Calote generalizado pode trazer consequências graves, avaliam economistas
Veja o debate entre o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega e o diretor do Centro de Cidadania Fiscal, Bernard Appy
A preocupação do ministro da Economia, Paulo Guedes, com um calote generalizado por causa da crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus é pertinente, disseram neste domingo (5) o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega e o diretor do Centro de Cidadania Fiscal, Bernard Appy, durante debate transmitido pela CNN.
“Eu acho que ele está certo. Se nós estabelecermos uma situação de moratória generalizada na economia brasileira isso vai causar problemas muito sérios”, disse Maílson. “As empresas param de faturar ou de receber os seus créditos e param de funcionar. Eu acho que deve ter um tratamento de caso a caso, não como um calote generalizado em todos os setores. A Justiça, em alguns casos, está deliberadamente rompendo alguns contratos e isso não é bom para a economia”.
Appy também concordou com a preocupação de Guedes. No entanto, enquanto o ex-ministro defendeu um tratamento “caso a caso”, o diretor do Centro de Cidadania Fiscal disse que o governo deveria injetar liquidez “de forma mais abrangente”.
“Eu acho que não é o momento de estimular calote generalizado. Obviamente que terão empresas que vão ter problemas de liquidez. Mas esse era o momento ideal para o governo dar liquidez para a economia até de forma mais abrangente do que agora, para ajudar e para que não houvesse a interrupção de todo esse fluxo de pagamentos”, afirmou. “Os bancos não irão emprestar se o governo federal não assumir o risco.”
Os dois economistas fizeram considerações sobre a conduta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o atrito do mandatário com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM). Maílson da Nóbrega disse que “Bolsonaro é a nota destoante de todo o processo de enfrentamento da crise” e chamou de “impecável” a atuação do ministro diante do cenário de crise.
Para Bernard Appy, a ideia de suspender medidas de isolamento é uma “irresponsabilidade por parte do presidente”.
“O custo, não só em perdas de vidas, mas o próprio custo econômico pode ser muito maior depois”, afirmou.