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    Super Bowl: Entenda a história e importância das líderes de torcida no futebol americano

    Uniformes de cheerleaders da NFL são escrutinados desde a década de 1970, mas os críticos podem estar focando no ponto errado

    Cheeleader do Cincinnati Bengals performa durante jogo da equipe contra o Minnesota Vikings, em 12 de setembro de 2021.
    Cheeleader do Cincinnati Bengals performa durante jogo da equipe contra o Minnesota Vikings, em 12 de setembro de 2021. Foto: Ian Johnson/Icon Sportswire via Getty Images

    Jacqui Palumboda CNN

    Este domingo (13), quando o Los Angeles Rams e o Cincinnati Bengals entrarem em campo no Super Bowl, marcará o retorno das cheerleaders ao maior evento esportivo dos Estados Unidos, depois de terem sido impedidas de entrar em campo no ano passado por causa da pandemia de Covid-19.

    Embora atualmente os comerciais e a apresentação musical do intervalo provoquem mais falatório na internet do que aquelas que torcem à beira do campo, o que as líderes de torcida representam – e o que elas vestem – têm sido há tempos um tópico de interesse público, levantando questões sobre estereótipos de gênero e o tratamento justo com as atletas de cheer.

    Esse tem sido o caso desde que as cheerleaders do Dallas Cowboy foram transmitidas nacionalmente na televisão, na década de 1970, vestindo croppeds azuis com manga comprida, coletes brancos e mini shorts brancos – uma roupa que hoje figura na coleção do museu Smithsonian.

    Essa ruptura com as saias plissadas e os tops modestos vistos ao longo da década de 1960 acendeu uma luz.

    Era “diferente de qualquer coisa já vista em esportes profissionais”, disse à CNN Sarah Hepola, autora e âncora do podcast “America’s Girls”, que examina a influência cultural da equipe, que serviu de inspiração para futuras equipes, tanto em estilo quanto em rotina.

    As cheerleaders do Dallas Cowboys se tornaram as queridinhas da América depois de serem transmitidas durante o Super Bowl em 1976. / Foto: ABC Photo Archives/Disney General Entertainment Content via Getty Images

    “[Elas] definitivamente tiveram um efeito dominó entre as cheerleaders da NFL em particular. Eu não acho que qualquer outra equipe tenha tido um impacto parecido”, disse Mhkeeba Pate, âncora do podcast “Pro Cheerleading Podcast: The Truth Behind The Poms”, em entrevista à CNN por telefone.

    Pate fazia parte da Seattle Seahawks Sea Gal (a equipe de cheer foi renomeada para Seahawks Dancers) entre 2011 e 2016.

    O próprio uniforme de Pate no Seahawks era de estilo semelhante (ao do Dallas Cowboys dos anos 1970), mas com um toque náutico: um cropped branco decotado com mangas bufantes e uma gola de marinheiro incrustrada de strass; um minúsculo shorts branco com cinto; e botas brancas.

    “Quando [você está] com esse uniforme, isso eleva todo seu senso de importância – a maneira como você se move e sua postura quando está à beira do campo”, lembrou. “Tudo fala por você e você tem que combinar isso com a maneira como você se comporta”, disse.

    Uniformes moderados

    O uniforme de líder de torcida varia entre as categorias (esportes profissionais, escolares e “All Stars”), e transmite diferentes coisas: popularidade, orgulho, espírito, sexo, determinação, coragem.

    Os homens podem ter sido os primeiros cheerleaders, vestindo suéteres e calças formais (até a Segunda Guerra Mundial mudar o perfil demográfico do esporte). Mas os uniformes de líderes de torcida têm sido um símbolo duradouro e complicado da feminilidade americana na cultura pop – que vai da puritana Sandy em “Grease” à questionadora Megan no clássico LGBT “Nunca Fui Santa”.

    Alguns uniformes se tornaram famosos: a atriz Gabrielle Union e sua filha mais nova viralizaram em 2019 usando uniformes do Clovers combinando, na franquia “Bring It On”, no qual Union estrelou duas décadas antes. Já a modelo Kendall Jenner ganhou seu próprio uniforme Navarro da série documental da Netflix “Cheer”, durante um episódio do show da Ellen DeGeneres.

    As líderes de torcida do Tampa Bay Buccanneers, em 2016, vestindo duas peças com tema de pirata. / Foto: Don Juan Moore/Getty Images
    Desde então, a equipe dos Bucs introduziu um uniforme mais esportivo, com tênis. / Foto: Andy Lewis/Icon Sportswire via Getty Images

    Mas enquanto os uniformes nas categorias escolares e All Stars são, no geral, de estilo mais esportivo e colegial, as equipes de cheer da NFL têm historicamente se concentrado em glamour, sex appeal e looks temáticos.

