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    Defensoria Pública do RJ aponta que 1891 pessoas morreram por falta de leito

    Segundo relatório do órgão, o número equivale a 44,5% dos casos que necessitaram de internação na rede pública do estado por conta da Covid-19

    Cleber Rodrigues, Iuri Corsini e Thayana Araújo, da CNN Rio

    Com as atividades cada vez mais flexíveis no estado do Rio de Janeiro – incluindo a autorização para permanência na areia da praia e de pistas de dança – um levantamento da Defensoria Pública mostra os efeitos da pandemia, em períodos de pico da doença.

    Segundo relatório do órgão, entre abril e agosto deste ano, um período de alta demanda por internações por coronavírus no RJ, 1.891 pacientes com suspeita ou diagnóstico da doença morreram à espera de leito ou no transporte a caminho do hospital. De acordo com a Defensoria Pública do RJ, o número equivale a 44,5% dos casos que necessitaram de internação na rede pública.

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    O levantamento também aponta que 104 pessoas (2,44%) faleceram sem sequer terem sido inseridas no Sistema Estadual de Regulação – ou seja, antes que a transferência fosse efetivamente solicitada à Central Estadual de Regulação.

    De acordo com a defensoria, “não houve a expansão necessária na oferta de leitos, sobretudo de terapia intensiva, em quantitativo suficiente a atender à demanda da Covid-19, a despeito do início da flexibilização”.

    “Quase metade dos cidadãos que precisaram de internação no SUS faleceram sem atendimento digno em uma longa fila de espera, o que é inadmissível em um Estado Democrático de Direito. Com os dados catalogados, conhecidos e expostos, espera-se que o passado sinalize para que medidas sejam tomadas, em definitivo, pelos gestores a fim de que novas vidas não sejam menosprezadas. Não podemos nunca banalizar a morte por desassistência”, afirma a coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva, Thaísa Guerreiro.

    O relatório reúne material colhido por meio de ofícios encaminhados a 214 unidades de saúde espalhadas pelo estado, das quais 111 (ou 51,86%) prestaram informações relativas aos 90 dias imediatamente anteriores ao recebimento do pedido.

    “O estudo é de fundamental importância pois consegue demonstrar, a partir de percentual de amostra significativa, com relevância estatística, o que vem sendo há muito sustentado pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro no bojo de inúmeras atuações judiciais e extrajudiciais: que Estados e Municípios fluminenses, sobretudo o Município do Rio de Janeiro, onde está concentrada a maior parte da população, não se planejaram para um enfrentamento adequado da pandemia”, explica Thaísa Guerreiro.

    Considerando os mais de 546 mil atendimentos feitos nas unidades de saúde no período analisado, a incidência de óbitos por Covid-19 ou outras doenças com sintomas similares equivaleu a 3,19% (4.555 casos). O baixo número de testes não permite saber com precisão o número de casos de contaminação pelo novo coronavírus, pois houve coleta de material para testagem de apenas 22,82% dos pacientes com sintomas.

    “No caso dos pacientes que apresentavam sintomas, a testagem seria crucial para o fortalecimento dos dados, pois indicaria o real comportamento da doença no Estado e a indicação clínica tempestiva para o tratamento adequado. Muitos pacientes, porém, foram a óbito sem a confirmação precisa de seu diagnóstico. Isso que nos faz questionar a adequação do atendimento médico, seja por falta de confirmação no diagnóstico, seja por ausência de acesso aos leitos adequados, e ainda se o número de mortes por Covid-19 não é muito maior que o divulgado”, ressalta a subcoordenadora de Saúde e Tutela Coletiva, Alessandra Nascimento.

    Questionada, a Secretaria de Estado de Saúde informou que não há estudo científico que embase os dados da Defensoria, informando, ainda que “para os resultados serem devidamente considerados, o método deve ser claro para que possa ser reproduzido para publicação em revista científica indexada e revisão por pares”. Eles também disseram estranhar o fato de que a Defensoria Pública não informou à pasta sobre o estudo, mesmo tendo reuniões semanais entre a SES e a Defensoria do Rio.

    A Secretaria Municipal de Saúde disse que o estudo realizado pela Defensoria Pública refere-se somente às unidades do Estado.

    De acordo com o Boletim Coronavírus desta terça-feira (3), o estado do RJ registra 313.089 casos confirmados e 20.651 óbitos por Covid-19.

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