A poucos dias do Enem, professores analisam como eleições podem impactar a prova
Exame será realizado nos dias 13 e 20 de novembro; professores reiteram a importância de não utilizar a redação para manifestações partidárias


A primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) acontece em 13 de novembro, duas semanas após o segundo turno das eleições. Nessa fase, os alunos terão que escrever a redação, cujos temas costumam abordar temas contemporâneos e de impacto social. A primeira prova também aborda 45 questões de Linguagens e 45 questões de Ciências Humanas.
Diante de uma eleição polarizada e com temas sensíveis em discussão, estudantes questionam a possibilidade de a disputa impactar a prova de alguma forma. A CNN ouviu professores, especialistas em redações, para esclarecer como e de que forma a temática pode ser abordada no conteúdo no Enem.
Os especialistas afirmam que o exame dificilmente tratará o tema eleições de forma direta. Segundo eles, isso nunca ocorreu em outras edições da prova. Para a professora de redação do curso Descomplica, Isabel Sodré, entretanto, a dúvida ainda é “completamente pertinente”.
“Não é um cenário por qual os alunos passem todos os anos. É interessante olhar o passado e ver como foi nos últimos anos eleitorais. Em 2018 o tema falou sobre ‘Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet’. Já em 2014, o Enem falou sobre “Publicidade infantil em questão no Brasil”, disse a professora.
“A gente vai percebendo que nesses anos, atípicos, houve uma manutenção desse perfil de trabalhar com temas de teor social, temas que analisam a relação das estruturas da sociedade, das instituições da sociedade e como isso impacta a manutenção de direitos”, acrescentou.
Eleições podem inspirar temas
De acordo com o professor de redação do curso Descomplica Rafael Cunha, as eleições podem inspirar na prova do Enem a abordagem de temas ligados à política,
“Pode falar sobre democracia, sobre discurso de ódio nas redes, fake news, sobre o poder do voto; todos esses temas e caminhos podem ser sugeridos a partir do contexto das eleições”, afirma o professor.
“Já inspirou outro tema que falava sobre o direito ao voto e uso dessa arma, no bom sentido, para garantir as transformações sociais que o Brasil precisa. As eleições sempre podem inspirar diversas temáticas”, concluiu Cunha.
Como se preparar
Os especialistas afirmam que a melhor forma de se preparar para o Enem em um ano eleitoral é buscar os conceitos ligados à temática, e que podem ser utilizados na construção do texto.
“Qual o conceito de democracia, qual o conceito de república, o que é agir de forma moral e ética no contexto das eleições, o que é cidadania. Todos esse conceitos podem direta e indiretamente serem utilizados em uma redação”, disse Rafael Cunha.
A professora Isabel Sodré reitera que, nas construções das argumentações, os candidatos devem tomar cuidado para não construir textos partidários que façam análises políticas “nesse sentido muito inflamado, porque isso fere o conceito da argumentação como um viés de um texto mais teórico, mais científico na sua gênese”.
Manifestação política
Independente do tema a ser abordado na redação do Enem, mesmo que a poucos dias da eleição que define o próximo presidente e governadores, é importante ressaltar que manifestações políticas não devem ser utilizadas nas provas, segundo esclarecem os especialistas.
“Um ano eleitoral coloca em voga muitos sentimentos à flor da pele e isso pede para quem está se preparando para essas provas que se redobre a atenção. Não construir de maneira alguma, independentemente de ser ano eleitoral ou não, um discurso partidário”, disse Isabela Sodré.
O professor também sugere que o partidarismo seja evitado, e traz duas sugestões para os estudantes que vão realizar a prova.
“Primeiro: não citar políticos ou partidos, não é esse o caminho do Enem. Segundo: trabalhar sempre com direitos e questões universais, como direitos humanos, direitos do indivíduo e cidadão, direitos e garantias fundamentais como aqueles que estão no artigo 5 da Constituição federal”, disse.
“Tudo isso sempre vai ser de boa abordagem, sem necessariamente pender para um lado ou o outro do lado ideológico”, incluiu.
A segunda prova do Enem será dia 20 de novembro, serão 45 questões de Matemática e 45 questões de Ciências da Natureza.
Veja 10 momentos marcantes na história do Enem
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No primeiro ano, em 1998, apenas duas universidades no Brasil utilizavam a nota do Enem como método de classificação para o vestibular • Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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O MEC passou a conceder isenção da taxa de inscrição aos estudantes da rede pública em 2001.houve um salto no número de participantes, e no ano seguinte o Enem registrou 1.829.170 inscritos • Fábio Motta/Estadão Conteúdo
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15/01/2009: Foto de interno da Fundação CASA, em Itaquera, que faz faculdade com bolsa de estudo integral através do programa ProUni. Em 2004, o programa começou a usar a nota do Enem para concessão de bolsas de estudos integrais e parciais aos participantes • Sérgio Neves/Estadão Conteúdo
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Em 2011, a participação no Enem seria obrigatória para quem quisesse financiar seus estudos por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) • Foto: Agência Brasil
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Estudantes realizam manifestação contra a fraude no processo do Enem 2009. Os manifestantes seguiram da Câmara Municipal, na Praça da Cinelândia, até o Palácio Gustavo Capanema, sede do Ministério da Educação, no centro do Rio de Janeiro • Fábio Motta/Estadão Conteúdo
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Estudantes protestam contra as falhas no Enem em 2010. Alguns estudantes colocaram fogo em cartões de respostas e foram até o Palácio Capanema, sede do Ministério da Educação (MEC) • Fábio Motta/Estadão Conteúdo
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Estudantes fazem manifestação no vão livre do MASP, em São Paulo devido aos problemas ocorridos no Enem 2010. Vazamento dos dados dos candidatos foi um deles • Jonne Roriz/Estadão Conteúdo
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A correção das redações do Enem passou a ser mais rigorosa em 2013. As providências foram tomadas para que casos como inserção de receita de miojo ou hino do Palmeiras - que receberam nota acima 500 - não sejam tolerados • Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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O segundo dia de aplicação do Enem 2020 teve 55,3% de faltas, abstenção recorde no exame, segundo o Inep. A pandemia adiou a prova de 2020 para janeiro de 2021, mesmo assim, muitos alunos não se sentiram preparados ou seguros para fazer a prova • Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
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Desde 2020, o participante pode escolher entre fazer o exame impresso ou o Enem Digital, com provas aplicadas em computadores, em locais de prova definidos pelo Inep. O MEC anunciou o lançamento da modalidade em 2019 • Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Dezenas de servidores do Inep, órgão responsável pelo Enem, pediram demissão coletiva de seus cargos em resposta ao que classificam de “má gestão” do instituto, órgão ligado ao Ministério da Educação • Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil