Brasil aumentou em 121% emissões de CO2 por uso de termelétricas em 2021
Usinas movidas a combustíveis fosseis já representam 21% do Sistema Interligado Nacional de energia
Um levantamento do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), produzido com exclusividade para a CNN, mostra que de 2020 para 2021, o Brasil aumentou em 121% a emissão de gás carbônico (CO2) por queima de combustíveis fósseis utilizados em usinas termelétricas. O estudo compara as emissões dos primeiros nove meses desse ano, com o mesmo período do ano passado.
Considerando que o ano de 2020 foi atípico em questão de carga energética, e consequentemente em geração de energia, o levantamento também fez um comparativo com os dados de 2019, no período pré pandemia. Há dois anos, as termelétricas representavam 13% das usinas usadas no Sistema Interligado Nacional de energia (SIN). Agora em 2021, elas já correspondem a 21% do total.
Em conversa com a CNN, o engenheiro e coordenador de projetos do IEMA, Ricardo Baitelo, afirma que o acionamento das térmicas foi necessário devido ao vácuo deixado pelas hidrelétricas, por conta da crise hídrica. Mas que, desde o primeiro semestre desse ano, elas estão operando integralmente, o que não é comum no sistema energético do país.
“Em 2015, que foi um ano que enfrentamos uma seca, tivemos um aumento do uso de termelétricas, mas não houve um quadro em que essas usinas passaram mais de um semestre inteiro operando em tempo integral.”, explica.
Outro destaque é o aumento de uso de gás natural. Os pesquisadores calcularam que a cada GW produzido por uma termelétrica a gás natural, 482 mil toneladas de CO2 são jogados na atmosfera. Das 45,8 milhões de toneladas emitidas entre janeiro e setembro deste ano, o gás natural é responsável pela maior parte das emissões, com 23,9 milhões de toneladas jogadas no ar.
No final de setembro, a Gás Natural Açu (GNA) inaugurou no estado do Rio de janeiro a segunda maior usina termelétrica a gás natural do país, com capacidade instalada 1.338 megawatts (MW). No início da semana, o governo federal realizou um leilão emergencial de energia, com duração de três anos e com contrato no valor de R$39 bilhões. 99% dos investimentos previstos para o período foram destinados às termelétricas movidas a gás natural.
“O governo está de fato evitando comentar qualquer tipo de compromisso ou de redução de uso de óleo e gás combustível para a próxima década, principalmente pra 2050, entendendo que essas atividades têm um prazo de validade, e os interesses dos governos vão contra os esforços de descarbonização do mundo.”, afirma o coordenador do IEMA.
A CNN procurou o Ministério de Minas e Energia para saber o posicionamento da pasta em relação ao acionamento das térmicas e ao aumento da emissão de gases de efeito estufa, mas ainda aguarda um posicionamento.
COP 26
De acordo com o relatório do Observatório do Clima, divulgado nesta quinta-feira, o Brasil aumentou as emissões de gases de efeito estufa em 9,5% em 2020. De acordo com os pesquisadores o desmatamento da Amazonia é o principal responsável pelo aumento. O coordenador técnico do Observatório afirmou, em entrevista à CNN, que o país chegará em uma situação incômoda na COP26. A organização afirma que o país está indo “na contramão do mundo”.
“O Brasil atualizou os compromissos de redução de emissões, a partir de 2015, infelizmente a novidade dessa atualização é que a meta brasileira ficou mais vaga. No documento atual não tem mais metas setoriais, isso significa que um aumento eventual de emissões por eletricidade pode ser compensado em outros setores, como redução de emissões de agricultura, ou de desmatamento.”, explica Ricardo, pesquisador do IEMA,