    As líderes de torcida do Denver Broncos canalizaram o estilo faroeste em coletes e calças combinando, enquanto a equipe do Tampa Bay Bucaneers por muitos anos favoreceu um estilo pirata feminino, com tops de sutiã com cordões e minissaias irregulares.

    Os últimos anos viram uma mudança, no entanto, à medida que as equipes da NFL abraçaram looks mais atléticos e menos reveladores. As cheerleaders dos Bucs trocaram o sutiã e minissaia por leggings e camisas cortadas; o Minnesota Vikings se afastou de seus tops com babados e ombros descobertos para um design de roupas para treino; neste ano, o Cincinnati Ben-Gals também introduziu um top menos revelador.

    As líderes de torcida do Cincinnati Bengals aposentaram esse estilo na temporada passada, optando por tops de manga curta. / Foto: Ian Johnson/Icon Sportswire via Getty Images

    Em 2018, as líderes de torcida do Indianapolis Colts revelaram vestidos de peça única que lembravam as fantasias de patinadora no gelo, antes de trazer de volta tops curtos mais aerodinâmicos com decotes, na temporada passada.

    O recém-nomeado New Orlenas Saints Cheer Krewe (antigo Saintsations) fez algumas mudanças de roupa diferentes para membros da equipe feminina desde 2018, primeiro trocando suas duas peças douradas por um macacão de manga comprida com cinto no estilo dos anos 1970, depois adotando um design mais colegial, com saias de babados, na temporada passada.

    Pate chamou a tendência de um “movimento de afastamento do uniforme glamoroso”. “É definitivamente mais moderado”, disse ela.

    Alguns novos uniformes foram apresentados à medida que as equipes se tornaram mistas e foram renomeadas como equipes de dança ou entretenimento – mas em outros casos, as mudanças foram feitas em um esforço para revisar a imagem criada pelas cheerleaders da NFL.

    “Essa nova abordagem é projetada para elevar as cheerleaders do Colts como uma das principais equipes de cheer e dança na NFL, abandonando muitos dos estereótipos frequentemente associados ao cheer profissional e as atletas”, disseram os Colts ao USA Today em 2018.

    Pompons e pornografia

    Embora os últimos anos tenham dado origem a mais conversas sobre a imagem e o tratamento das líderes de torcida, as origens desse debate podem ser encontradas nas reações aos infames designs do Dallas Cowboys da década de 1970.

    “Embora não pareça atrevido para nós, na época, você tem barrigas expostas, você tem uma camisa que amarra na caixa torácica de uma forma que enfatiza o decote”, descreveu Hepola em uma entrevista por telefone.

    “Você tem shortinhos, botas go-go”, completou. Os detalhes de estrela azul em branco também invocavam vagamente a bandeira americana, apontou ela, acrescentando apelo patriótico.

    As líderes de torcida do Dallas Cowboys mantiveram um estilo de uniforme semelhante por cinco décadas, e dois uniformes estão agora na coleção do museu Smithsonian. / Foto: Matthew Pearce/Icon Sportswire via Getty Images

    Quando a partida do Super Bowl de 1976 entre Dallas Cowboys e Pittsburgh Steelers foi ao ar para mais de 70 milhões de pessoas, a equipe de torcida do Texas foi catapultado à fama. Nos anos seguintes, elas fizeram aparições na televisão e venderam pôsteres e outras mercadorias e se tornaram o tema de um filme feito para a TV, estrelado por Jane Seymour, que atraiu 48 milhões de espectadores.

    Dana Adam Shapiro, diretor de “Daughters of the Sexual Revolution: The Untold Story of the Dallas Cowboys Cheerleaders”, caracterizou o fenômeno em uma entrevista à ESPN de 2018, dizendo: “Elas eram igualmente amadas e odiadas”.

    “Elas eram pinups – seu pôster vendeu mais que Farrah Fawcett – e também foram atacadas por grupos religiosos e por grupos feministas”, disse Shapiro.

    Outros esquadrões vieram depois, tentando alcançar o mesmo nível de fama. O uniforme “era tão popular que (as líderes de torcida do Dallas Cowboy) rapidamente tiveram que registrá-lo porque muitos esquadrões diferentes os estavam imitando”, disse Hepola.

    Mas a política dos uniformes das líderes de torcida estava tomando forma, liderada pela questão de quão sexy essas mulheres deveriam ser e quem decide.

