Cientista brasileiro explica carta à OMS sobre risco de transmissão pelo ar
'Já existem evidências não só para o novo coronavírus, mas também para a Influenza, então queríamos alertar as pessoas', disse Paulo Saldiva à CNN
Único brasileiro entre os 239 cientistas que assinaram carta aberta à Organização Mundial da Saúde (OMS) pedindo orientações sobre o risco de transmissão da Covid-19 pelo ar, o professor Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, falou à CNN, nesta quinta-feira (9).
Saldiva explicou que o conhecimento de pequenas partículas na atmosfera se tornou mais abrangente por conta de estudos sobre poluição do ar, que mostraram que esses materiais – cerca 80 vezes menores que a espessura de um fio de cabelo – podem ficar em suspensão no ar durante horas, se não houver dispersão por ação do vento, por exemplo.
“Nelas estão as partículas exaladas por pessoas durante tosses e espirros. Como o vírus é muito pequeno, mesmo nessas partículas você consegue isolar o vírus viável”, disse. “Já existem evidências não só para o novo coronavírus, mas também para a Influenza, então o que aconteceu foi que queríamos alertar as pessoas”, acrescentou.
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Diante do que classificou como “evidências fortes”, o pesquisador citou a importância do uso correto e frequente da máscara, em conjunto com as medidas de distanciamento.
“Se você entra em um elevador e não tem ninguém, você talvez tire a máscara, mas pode ser que estivesse ali alguém que tossiu ou espirrou”, exemplificou. “Então, no momento em que o comércio é aberto, as pessoas não podem descuidar da máscara, porque essa distância de 1,5 metro vale para micro-organismos grandes. No caso de um vírus, as partículas podem andar até dez a 12 metros, então temos que ficar cientes”, alertou.
Saldiva ainda afirmou que manter portas e janelas abertas – na medida do possível – reduz drasticamente o risco de infecção e frisou o uso do equipamento de proteção facial. “Como a gente vai ser obrigado a ficar junto, é importante que não descuide da proteção, e isso deveria ser enfatizado nas normas de prevenção – o que não estava até aquele momento”, concluiu.
O professor informou que o risco de contaminação em ambientes abertos – como parques, por exemplo – ainda está sendo medido, mas que, mesmo nesses locais, a orientação é pelo uso de máscara. “Em espaço aberto, as partículas são transportadas pelo vento, reduzindo o risco. Essa dúvida ainda existe, mas teoricamente tem que usar”, finalizou.
Resposta da OMS
Na terça-feira (7), a OMS reconheceu “evidências emergentes” de transmissão pelo ar do novo coronavírus, depois que o grupo de cientistas cobrou do organismo global a atualização de suas orientações sobre como a doença respiratória se espalha.
Em uma entrevista em Genebra, a especialista da OMS Benedetta Allegranzi disse que a organização acredita que a transmissão aérea “é uma possibilidade entre os modos de transmissão” do novo vírus.
Uso correto da máscara
O coordenador executivo do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, João Gabbardo, afirmou que a máscara tem um papel fundamental em conter a disseminação da Covid-19. Para ele, ainda houve uma demora em determinar a obrigatoriedade do uso de máscaras.
“O Brasil e o mundo demoraram muito para ter iniciado [o uso]. Acho que a OMS [Organização Mundial da Saúde] demorou em recomendar a utilização das máscaras”, afirmou.
“Muitas vezes, as pessoas saem com a máscara, mas não a usam corretamente. A máscara precisa cobrir o nariz e a boca. Essa máscara não poder ficar pendurada no pescoço, ou simplesmente protegendo [somente] a boca. É importante que as pessoas a utilizem adequadamente”, alertou.