que o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou instauração de procedimento apuratório para saber se foi cometido eventual crime de apologia ao nazismo pelo deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP) e pelo apresentador Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark, durante a penúltima edição do podcast Flow.
Em rede social, Kim Kataguiri, criticado por ter dito que a criminalização do nazismo na Alemanha foi um erro, disse que seu discurso, foi “absolutamente antinazista, não há nada de criminoso em defender que o nazismo seja repudiado com veemência no campo ideológico para que as atrocidades que conhecemos nunca sejam cometidas novamente”, e criticou a decisão da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Monark, na terça-feira (8), gravou um vídeo pedindo desculpas pelas falas, nas quais defendeu que seria legítima a existência de um partido com ideais nazistas no Brasil e alegou estar alcoolizado durante a transmissão.