Apagão foi evento extremamente raro e segurança energética não corre risco, diz ministro
Seis horas após blecaute que afetou todas regiões do Brasil, sistema foi restabelecido completamente por volta das 14h30 desta terça-feira (15)
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou nesta terça-feira (15), que o apagão que afetou todas as regiões brasileiras foi um “evento extremamente raro” e não tem relação com a segurança energética do país.
O Ministério de Minas e Energia informou que, seis horas após o início do blecaute, o sistema energético nacional foi totalmente normalizado por volta de 14h30.
Em pronunciamento à imprensa, Silveira explicou que o sistema de transmissão de energia elétrica no país é redundante e trabalha em um esquema “N – 1”.
“É como se fosse em um avião: dois sistemas hidráulicos, dois elétricos, duas turbinas. Para acontecer um evento dessa magnitude [apagão], temos que ter tido dois eventos concomitantes em linhas de transmissão de alta capacidade”, disse.
Apesar de presumir, “em consequência da robustez do sistema”, que foram necessárias duas falhas simultâneas, o ministro disse que, de acordo com o último relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), apenas um evento foi detectado até agora.
“Um dos eventos já apontados pelo ONS aconteceu no norte do Nordeste, mais precisamente na região do Ceará. O outro evento ainda não está detectado”, declarou.
“Houve uma sobrecarga na transmissão do Ceará que fez com que o sistema entrasse em colapso naquela região. ONS imediatamente agiu, modulou a carga da energia que estava chegando para o Sul, Centro-Oeste e Sudeste, que fez com que a carga fosse reduzida e alguns locais tivessem perda energética”, explicou.
Veja também: Brasil teve cinco apagões graves dos últimos 24 anos
O ministro destacou que, 45 minutos após o início do apagão, os sistemas já haviam sido restabelecidos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A energia do consumidor pode ter levado um pouco mais tempo para ser retomada devido à necessidade das distribuidoras de energia realizarem adaptações em suas estações nessa situação.
“Exatamente às 14h49 nós tivemos 100% do sistema restabelecido. Ou seja, de 8h29 até 14h49, mesmo havendo essa grave inesperada e desagradável ocorrência, o sistema estava completamente restabelecido”, completou Silveira.
Ele também explicou que o apagão foi um evento que não tem relação com a segurança energética nacional.
“Vivemos momento de abundância em nossos reservatórios. Inclusive, quando estávamos vertendo água em Itaipu e Furnas, usamos essa abundância para poder exportar energia para Argentina e Uruguai”, relatou Silveira.
Ele acrescentou que R$ 516 bilhões foram utilizados “para minimizar tarifas no Brasil”. “Destaquei que, assim que terminasse o investimento de Itaipu e Furnas, suspenderíamos a possibilidade de exportação de energia hidráulica para manter a segurança energética nacional como imprescindível”, completou.
“Diferentemente do evento de dois anos atrás, onde por falta de planejamento estivemos a beira de um colapso do setor energético, estávamos trabalhando na bandeira vermelha, foi necessário que se fizesse aquela contratação emergencial de térmicas no Brasil, agora não. Há um planejamento, há segurança, os nossos reservatórios estão cheios. Então o ocorrido hoje não tem absolutamente nada a ver com o planejamento do sistema e a geração de energia”, concluiu.
[cnn_galeria active=”2734100″ id_galeria=”2734239″ title_galeria=”Apagão no Brasil 15/08″/]
Governo pedirá para PF e Abin apurarem falha energética
Alexandre Silveira também afirmou que irá solicitar à Polícia Federal (PF) e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a apuração das causas do apagão.
“Primeiro é que é um sistema altamente sensível, é um sistema que requer planejamento, requer total e completo monitoramento. Tenho absoluta convicção que o ONS, até por sua característica técnica, não vai ter condição de dizer textualmente se esses eventos foram eminentemente técnicos, ou se houve também falha humana ou até dolo”, explicou Silveira.
Privatização da Eletrobras “fez muito mal” ao sistema, diz ministro
Silveira disse ainda que, na sua opinião, a privatização da Eletrobras “fez muito mal” ao sistema elétrico.
Veja também: Em meio ao apagão, Eletrobras tem novo presidente e busca de diálogo com governo Lula
“Todos conhecem minha posição com relação à privatização. O setor estratégico para segurança do país, inclusive para segurança alimentar, energética, como o setor elétrico de um país, em especial com uma dimensão territorial como a do Brasil, não deveria ser privatizado”, disse.
Segundo o ministro, a Eletrobras era o “braço operacional” do setor elétrico brasileiro.
“A minha posição é de que a privatização da Eletrobras fez muito mal, em especial no modelo que ela ocorreu, ela fez sim mal ao sistema”.
Como o apagão aconteceu?
O apagão começou a ser registrado nos sistemas do ONS exatamente às 8h31 no horário de Brasília – quando foi interrompido o tradicional aumento da carga do sistema elétrico. Em dez minutos, a carga do sistema elétrico brasileiro caiu 25,9%.
Dados do ONS mostram que o Brasil registrava 73.484,7 MW às 8h30 no horário de Brasília em trajetória de alta – exatamente como acontece todas as manhãs. Mas, no minuto seguinte, às 8h31, a carga do sistema cai repentinamente cerca de 7%.
A perda de carga continua nos minutos seguintes até as 8h40, quando o sistema registra a menor carga do dia, de 54.383,7 MW.
Os dados mostram que houve, em dez minutos, perda de carga de mais de um quarto da energia do sistema. A partir das 8h41, a carga volta a subir gradativamente.
Segundo o analista de Economia da CNN Fernando Nakagawa, o Norte foi a região que mais sofreu com o apagão, com uma queda de 83,8% da carga em pouco mais de dez minutos.
No Nordeste, a carga do sistema caiu 44,4%. No subsistema Sudeste-Centro-Oeste, a perda foi de 19% após o apagão e a queda chegou a 15,5% na região Sul – a que menos sofreu com o apagão.