André do Rap concordou em se entregar, mas desapareceu, diz advogado
Áureo Tupinambá diz que situação de seu cliente ‘saiu do controle’ após liminar de Fux para o retorno do traficante à prisão
Era em um hotel na cidade de Maringá, no interior do Paraná, que o advogado Áureo Tupinambá e o traficante libertado, André de Oliveira Macedo, conhecido como André do Rap, se encontrariam no último domingo, 11 de outubro. Em entrevista exclusiva à CNN, Tupinambá disse que, por telefone, o cliente dele havia se comprometido a se entregar para a polícia e esperar que um recurso jurídico derrubasse a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, de mandá-lo de volta para a cadeia. Mas o chefe do PCC não apareceu.
“Eu falei pra ele o seguinte: André, na terça-feira, primeiro dia útil, nós vamos entrar com um remédio jurídico pra tentar a cassação da liminar do Fux. Caso dê errado, é necessário que você se entregue, tudo bem? Ele falou que tudo bem. E nós combinamos de nós encontrar no domingo, mas depois eu não vi mais ele, não tive mais contato com ele”, afirmou Tupinambá à reportagem da CNN. O advogado diz que depois disso, o traficante nunca mais atendeu às ligações dele.
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Áureo Tupinamba aparece nas imagens que rodaram o país mostrando a saída de André de Oliveira Macedo do presídio de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, na manhã do último sábado (10). É ele que aparece abraçando o traficante antes de entrar com ele em um carro e dirigir em direção à cidade de Maringá. A justificativa para a viagem ao interior do Paraná foi que ficava lá o aeroporto mais próximo, capaz de levar o traficante à Baixada Santista, onde fica o endereço informado por ele à Justiça.
“Ele não ia sair do país. A ideia é que nós pegássemos um avião comercial e fossemos pra Santos. Depois que veio a notícia da revogação da [prisão] liminar, a situação com meu cliente saiu do controle. Por mais que eu insistisse para ele aguardar a defesa tentar derrubar a decisão do ministro Fux, ele não seguiu a orientação”, disse Tupinambá.
Chefe da Interpol fala com a CNN
Simone Guerra, coordenadora-geral de cooperação internacional da Polícia Federal, é a chefe do braço da Interpol no Brasil. Em entrevista à CNN, ela destacou a boa relação do Brasil com Paraguai e Bolívia, possíveis destinos do traficante segundo os investigadores do caso. “Eu posso dizer que do ponto de vista da cooperação policial, mesmo porque somos aqui da mesma região, da América do Sul, nós temos uma boa relação com todos os países, aqui de cooperação policial de todas as áreas e em vários canais”, disse ela. “No âmbito da cooperação policial nós fazemos vários trabalhos comuns, como foi divulgado recentemente, as operações de erradicação da maconha, operação espelho, de combate ao crime organizado, nós somos muito próximos”, completou.
A Interpol funciona como uma mediadora entre as polícias dos países. Com a ajuda dela, operações conjuntas entre diferentes forças de segurança podem ajudar a capturar fugitivos importantes. “Na medida em que o Brasil inclui um nome na divisão vermelha da Interpol, significa que esse nome vai ser compartilhado em todos os países como um alerta ou também pode surgir uma operação pra prender uma pessoa, um nome que esteja na divisão vermelha”, diz Simone.
Advogado não sabia quem era o traficante
Pra libertar André do Rap, os advogados do criminoso entraram no STF com pedidos de habeas corpus nove vezes entre maio e outubro desse ano. Foi só na última delas que o Ministro Marco Aurélio, do STF, deferiu o pedido da defesa e libertou André do Rap. Um dos advogados que fez esse apelo para o STF admitiu à CNN que não estava defendendo um dos chefes da maior facção criminosa do país.
“Eu não sabia que André Oliveira Macedo era André do Rap, e ainda que soubesse, não deixaria de exercer o meu ‘mister’, o meu ofício enquanto advogado se entendesse que direito ele tinha, se direito efetivamente naquele momento lhe assistia, para prisão domiciliar”, declarou Michel Saliba.
Saliba fez o papel de advogado “correspondente”, que funciona como um representante da defesa em uma cidade que o escritório de advocacia não tem sócios capazes de atuar na defesa dos clientes. “Eu fui contatado por um advogado que faz sua defesa em primeira instância e segunda instância para que fizesse uma impetração específica relacionada a questão das comorbidades que ele tem”, afirmou o advogado.
Para o presidente da OAB de São Paulo, não é comum um advogado representar legalmente alguém que não sabe exatamente de quem se trata. “Não, não é corriqueiro na medida em que se tratam de pessoas que têm conhecimento público, né? Nós precisamos averiguar o caso concreto” disse Caio Augusto dos Santos. “O que posso dizer, é que a figura do advogado correspondente é uma figura comum nas chamadas parcerias profissionais. O advogado que acompanha o caso, que é aquele que tem contato pessoal com o cliente, às vezes se sente na necessidade de procurar um auxílio especializado”, completou.