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    Atila Iamarino: ‘Pandemias são previsíveis e preveníveis’

    Na sexta edição do programa 'O Mundo Pós-Pandemia', o biólogo Atila Iamarino fala sobre saúde e prevenção na crise sanitária causada pelo novo coronavírus

     
    Na sexta edição do programa “O Mundo Pós-Pandemia”, o biólogo e doutor em microbiologia Atila Iamarino falou sobre saúde, prevenção e formas de lidar com a crise sanitária causada pelo novo coronavírus. 

    Em conversa com as jornalistas da CNN Daniela Lima, Mari Palma e Thais Herédia e a comentarista Gabriela Prioli, Atila analisou, de modo didático, temas relevantes como quarentena, isolamento social, número de infectados, medidas restritivas que foram tomadas ao redor do mundo e até mesmo previsibilidade das pandemias.

    Quarentena e prevenção 

    O que seria do Brasil sem nenhuma ação de contenção contra o coronavírus? Para o doutor em microbiologia, “o fato de o país continuar é efeito da quarentena”. Neste contexto, ele explica que o vírus – em seu estado natural e sem métodos de prevenção – é transmitido de uma pessoa infectada para duas ou três outras a cada cinco dias.

    “Se o Brasil tivesse seguido o curso natural da doença, pelas projeções do próprio Ministério da Saúde, estaríamos nos milhões de casos e já teríamos um colapso no sistema de saúde brasileiro”, afirma. 

    Para ele, a principal mudança que alertou o mundo em relação ao novo coronavírus “foi perceber que existe transmissão de pessoa para pessoa, e transmissão fácil entre as pessoas”. 

    “Essa é a grande diferença do Sars-CoV-2, que é o coronavírus que causa a Covid-19 agora, do Sars-CoV-1, que causa a SARS [Síndrome Respiratória Aguda Grave]”, afirma. 

    O biólogo também fez uma referência à epidemia de MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), ocorrida em 2003, causada por um outro tipo de coronavírus. “Os outros dois [coronavírus] se transmitem muito mal entre as pessoas”. O [Covid-19] vírus é bem transmissível, antes mesmo de despertar sintomas”, explica. 

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    A partir das diferenças entre as doenças causadas por coronavírus, Atila ressalta que a prevenção é o melhor caminho, já que não há, até o momento, medicamentos comprovados ou vacina contra a Covid-19. Neste contexto, o biólogo fala sobre o conceito de prevenção. “A prevenção não é só individual, ela é coletiva. A prevenção vai desde a atitude individual de usar máscaras para diminuir a chance de ter o vírus, como também diminuir a chance de transmitir o vírus.

    Como exemplo, o doutor em microbiologia afirma que a prevenção vai desde o ato de lavar as mãos e evitar o contato com outras pessoas e superfícies, como também a aplicação de medidas de distanciamento social para que a transmissão não ocorra na sociedade. 

    É possível, portanto, saber o número real de pessoas infectadas? Depende. Segundo ele, os países que mais tiveram êxito em conter a pandemia são aqueles que realizaram testagem em massa e puderam traçar o histórico da disseminação do vírus. “Essa é a lanterna que faz a gente enxergar mais longe”, diz. 

    “Quando a gente espera as pessoas complicações para ter um atendimento médico, já se passou um tempo. Nesse meio do caminho, muita gente já se contaminou”, lamenta. Com um baixo índice de testagem no país, o número de pessoas contaminadas pode ser muito maior do que os casos confirmados. 

    Realidades diferentes

    A Suécia tem chamado a atenção pela estratégia utilizada no enfrentamento à pandemia. Diferente dos países vizinhos, que adotaram medidas restritivas e até mesmo o bloqueio total, a Suécia apenas proibiu aglomerações, recomendou o distanciamento social e incentivou o trabalho remoto por parte da população. Para Atila, a questão cultural e o nível de desenvolvimento do país europeu dificultam a comparação com o Brasil.  

    “Mais de 50% dos suecos vivem sozinhos, e a queda de mobilidade deles é maior do que 70%. Os suecos, por conta própria, podem trabalhar de casa, conseguem ficar em casa em índices muito maiores do que em índices de cidades que estão em quarentena aqui no Brasil”, ressalta.

    Para o biólogo, as formas de enfrentamento à pandemia variam de país para país: o que pode dar certo em um talvez não seja eficaz em outro. “Mesmo sem ter uma quarentena imposta pelos órgãos de saúde, o isolamento e a escolha das pessoas ao agirem de outra forma, já funciona muito bem por lá. Aqui no Brasil, nós temos três gerações vivendo dentro de uma casa: mãe, filha e neta. As pessoas têm menos condições financeiras para permanecerem em casa”, afirma. 

    As pandemias são previsíveis?

    Segundo Atila, “pandemias são previsíveis, pandemias são preveníveis”. “O difícil é ter a mobilização popular e política suficiente para fazer isso acontecer de fato”, afirma.

    Ele explica o porquê: “Convivemos mais com os bichos do mato, com o desmatamento, temos mais animais de criação, temos os mercados onde animais silvestres e animais de criação convivem juntos e que já deveriam ter sido fechados, temos pessoas vivendo em aglomerações. Então, previsíveis, as pandemias são”. 

    “A gente só não sabe dizer quando, em que ano, e qual vírus vai ser e fazer aquilo, mas sabemos que tem chance disso acontecer o tempo todo”, analisa. 

    A questão das pandemias serem preveníveis, de acordo com o biólogo, depende de outros fatores que precisam ser desenvolvidos nos países. “[É necessário ter uma rede de laboratórios que vai testar, ter um contato maior com os hospitais para saber se as pessoas estão dando entrada com sintomas estranhos, ter equipes de rastreio e um arcabouço legal para implementar a quarentena”. 

    “Os países que já tinham isso, como a Coreia do Sul, Vietnã e Taiwan, conseguirem responder super cedo para a pandemia e estão lá, preparados para as próximas”, afirma. 

    Para o futuro, Atila mantém um posicionamento otimista, acreditando nos aprendizados que serão adquiridos por conta deste período e nos avanços que a ciência alcançará em busca da cura.  

    “A ciência é uma excelente ferramenta. É a grande ferramenta de progresso no mundo”, conclui. 

     

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