Arcos do Beco do Teatro Oficina são emparedados por Grupo Silvio Santos
Terreno ao lado do teatro ainda é motivo de disputa
Integrantes do Teatro Oficina afirmam que na manhã desta segunda-feira (5) foram surpreendidos por uma ação “truculenta”. De acordo com eles, funcionários do Grupo Silvio Santos (GSS) teriam fechado e emparedado os Arcos do Beco do teatro.
Ainda, eles alegam que o GSS, ao retirar precipitadamente a conhecida como “escada azul”, se antecipou à uma ação judicial em curso que tem o intuito de reintegrar a posse do objeto, que liga os Arcos do Beco ao terreno disputado entre os envolvidos.
Já nas redes sociais, eles chegaram a afirmar que a ação realizada pelo Grupo é ilegal, uma vez que se trata de uma “violência simbólica e concreta” contra um patrimônio histórico tombado nas três instâncias de proteção.
Em nota, o Grupo Silvio Santos confirmou a ação, no entanto, com a justificativa de que teria sido apenas uma “busca para reparar o estado original” do imóvel.
“Após longa e exaustiva discussão Jurídica que reconheceu, nos autos do processo, que a referida escada nunca havia sido parte do tombamento do Teatro Oficina. Comprovado nosso direito, obtivemos decisão favorável nesse sentido, e cumprimos com a decisão Judicial. O correto teria sido a outra parte ter executado o reparo, mas, pela incapacidade financeira alegada, o Juízo entendeu que o GSS poderia fazê-lo. Reforçamos que temos muito respeito pelo Teatro Oficina e esperamos que compreendam.”
Por fim, o Teatro Oficina afirma que irá reunir advogados e comunicar os próximos passos da mobilização nas redes sociais.
Nas redes, autoridades como Eduardo Suplicy repudiaram o ato do Grupo contra o Teatro Oficina.
“É preocupante que o @oficinauzynauzona na Bela Vista, seja alvo de uma ação antecipada de reintegração de posse de parte da estrutura. Segundo a direção do Teatro, @gruposilviosantos se antecipou à ação judicial, antes da expedição de um parecer final da Justiça. Importante lembrar que a ação é uma violência contra o patrimônio material e imaterial tombado nas instâncias municipal, estadual e federal. Temos que seguir na luta pela preservação do Teatro, fundado pelo querido Zé Celso Martinez Corrêa, que é uma referência das artes em São Paulo e no Brasil.”
Além do deputado estadual, Monica Seixas e Erika Hilton também se manifestaram acerca do assunto.
O Teatro Oficina, que é tombado pelo Patrimônio Histórico, amanheceu com seus arcos cobertos por tijolos. Trata-se de uma ação de reintegração de posse. O Grupo Silvio Santos tenta há anos tenta destruir esse espaço essencial de São Paulo.
São Paulo precisa de mais prédios? https://t.co/EJOPCAKlit
— Monica das Pretas (@MonicaSeixas) February 5, 2024
Absurda e criminosa a ação do Grupo Silvio Santos contra o Teatro Oficina, o Parque do Rio Bixiga e a memória de Zé Celso.
O Ministério Público JÁ fechou acordo para repassar R$51 milhões pra Prefeitura implantar o Parque no terreno do Grupo Silvio Santos, ao lado do Teatro… https://t.co/ZEVzX2u8Oe
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) February 5, 2024
Veja nota do MPSP
“A retirada da escada foi autorizada pela Justiça (processo 0037379-97.2022.8.26.0100). A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente instaurou procedimento para apurar a emparedamento dos Arcos do Beco no Teatro Oficina. A instalação do Parque do Bixiga depende da desapropriação da área pela Prefeitura”.
Relembre a disputa entre o Teatro Oficina e o Grupo Silvio Santos
Zé Celso Martinez, falecido no ano passado e líder da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, e o empresário Silvio Santos firmaram disputa há mais de 40 anos, quando o apresentador comprou um terreno no entorno do teatro e decidiu erguer um arranha-céu para o seu grupo empresarial. Desde então, o imóvel que se tornou ponto de uma longa batalha judicial entre eles.
Após o ato do Grupo Silvio Santos nesta manhã (5), os integrantes da associação afirmam que a ação realizada altera o processo judicial em curso e que agora seguem como um novo fato anexado à ele: a destinação de verba pelo Ministério Público para a desapropriação do terreno que cerca o teatro.