Cúpula da Amazônia tem avanço importante ao reconhecer que “ponto de ruptura” está próximo, diz coordenador do MapBiomas à CNN
Ao atingir "ponto de não-retorno" no desmatamento da Amazônia, ciclo de chuvas na América do Sul pode ser interrompido
Apesar de não ter definido uma meta de desmatamento, a Cúpula da Amazônia teve um avanço importante ao reconhecer que a floresta está próxima do chamado “ponto de não retorno”. É o que afirmou Tasso Azevedo, engenheiro florestal e coordenador do MapBiomas, em entrevista à CNN nesta quarta-feira (9).
A Declaração de Belém, principal documento da Cúpula não incluiu metas únicas para zerar o desmatamento ilegal nos países amazônicos nem informações sobre a exploração de petróleo na região. O encontro, que começou na terça-feira (8), chega ao fim nesta quarta-feira (9).
Azevedo pondera que o ideal seria que os países tivessem firmado um acordo de não-desmatamento da Amazônia, mas celebrou o compromisso de firmar uma aliança internacional para mover recursos científicos em função da preservação da floresta.
“O ideal seria que a gente tivesse tido a meta já definida, mas tem um avanço que acontece no documento que a história dirá que foi muito importante. Ele dá uma sinalização muito clara, que foi acompanhada do estabelecimento do painel intergovernamental de ciência da Amazônia — responsável por dar as indicações científicas, do que a gente precisa fazer para proteger a Amazônia e evitar esse ponto de não-retorno”, defendeu.
O engenheiro florestal explica que a floresta já teve 17% de sua vegetação nativa desmatada — no caso do Brasil, esse dado sobe para 19% — e estabelece a marca dos 20% como ponto de limite.
“Nesse ritmo de desmatamento, em 15 anos a gente passaria o limite dos 20% e entraria na zona de risco. Se o desmatamento da Amazônia chegar a 20, 25%, você pode romper o ciclo das chuvas, regulado pela Amazônia aqui na América do Sul. É logo ali, o esforço para reduzir o desmatamento tem que ser imediato”, afirmou o coordenador do MapBiomas.
Divergências na Declaração
A diplomacia brasileira havia chegado a defender que, na Declaração, os países usassem a meta do Brasil de atingir o desmatamento ilegal zero até 2030.
O documento apenas salienta “a urgência de pactuar metas comuns para 2030 para combater o desmatamento, erradicar e interromper o avanço das atividades de extração ilegal de recursos naturais e promover abordagens de ordenamento territorial e a transição para modelos sustentáveis, tendo como ideal alcançar o desmatamento zero na região”.
No resumo da Declaração, o caso brasileiro é citado como um exemplo. Peru, Colômbia e Venezuela concordaram com o desejo brasileiro, mas a CNN apurou que Guiana, Suriname e Bolívia recusaram a possibilidade de sair do encontro com a meta única.
Veja imagens da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo
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Foto de um macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha) visto na Amazônia colombiana, em abril de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Vista geral do rio Amazonas passando pelo departamento de Amazonas, na Amazônia colombiana. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Vista aérea de região desmatada da Amazônia colombiana, em março de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Cheia do rio Mocoa durante fortes chuvas na Amazônia brasileira, em Mocoa, na Amazônia colombiana, em maio de 2022. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Pegadas humanas deixadas na lama da selva amazônica, na Amazônia colombiana, em abril de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Ponte sob o rio Mocoa durante fortes chuvas na Amazônia colombiana, na cidade de Mocoa, em maio de 2022. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Imagem aérea de zona desmatada na floresta amazônica no estado do Acre, na Amazônia brasileira, em julho de 2022. • Rafael Vilela for The Washington Post via Getty Images
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Boto é visto no rio Amazonas, na Colômbia, na Amazônia, em 4 de abril de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Fazendeiro olha para fumaça que sobe de incêndio em Alto Rio Guamá, na Amazônia brasileira, em setembro de 2020. • João Paulo Guimarães/picture alliance via Getty Images
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Vista de casa construída à margem do rio Limoeiro, no norte da Amazônia brasileira, em Limoeiro do Ajuru. • Dieh Sacramento/picture alliance via Getty Images
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Vista aérea de região desmatada da Amazônia colombiana, em março de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Grupo do Ibama combate foco de incêndio na cidade de Novo Progresso, no sul do Pará, na Amazônia brasileira, em agosto de 2020. • Ernesto Carriço/NurPhoto via Getty Images
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Grupo do Ibama combate foco de incêndio na cidade de Novo Progresso, no sul do Pará, na Amazônia brasileira, em agosto de 2020. • Ernesto Carriço/NurPhoto via Getty Images
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Vista da floresta amazônica pela proa de um barco, na cidade de Leticia, na Amazônia colombiana, em abril de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Plantas industriais na floresta amazônica, em Manaus, na Amazônia brasileira, em janeiro de 2023. • Jens Büttner/picture alliance via Getty Images
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Fotografia aérea de seção da floresta amazônica desmatada por incêndios, na região de Candeias do Jamari, em Porto Velho, na Amazônia brasileira, em agosto de 2019. • Victor Moriyama/Getty Images
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Vista do rio Amazonas na cidade de Letícia, na Amazônia colombiana, em abril de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Rio recorta os meandros da Amazônia brasileira em Manaus. Fotografia de janeiro de 2023. • Jens Büttner/picture alliance via Getty Images
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Casal de araras em ninho na Amazônia, em Roraima, em fotografia de novembro de 2017. • Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket via Getty Images
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Família de pai e filhas carregam balde d'água na rodovia Transamazônica, no estado do Pará, na Amazônia brasileira, em novembro de 2017. • Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket via Getty Images
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Gado é visto em pasto na bacia do alto rio Amazonas, em Rondônia. • Marica van der Meer/Arterra/Universal Images Group via Getty Images
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Acampamento de pesquisa do Amazon Tall Tower Observatory do Instituto Max Planck, na Amazônia brasileira, em Manaus, em janeiro de 2023. • Jens Büttner/picture alliance via Getty Images
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Casal de trinta-réis-grandes, também chamados de andorinha-do-mar, trinta-réis e gaivota, na Amazônia colombiana, em abril de 2023. • Juancho Torres/Anadolu Agency via Getty Images
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Ponte suspensa na floresta amazônia, na Amazônia peruana. • Kike Calvo/Universal Images Group via Getty Images
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Imagens tiradas de um hidroavião mostram nuvens passando pela floresta amazônica, em Manaus, em janeiro de 2023. • Jens Büttner/picture alliance via Getty Images
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Caminhão levanta poeira em estrada da Amazônia enquanto viaja em porção desmatada da floresta amazônica, próximo de Chupinguaia, em Rondônia, em junho de 2017. • Mario Tama/Getty Images
Entrevista produzida por Geovanna Hora, com informações de Douglas Porto