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    67 refugiados no RJ foram à Justiça por problemas trabalhistas

    Dados são da Cáritas, organização que acolheu Moïse Kabagambe; há casos de trabalho análogo à escravidão, cárcere privado de empregadas domésticas e o de uma angolana que denuncia ter perdido emprego por usar tranças

    Leandro Resendeda CNN no Rio de Janeiro

    A fuga de uma realidade que muitas vezes é de fome, miséria e violência vira esperança de dias melhores na hora da chegada à Cidade Maravilhosa. Mas no caminho de refugiados que escolhem o Rio de Janeiro estão o racismo, a dificuldade de inclusão e a xenofobia – fatores que os fazem vítimas frequentes de violações quando eles procuram emprego.

    Levantamento da Cáritas-RJ feito a pedido da CNN revela que, só em 2021, 67 refugiados denunciaram violações de seus direitos trabalhistas.

    A coordenadora jurídica da Cáritas, Larissa Moura Getirana, diz que recebe muitas denúncias de que empregadores ameaçam os refugiados. “O empregador diz que se o refugiado entrar na Justiça, vai perder o direito de residir no Brasil. E isso não é verdade, apesar de ser uma ameaça recorrente”.

    O tema veio à tona após a morte de Moïse Kabagambe, espancado até a morte no final do mês de janeiro. A Polícia Civil e o Ministério Público do Trabalho investigam se a morte dele está relacionada a cobrança de duas diárias de serviço que não lhe foram pagas.

    “Temos casos de trabalho análogo à escravidão, cárcere privado de empregadas domésticas. E uma sensação dos empregadores de que os refugiados não chegarão à Justiça”, afirmou Larissa Getirana.

    Um dos casos que apontam para a discriminação dos refugiados está sendo atendido pela advogada Bianca Bomfim Carelli, que representa a angolana Filomena Diassonama. No Brasil desde 2017, no ano passado ela conseguiu um emprego como estoquista em uma rede de supermercados. Fez o processo seletivo, recebeu o crachá e foi dispensada no primeiro dia de trabalho: ela usava tranças, que, segundo ela, são uma marca de sua relação com sua cultura e país.

    “Trança é algo que tem até pessoas brancas usando. Mas eu iria usar touca. Isso interfere alguma coisa? Acho que não interfere. Fui dispensada no meu primeiro dia de trabalho”, afirmou.

    O Congo, de Moïse, e a Angola, de Filomena, são dos dois países que enviaram mais negros que foram escravizados no Rio de Janeiro entre os séculos XVI e XIX: cerca de 720 mil só no século XVIII, segundo dados da Universidade de Emory, dos Estados Unidos. Nessa época, os negros eram medidos por sua força física, sua suposta incapacidade de sentir dor. Desumanizados.

    O tempo passou e a história não mudou. “A gente já ouviu de empregadores que eles colocam cargas muito pesadas para ver se ‘o negro’ aguenta essa carga excessiva de trabalho físico. É algo que se aguentou por séculos, uma mentalidade escravocrata que se mantém nos dias de hoje”, explicou.