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    Adaptações em festivais são essenciais para que PCDs aproveitem opção de lazer

    Pessoas com deficiência apontam falta de acessibilidade em eventos de entretenimento

    Influenciadora Kitana Dreams no Rock In Rio
    Influenciadora Kitana Dreams no Rock In Rio Arquivo Pessoal

    Carol Raciunasda CNN

    Em São Paulo

    “Eu vejo alguns cantores de quem eu sou fã, mas sei que no show não vai ter intérprete. Olho a programação e não tem acessibilidade”, conta Kitana Dreams, influenciadora surda. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, existem cerca de 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade que têm alguma deficiência.

    Apesar do elevado número, nem sempre essas pessoas têm a oportunidade de aproveitar momentos de lazer, já que espaços para grandes eventos, como festivais de música, necessitam de adaptações específicas. 

    Para Kitana, a conexão com a música é uma parte importante de sua vida. “Ainda criança, eu entrei numa escola de dança, encontrei um grupo de surdos que fazia aula e eu comecei a me interessar por isso, a aprender a dançar, a sentir a vibração e o ritmo da música.” 

    Segundo especialistas no assunto, para que haja essa acessibilidade em eventos de larga escala, é necessário estudar o público, levantando não apenas a quantidade de pessoas com deficiência que estarão no local, mas também qual é a necessidade de cada uma.

    Para fazer isso, pode ser necessário contar com a assistência direta dessas pessoas, explica o coordenador de acessibilidade do Rock In Rio, Thiago Amaral, “a gente precisava saber qual era a dor dessas pessoas. Então a gente foi procurando sempre alguém que fosse público do festival e nisso sempre temos uma ajuda. Então, por exemplo, para qualquer coisa que eu que eu faço, sempre conto com uma pessoa que eu chamo até de aliada, que é a pessoa que não trabalha diretamente ao Rock In Rio, mas é PCD.” 

    O evento, que aconteceu neste mês após ansiosa espera em decorrência da pandemia, contou com adaptações como 22 banheiros acessíveis, plataformas elevadas nos palcos, audiodescrição e ainda outros, como acesso especial aos brinquedos disponíveis. 

    Para a influenciadora Pequena Lo, que esteve no Rock In Rio e afirmou ter tido uma experiência positiva, contar com acessibilidade é essencial.

    Em entrevista à CNN, ela contou que passou por uma experiência ruim ao participar de outro festival em São Paulo, no primeiro semestre deste ano.

    “Eu fiquei em um espaço e, depois que eu terminei de trabalhar, queria subir para o segundo andar, onde teria um after. Tinha um elevador, mas, de acordo com a brigadista, ele não estava mais funcionando. E aí um rapaz que nem me conhecia, me pegou no colo, subiu as escadas e aí outras pessoas tiveram que subir a motinha. Então foi um caso bem complicado.” 

    A influenciadora conta ainda que irá ao Planeta Brasil, festival de música que acontecerá no próximo final de semana, em Belo Horizonte (MG).

    “Agora que estou conhecendo esses festivais e outros que estão por vir, então todos são a primeira vez. Eu não sei como é a acessibilidade lá, vamos ver, né?”, contou ela, ao relatar que, apesar de ter passado a frequentar mais esses eventos após a pandemia, quando passou a ser reconhecida nas redes sociais, há sempre uma dúvida com relação às possibilidades de acesso de pessoas com deficiência ao local e para exercer as atividades dispostas ao público geral. 

    Quando o lazer proporcionado pela música ultrapassa as barreiras do preconceito e da falta de adaptação, pessoas com deficiência podem entrar em contato com seus artistas preferidos, como conta Kitana Dreams sobre sua experiência no Rock in Rio.

    Eu não escuto a letra, mas tinha um intérprete de libras, então eu podia acompanhar a letra das músicas através dele. Só de ver a Ivete cantando, obviamente eu fico emocionada, mas ver a letra da música em libras, saber o que ela está cantando e entender aquilo, nossa! Para mim foi mais forte ainda

    Kitana Dreams, influenciadora digital

    Apesar da experiência positiva, ela avalia que ainda há muito o que evoluir. “O que ainda falta para melhorar é justamente ampliar mais a acessibilidade, os intérpretes estarem em todos os shows e também haver mais informações para a gente não chegar lá na hora e ter que ir para um lado e para o outro, procurando onde tem a acessibilidade ou não”, explica Kitana. 

    E essa não foi a única experiência dela em um grande evento musical. Em 2017, Kitana foi a um festival, mas as suas expectativas não foram atingidas, porque não foram proporcionados meios adaptados para que ela pudesse aproveitar.

    “Me marcou bastante, porque não tinha nada de acessibilidade. Na verdade, eu fiquei sozinha, não conhecia ninguém, não conhecia o lugar. Eu tentei ir em alguns lugares, mas não tinha acessibilidade, então foi bastante difícil. Não tinha intérprete nenhum em todo o festival para ajudar em alguma coisa, me dar alguma informação.”

    Influenciadora Kitana Dreams no Rock In Rio / Arquivo Pessoal

    Para ela, o anseio por aproveitar momentos como esse faz parte de uma necessidade de pertencimento. “Eu acho que acessibilidade é muito importante para a gente se sentir mais seguro e feliz. Isso mexe com a nossa autoestima. A gente não precisa ficar preocupada, a gente pode sentir e aproveitar os festivais como as outras pessoas.”