Após dois anos de pandemia, ensino virtual ainda traz dificuldades, aponta pesquisa
Professores relatam falta de dispositivos, defasagem da aprendizagem e aumento na carga de trabalho como desafios
Após dois anos da pandemia de Covid-19 e a necessidade de digitalizar as operações, as escolas brasileiras ainda apresentam dificuldades na implementação do ensino remoto e de atividades pela internet ou com uso de tecnologias. É o que aponta uma pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), divulgada nesta terça-feira (12).
O levantamento contou com uma base de dados de 3,6 mil escolas brasileiras. Além disso, ouviu 1,8 mil professores do ensino fundamental e médio das redes municipal, estadual, federal e particular, tanto de unidades urbanas quanto rurais. A coleta dos dados foi feita entre setembro de 2021 e maio de 2022.
De acordo com o estudo, nas escolas públicas, 95% dos professores apontam dificuldades dos pais em apoiar os alunos nas atividades como um dos desafios durante a pandemia. Nas escolas privadas, o índice é de 88%.
Além disso, na rede pública, 95% também relatam a defasagem na aprendizagem dos estudantes e 91%, a falta de dispositivos e acesso à internet na casa das crianças e adolescentes. Já na rede particular, os indicadores dessas categorias são de 84% e 61%, respectivamente.
Daniela Costa, a coordenadora da pesquisa, aponta que a pandemia motivou políticas públicas, como a distribuição de equipamentos, aplicativos e plataformas, no entanto, ainda é preciso evoluir. “Essas políticas também foram emergenciais e muitas vezes não conseguiram ser disseminadas para a grande maioria da população”, avalia.
Cerca de 86% dos docentes das escolas municipais, estaduais e federais colocam como obstáculo o aumento na carga de trabalho, índice que cai para 82% na rede privada. Segundo a pesquisa, 86% dos profissionais de escolas públicas apontam a dificuldade ou perda de contato com os alunos, contra 69% nas escolas particulares.
Em 2020, durante o período de fechamento das escolas, o Cetic também realizou a pesquisa, mas tendo os gestores escolares como público. Na primeira edição, o aumento da carga de trabalho foi apontado por 73%, já 59% relataram problemas no atendimento aos alunos com deficiência.
Segundo Daniela Costa, o aumento desses percentuais na pesquisa finalizada este ano mostra que foram os professores que sentiram mais as dificuldades, já que mantinham o contato direto com os estudantes.
O levantamento do Cetic ainda mostra que os professores tiveram que se desdobrar para manter o contato com os alunos, desde ir à casa deles, recebê-los em casa, conversar pelas redes sociais, telefone e aplicativos de mensagens instantâneas. Na outra ponta, os alunos tiveram que produzir ilustrações digitais, gravar vídeos, criar gráficos e até mesmo projetos 3D.
Nas escolas públicas, 80% dos profissionais relatam dificuldade no atendimento aos alunos com deficiência, assim como 60% nas escolas privadas. No caso dos atendimentos a estudantes com vulnerabilidade social, a discrepância entre a rede pública e privada é maior: 72% contra 27%.
Outro desafio é a falta de habilidade para realizar atividades com o uso de tecnologias – citado por 69% dos docentes da rede pública e 65% da rede privada.
“Ainda que nós tenhamos 65% dos professores que disseram ter realizado algum tipo de formação continuada nos 13 meses anteriores à pesquisa, nós temos mais de 60%, especialmente de escolas públicas, dizendo que um curso específico faz falta”, destaca a coordenadora da pesquisa.