CNN revela esquema de festas clandestinas para até mil pessoas em São Paulo
Organizadores adotam estrutura proporcional para driblar restrições impostas por autoridades e promovem festas com aglomerações e quase nenhuma proteção
Horas antes da festa um grupo selecionado de pessoas recebe por uma lista de transmissão do WhatsApp os detalhes da festa. Entre eles o local. Mas o endereço indicado não é o espaço que receberá centenas de pessoas, com revezamento de DJs, garçons, seguranças e combo de bebida por até R$ 1600. O lugar é um “ponto de encontro”. É lá que uma van buscará os participantes da festa.
Zona Oeste, Vila Leopoldina. Extremo Sul, Miami Paulista. E o esquema se repete. Ao mesmo tempo que os requintes de um suposto profissionalismo afrontam as regras que proíbem qualquer festa presencial em São Paulo e vetam completamente aglomerações, música ao vivo e pista de dança, as pessoas parecem ignorar a prevenção ao coronavírus.
O álcool nas festas é só para beber. E as máscaras são usadas apenas pelos funcionários, isso quando são usadas, o que é raro.
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No centro de São Paulo, um clube de forró recebe mais de 300 pessoas. Os pagantes desembolsaram R$ 40 pra se divertir a 3 minutos do Edifício Matarazzo, onde fica a prefeitura de São Paulo. Dançando agarrados, eles estão expostos a forma mais arriscada de contrair o coronavírus. Se uma pessoa da festa estiver infectada, o impacto pode ser enorme.
No outro extremo da cidade, os organizadores se preparam pra um evento clandestino completamente diferente. Ao ar livre e numa chácara à beira da piscina, centenas de pessoas aproveitam o paredão de som sob o sol a pino. O evento organizado pelo Facebook sugere a autorização para uso de drogas. Lá os participantes mostram os bonés e biquínis escolhidos pra curtir o funk no “fluxo da chácara”.
Entrada por até 1,5 mil
O evento da Zona Oeste fica numa região famosa por abrigar formaturas e festas fechadas. Pra entrar os ingressos vão de R$ 150 a R$ 800. O acesso ao camarote ou backstage custa de R$1 mil a R$1,5 mil e dá ao pagante o “privilégio” da vista atrás do DJ, em uma área reservada.
Estratégias para se esconder
Os eventos tem, além dos combos de bebida, pacotes de cigarros vendidos por R$30. As pessoas fumam dentro do local fechado, no meio da pista, contrariando a Lei Antifumo. Tudo para que uma possível aglomeração no fumódromo do espaço não seja vista do alto dos prédios vizinhos.
Muitas vezes os ingressos são vendidos informalmente pela internet e, ao chegar no ponto de encontro, as pessoas ganham uma pulseira com o dia da semana, usualmente “sexta” ou “sábado”, pra que consigam entrar e sair sem filas. Já o cartão de consumação é pré-pago e custa R$5. Sem nenhuma identificação, ele é usado pra que não sejam formadas filas no caixa na hora da saída.
Fiscalização ausente
Tanto na festa na Zona Oeste da cidade de São Paulo quanto no baile de forró no centro, viaturas da Polícia Militar chegaram a estacionar nos locais durante o período que a reportagem da CNN estava presente. Mas nada fizeram pra tentar interromper o evento.
Em nota, a PM de São Paulo disse que na madrugada das festas “não foi acionada para nenhuma ocorrência de perturbação do sossego público, ou apoio à fiscais de vigilância sanitária” nos locais onde os eventos aconteceram.
E que atua “em apoio aos órgãos de Vigilância Sanitária (estadual e as municipais), em todo o Estado de São Paulo, em relação à fiscalização do uso obrigatório de máscaras”, especialmente quando há resistência e/ou dificuldades durante a fiscalização“.