    As Saintsations entretêm multidão durante um jogo em Nova Orleans, Louisiana, em dezembro de 2014. / Foto: John Korduner/Icon Sportswire/Corbis/Icon Sportswire via Getty Images

    Em 1978, a Playboy aproveitou a imagem de “girl next door” que as líderes de torcida da NFL haviam cultivado, pedindo a mulheres de diferentes times – assim como cinco ex-membros da equipe do Dallas Cowboys – para posar.

    A capa causou um escândalo e, em um incidente mais tarde narrado pelo documentário de 2018 “Sidelined”, um esquadrão inteiro – o San Diego Chargettes – foi demitido antes que a edição chegasse às bancas.

    O uniforme dos Cowboys foi infamemente copiado para o filme pornográfico “Debbie Does Dallas”, que acompanha uma capitã de torcida do ensino médio enquanto ela tenta entrar para o time fictício do Texas Cowgirls.

    O Dallas Cowboys Cheerleaders, Inc. (uma subsidiária do time Dallas Cowboys) abriu um processo em 1979 e acabou ganhando uma ação contra o cinema de Nova York que o fez, mas o caso teve um efeito não intencional, disse Hepola.

    “É um pornô de baixo orçamento. Ninguém está realmente prestando atenção nisso”, disse Hepola. “E de repente, esse filme se torna um dos cinco maiores pornôs de todos os tempos por causa do processo”, explicou.

    Atacando o problema errado

    Agora, como os uniformes das líderes de torcida da NFL tendem a estilos mais atléticos, Hepola acredita que houve uma mudança cultural.

    “Você tem que olhar para o seu público. E não apenas os homens, mas também as mulheres, que são uma grande parte da conversa”, disse ela.

    “Acredito que a fantasia que eles querem vender hoje em dia tem muito mais a ver com atletismo e força do que apelo sexual e beleza”, argumentou.

    Mas Pate desconfia das motivações para diminuir o tom dos uniformes.

    “Havia equipes que queriam se distanciar da imagem de uma líder de torcida sexy e bonita para se concentrar mais em (ser) atletas profissionais, o que posso aplaudir em certos níveis, porque somos atletas”, disse ela.

    Mas, apontando para questões mais profundas em torno da equidade que as líderes de torcida da NFL dizem ter enfrentado, incluindo baixos salários, práticas discriminatórias e assédio sexual, Pate se preocupa que a ênfase nos uniformes dê muito peso ao problema errado.

    “A solução é cobri-las, mudar o que estão vestindo, mudar a forma como estão dançando”, disse Pate. “Acho que é equivocado… (os uniformes) não eram os problemas a serem corrigidos.”

    Em 2019, as líderes de torcida dos Colts usaram vestidos brilhantes de uma peça por uma temporada antes de introduzir uniformes de duas peças no estilo colegial, no ano passado. / Foto: Stacy Revere/Getty Images

    No ano passado, o documentário “A Woman’s Work: The NFL’ Cheerleader Problem” trouxe à tona que, no momento das filmagens, 10 das 26 equipes da NFL com torcidas organizadas haviam sido processadas por roubo de salário, condições inseguras de trabalho, assédio sexual e discriminação.

    “É realmente um microcosmo do que todas as mulheres estão enfrentando agora no local de trabalho, lutando contra esses estereótipos e esses padrões hipócritas que enfrentamos”, disse a diretora do documentário, Yu Gu, à CNN.

    Na época, a CNN conversou com ex-líderes de torcida da NFL que disseram que seus ganhos estavam abaixo do salário mínimo; não eram remuneradas por treinamentos, treinos em equipe e aparições públicas; e esperava-se que elas próprias pagassem pelos uniformes e equipamentos.

    Pate disse que acredita que mudanças no sistema são necessárias, mas elas precisam vir por meio de uma mudança de cultura ou atitudes – não uma mudança de roupa.

    “Acho que se houvesse um pouco mais de respeito e compreensão sobre o que fazemos e o quanto trabalhamos para usar esse uniforme… acho que a crítica (contra nossas roupas) seria muito mais justa e equilibrada”, disse ela, enfatizando que as líderes de torcida são dignas de respeito, independentemente do que estão vestindo.

    “No geral, fala à sociedade em geral e à falta de respeito pelos corpos das mulheres e pelas escolhas que fazemos em torno de nossos corpos e como nos representamos”, acrescentou.

    “Alcançamos o nível mais alto do nosso esporte”, acrescentou. “É por isso que significa tanto para esses homens e mulheres – porque (nós) merecemos.”

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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