Ao menos cinco pessoas negras foram mortas pela polícia por dia em 2021, aponta pesquisa
Dados foram divulgados pela Rede de Observatórios da Segurança e levam em conta os números de sete estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo
A cada dez pessoas mortas pela polícia no Brasil em 2021, pelo menos seis são negras. Em algumas regiões do país, esse número é ainda maior: de todos os mortos em Salvador, na Bahia, só uma pessoa não era negra. Já em Recife, capital de Pernambuco, todos os mortos pela polícia são pretos ou pardos – cor/raça que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabiliza como negros.
Os dados são da Rede de Observatórios da Segurança, com base nas informações das secretarias de segurança dos estados monitorados – Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo -, obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Ao todo, foram registradas 3.290 pessoas mortas, sendo que 2.154 eram negras. Já outras 395 não tiveram a raça informada.
O Rio de Janeiro é o estado que apresenta a maior diferença em pontos percentuais entre a população negra e os negros mortos pela polícia em 2021. Enquanto 51,7% dos fluminenses são pretos ou pardos, o estudo “Pele Alvo” contabiliza que 87,3% dos mortos pela polícia são negros, quando são excluídos os casos sem informação racial.
Já a Bahia tem o maior percentual de pessoas negras mortas pela polícia se descartados os não informados: 98%. Lá, uma pessoa preta ou parda é morta por agentes de segurança a cada 24 horas. Pernambuco tem a segunda maior proporção: 96%, com um negro morto a cada quatro dias.
Em São Paulo, o estudo destaca a redução da letalidade policial após o início do uso de câmeras nas fardas dos agentes. Ainda assim, segundo o levantamento, os mortos ainda são majoritariamente negros – 69% -, com uma média de um a cada 72 horas.
“Apesar de mudanças importantes da sociedade em relação ao racismo, o mesmo não pode ser falado das polícias”, critica Pablo Nunes, coordenador de pesquisas da rede de Observatórios da Segurança.
Nunes defende que investimento em ações menos letais garante uma redução na criminalidade por mais tempo.
“Na história destes sete estados analisados, sempre que se teve o menor número de mortes cometidas pelos policiais, foi quando se teve, na maioria das vezes, a menor taxa de crimes, colocando por terra essa falácia de que é preciso agir com violência para lidar com a criminalidade”, argumenta.
Outro problema levantado pela Rede de Observatórios da Segurança é a dificuldade da obtenção dos dados sobre a letalidade policial relacionados à cor e raça.
No Maranhão, por exemplo, esse tipo de informação não consta nos registros, enquanto no Ceará, o dado está presente em 31% dos arquivos. Para Nunes, a falta das informações dificulta o direcionamento das políticas de segurança pública.
“É muito complicado pensar a partir de um cenário que não se conhece, sem saber quem é que mais morre, em que circunstâncias, os locais e as dinâmicas”, analisa Pablo.
A CNN entrou em contato com as secretarias de segurança pública dos estados mencionados e aguarda retorno.
Em nota, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro informou que não há qualquer viés racial na atuação da corporação e que as ações no enfrentamento ao crime organizado são planejadas com base em informações de inteligência. A instituição também ressaltou que o confronto é sempre uma iniciativa dos criminosos, que “realizam ataques armados inconsequentes contra as forças de segurança do Estado”.
Conheça os dados da pesquisa
População negra e negros mortos pela polícia em 2021, excluindo os casos sem informação racial:
- Bahia
População negra: 76,3%
Negros mortos pela polícia: 97,9% - Ceará
População negra: 66,9%
Negros mortos pela polícia: 92,3% - Maranhão
População negra: 76,2%
Negros mortos pela polícia: Não monitorado - Pernambuco
População negra: 61,9%
Negros mortos pela polícia: 96,2% - Piauí
População negra: 73,4%
Negros mortos pela polícia: 75,0% - Rio de Janeiro
População negra: 51,7%
Negros mortos pela polícia: 87,3% - São Paulo
População negra: 34,8%
Negros mortos pela polícia: 68,8%
*Sob supervisão de Pauline Almeida