Brasil deveria reconhecer ‘problema implícito do racismo’, diz porta-voz da ONU
Escritório da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se pronunciou sobre a morte de João Alberto Silveira Freitas em loja do Carrefour
O escritório da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se pronunciou nesta terça-feira (24) sobre a morte de João Alberto Silveira Freitas, assassinado por dois seguranças em um supermercado da rede Carrefour, em Porto Alegre, na quinta-feira (19).
“É um exemplo extremo, mas infelizmente muito comum, da violência sofrida pelos negros no Brasil. Ele oferece uma ilustração nítida da persistente discriminação estrutural e racismo que as pessoas afrodescendentes enfrentam”, afirmou a porta-voz de Bachelet, Ravina Shamdasani, em nota.
Ela acrescentou que esse “ato deplorável” – que aconteceu na véspera do Dia da Consciência Negra – deveria ser condenado por todos.
Além disso, declarou que os funcionários do governo possuem uma “responsabilidade particular em reconhecer o problema implícito do racismo persistente no país”. Para a agência da ONU, o reconhecimento seria um “primeiro passo essencial” para solucionar esse problema.
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Um dia após o assassinato de João Alberto, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), afirmou que “no Brasil, não existe racismo”. Para ele, o racismo seria uma problemática que tentam “importar” de outros países, como os Estados Unidos, mas que “não existe aqui”.
O escritório da alta comissária da ONU ressaltou que os dados oficiais documentados no país, no entanto, expõem “racismo, discriminação e violência estruturais”.
“O número de vítimas afro-brasileiras de homicídio é desproporcionalmente maior do que outros grupos. Os afro-brasileiros, incluindo as mulheres, também estão super-representados na população carcerária do país”, diz o texto.
A porta-voz de Bachelet afirmou que a investigação a respeito da morte de João Alberto deve ser “rápida, completa, independente, imparcial e transparente”. Ela também pediu que seja examinada se o preconceito racial desempenhou um papel no episódio.
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A rede de supermercado Carrefour compõe o Pacto Global da ONU – rede de empresas que se comprometem em apoiar os objetivos das Nações Unidas.
Por isso, o escritório da alta comissária da ONU para Direitos Humanos cobrou que seja explicado como e se o Carrefour avaliou os riscos para os Direitos Humanos associados à contratação do Grupo Vector, responsável pela contratação dos seguranças da sucursal gaúcha, e quais medidas tomou para prevenir esse caso.
O comunicado divulgado à imprensa também solicitou às autoridades brasileiras uma investigação de uso desnecessário e desproporcional da força contra manifestantes em protestos pela morte de João Alberto.
“Este caso e a indignação generalizada que ele provocou destacam a necessidade urgente das autoridades brasileiras de combater o racismo e a discriminação racial em estreita coordenação com todos os grupos da sociedade, especialmente os mais afetados”, apontou Shamdasani.
(*Sob supervisão de Julyanne Jucá)