Caso Marielle: MP denuncia três por vazar operação que prendeu executores e suspeitos viram réus
Justiça aceitou e tornou Jomar Junior, o PM Maurício Junior e o ex-bombeiro Maxwell Corrêa réus
O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou três pessoas pelo vazamento de informações da operação que prendeu os executores da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Os denunciados são o policial militar Maurício da Conceição dos Santos Junior; Jomar Duarte Bittencourt Junior (filho de um delegado da Polícia Federal); e o ex-bombeiro Maxwell Corrêa Simões.
A Justiça do Rio de Janeiro aceitou nesta terça-feira (3) a denúncia e retirou o sigilo do processo. Com o aceite, os agora réus passam a responder por obstrução de investigação envolvendo organização criminosa. A pena pode chegar a até 20 anos de cadeia.
Segundo a denúncia da força-tarefa do MP, a qual a CNN teve acesso, em 11 de março de 2019 os denunciados trocaram mensagens por aplicativo com informações relacionadas à operação que seria deflagrada no dia seguinte.
“Recebi um informe agora. Vai ter operação Marielle amanhã. Pelo que falaram vão até prender Brazão e Rivaldo Barbosa” Vou tentar chamar ele aqui… Já falou? Já”.
No dia seguinte, uma operação policial prendeu os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, hoje delatores e réus confessos do crime.
Segundo a força-tarefa que investiga o caso, a conversa do vazamento teve como interlocutores Maurício e Jomar, sendo que o último, conhecido como “Jomarzinho”, informou “Mauricinho” sobre a ocorrência, causando “embaraçamento na investigação”.
Os investigadores dizem que esse ‘embaraçamento’ inclusive atrasou os trabalhos para o fim das apurações.
“Tem-se que as condutas dos ora denunciados aqui narradas foram determinantes para o alongamento da conclusão das investigações sobre as mortes das vítimas Marielle Francisco da Silva e Anderson Pedro Matias Gomes, trazendo não só incalculável lesão aos direitos da personalidade de seus familiares e amigos, como também impondo trabalho hercúleo aos atores estatais envolvidos no deslinde dos crimes, lesionando, pois, o direito coletivo lato sensu que possui a sociedade de desfrutar de rápida e justa resposta estatal quanto a crimes desta magnitude”, diz a denúncia.
A força-tarefa pediu a prisão dos denunciados, mas o juiz Daniel Werneck Cotta negou e determinou medidas cautelares. O PM Maurício, por exemplo, deverá ser suspenso da função pública e ter seu porte de arma retirado.
Jomar, por sua vez, está impedido de sair do Brasil e deve comparecer bimestralmente em juízo para informar e justificar suas atividades, até o dia 10 de cada mês, iniciando-se em setembro; além de ser proibido de manter qualquer contato com os corréus e as testemunhas.
O MP também pede a perda do cargo público caso Maurício seja condenado e a interdição para o exercício de qualquer função ou cargo público pelo prazo de oito anos subsequentes ao cumprimento da pena.
A CNN busca contato com a defesa dos três réus.
O vazamento
Segundo o MP, outra prova do vazamento da operação foi o fato de o assassino Ronnie Lessa ter tentado fugir do condomínio onde morava, na Barra da Tijuca, antes da prisão.
Em março de 2019, por volta de 4h20 do dia da Operação Lume, Lessa foi visto saindo do condomínio onde morava e já do outro lado da rua.
Na segunda-feira (2) desta semana, Élcio de Queiroz prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal, onde corre o processo contra os supostos mandantes, e confirmou que Lessa sabia da operação.
“Jomarzinho ligou pro Lessa à noite. Ronnie, ele falou pra mim que teria uma operação pra prender. Eu perguntei quem seria preso, aí ele falou que seria ‘doutor Rivaldo’. Se ele foge e eu sou preso, ameniza a situação, alguém tem que ser preso,’ declarou.