Alunos de 20 escolas privadas de SP pedem adiamento do Enem
Uma das principais razões destacadas no documento é que durante o isolamento social, as desigualdades entre escolas públicas e particulares se agravaram
Alunos das principais escolas privadas de São Paulo organizaram um manifesto pedindo o adiamento do Enem. Os alunos consideram inadequada a data anunciada pelo Ministério da Educação e a insistência na manutenção do calendário anterior à pandemia de Covid-19. Uma das principais razões destacadas no documento é que durante o isolamento social, as desigualdades entre escolas públicas e particulares se agravaram por conta do ensino à distância.
“Pedimos uma ação imediata dos agentes públicos e da sociedade civil para buscar uma alternativa em conjunto com a rede de Ensino Básico e Superior de forma a que não se aprofundem as desigualdades já existentes no país. O Enem, apesar de já ser uma prova com desigualdades causadas pelo sistema de ensino precarizado, tem aberto portas para os principais processos de ingresso nas universidades (SiSu, ProUni e Fies); seu modelo de exame – unificado e aplicado em toda a nação – garante maior acesso ao Ensino Superior para jovens de baixa renda”.
Leia também:
Ministro da Educação não descarta adiar data do Enem
STJ rejeita pedido para adiar data da prova do Enem
O texto destaca ainda que “mesmo em escolas privadas capazes de investir em infraestrutura para essa nova forma de ensino remoto, os alunos e professores não têm preparo para esse modelo e se deparam com inúmeros desafios. Quanto às escolas públicas, vemos uma realidade de alunos e professores desatendidos, sem suporte para dar continuidade ao ensino nesse novo formato.”
Julia Singer, 17 anos, estudante do Colégio Santa Cruz, revelou que a inciativa da ação surgiu pelo incômodo causado pela propaganda do governo federal e falas do ministro da Educação, Abraham Weintraub. “Eu e o Renan, presidente do grêmio da Escola Vera Cruz, estávamos inconformados com as falas do Ministro da Educação sobre o Enem, com a propaganda feita pelo MEC e com o total descaso do Ministério com os alunos da escola pública, além de indignados com a manutenção do calendário pré-pandemia. A carta surgiu como uma resposta à decisão do Ministério e como um apelo à sociedade civil e à classe política”.
Através do “boca a boca” em redes sociais, a iniciativa acabou atingindo alunos de escolas públicas e privadas conquistando assinaturas e alunos interessados na causa. “Queríamos fazer uma carta democrática, onde todos pudessem opinar, em menos de seis dias. Precisávamos lançá-la no dia 15 para coincidir com os movimentos da UNE pedindo o adiamento da prova. Foi muito complicado e estressante coordenar um grupo tão grande em tão pouco tempo”.
Durante o processo, entre as dificuldade encontradas pelos estudantes em todo o país estão: falta de acesso à internet ou até mesmo, de boa qualidade de conexão; comprovante de carteirinha ou matrícula, já eu muitos estudantes não tinham o que mandar e nem como mandar, pois a entrega desses documentos pela rede pública, que já era difícil, ficou caótica com a pandemia e muito estudantes não tinham CPF.
O projeto foi crescendo e organizações sociais se interesaram pela causa, entre elas, o projeto Ipê. “A Bancada da Educação, que é uma iniciativa cívica de acompanhamento de legislaturas e lançamentos de novas candidaturas que tenham como foco a educação, eu já tinha contatos prévios e ajudava em alguns projetos com o professor Miguel Thompson. No caso do Curso Ipê de Educação Popular, uma colega era voluntária lá e nos colocou em contato com o presidente. Ele, por sua vez, nos ajudou a chegar no Mapa Educação, que foi um grande parceiro na divulgação da carta. Já o Movimento de Inovação na Educação e o Comunidade Educativa CEDAC são parte de um grupo de entidades que nós procuramos ativamente em busca de apoio”.
O Enem é uma porta de entrada para estudantes de escolas públicas e privadas nas universidades, principalmente as federais, através do ProUni, Fies e SiSu. Mesmo com todas as críticas, o exame é um importante instrumento de universalização de acesso ao Ensino Superior. Para os estudantes, o objetivo da iniciativa é “mostrar para os brasileiros e relembrar as autoridades que, quando se fala em estudantes brasileiros, não falamos naqueles jovens que aparecem na campanha do MEC com computadores de 10 mil reais e celulares de última linha.
A fala do Ministro Weintraub sobre o Enem não ser feito “para consertar injustiças” é errada, cínica e anti-republicana. A própria Constituição Federal diz no artigo 206 que “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” e “VI. gestão democrática do ensino público, na forma da lei e VII. garantia de padrão de qualidade.”
Quem tiver interesse e quiser participar, no site cursoipe.com/adiaenem está a íntegra da carta com uma lista atualizada de assinaturas. No formulário, instituições, pessoas jurídicas e figuras públicas podem endossar a campanha. No caso de pessoas físicas, elas podem se inscrever no link da campanha.
O documento, que teve a adesão de escolas do Pará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Maranhão e Espírito Santo, públicas e privadas, será enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele já foi encaminhado à Câmara dos Deputados e ao Senado, e também para autoridades federais e estaduais de ensino.
Escolas participantes:
Assentamento João Batista
Bancada da Educação
CAp-COLUNI/UFV
Captar Grêmio do Colégio de Aplicação da UFPE
CEEP – Em gestão Severino Vieira
Ceep Severino Vieira
Colégio Bandeirantes
Colégio Costa Aguiar
Colégio Dante Alighieri
Colégio e Curso Pensi Teresópolis RJ
Colégio Equipe
Colégio Leonardo da Vinci Alfa
Colégio Losango de Raul Soares
Colégio Magno
Colégio Presbiteriano Mackenzie
Colégio Santa Dorotéia
Coletivo de Alunos do Terceiro Ano do Colégio São Paulo Teresópolis
Colégio Único Teresópolis
Colégio Visconde de Porto Seguro
Coletivo de alunos do Colégio Pentágono
Conselho Jovem da Associação Vaga Lume
CUCA (Cursinho Unificado do Campus de Araraquara) – BES
Cursinho Geração NEAR
Cursinho Popular Clarice Lispector
Cursinho Popular Construção
Cursinho Popular da FFLCH
Cursinho Popular da Unesp – S.E.U
Cursinho Popular Florescer
Cursinho Popular Valdemar Gomes (PUC-SP)
Curso Ipê de Educação Popular
Curso Leopoldina
Curso Tereza de Benguela
Escola Alecrim
Escola Estadual Doutor Paulo Diniz Assis
Escola Estadual Regina Pacis
Escola Lourenço Castanho
Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha)
Escola Waldorf Rudolf Steiner
Etec Albert Einstein
Grêmio de Construção Coletiva Vera Cruz
Grêmio do Colégio Santa Cruz
Grêmio Estudantil Antonio Roberto Fernandes
Grêmio Estudantil Denilson Vasconcelos, Gestão Avante, Instituto Federal de Ciência e
Tecnologia da Bahia – Campus Salvador
Grêmio Estudantil Matheus Soares CEFET/RJ- Uned Nova Iguaçu
Grêmio Gaia colégio ítaca
Grêmio Glória Martini – Escola Mobile
Grêmio LinEAR – Escola de Aplicação do Recife (UPE/FCAP)
Grêmio Pão de Milho Colégio Equipe
Grêmio Protagonismo Jovem
IFMG Campus Ibirité – Grêmio UEF
IFMG Campus Piumhi
Instituto Práxis de Educação e Cultura
Movimento Popular da Juventude do Maranhão – MPJM
Sesi Luiz Latorre
Severino Vieira
U.E.B José Ribamar Ribeiro
Uema
Unesp Dracena
Apoio:
Bancada da Educação
Curso Ipê de Educação Popular
Mapa Educação
Movimento de Inovação na Educação
CEDAC