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    Sebastião Salgado: ‘Precisamos ser inteligentes o suficiente para sobreviver’

    Em novo livro, "Amazônia", fotógrafo brasileiro faz um convite à reflexão sobre a importância da sustentabilidade e da preservação da natureza para o futuro

    Thomas Page, da CNN

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    Quando você descobre que Sebastião Salgado estudou economia, algo desperta um novo olhar para o trabalho do grande fotógrafo. Todos os pontos se juntam: a corrida do ouro no Brasil, os incêndios de petróleo no Kuwait, a fome na Etiópia – a economia como força incontornável, moldando vidas e dobrando o planeta à sua vontade.

    Exceto que o planeta vá se curvar tanto. Em algum ponto, ele deve quebrar. Salgado, que passou grande parte do seu primeiro ato como fotógrafo registrando o fim de uma revolução industrial global, dedicou o segundo a capturar o que ainda poderia ser perdido se a urbanização, o consumo desenfreado, as mudanças climáticas e a indiferença social não fossem controlados.

    Já na casa dos 70, Salgado não desiste, voltando suas lentes para o maior tesouro de sua nação: a Amazônia. Segundo seu editor, pode muito bem ser o projeto final dessa envergadura que o venerável brasileiro empreende.

    Se o último livro de Salgado, “Gênesis”, foi uma busca para documentar lugares na Terra imaculados pelo homem, seu último volume “Amazônia” fala sobre a ideia de que os humanos podem viver neste planeta de forma sustentável, traçando o perfil das comunidades indígenas da floresta, e oferecendo novas perspectivas sobre a própria floresta.

    “Estamos apresentando uma Amazônia diferente”, diz à CNN. “Não há incêndios, não há destruição – a Amazônia que deve ficar lá para sempre”.

    Salgado se aventurou pela Amazônia desde os anos 1980, fomentando relacionamentos com algumas de suas tribos, das quais 188 só no Brasil, escreve ele no livro. A algumas, como os Yanomami, ele retornou ao longo de décadas, enquanto teve acesso privilegiado a outras, tornando-se o primeiro não indígena a visitar todas as aldeias do povo Zo’é, diz Salgado. Para a “Amazônia”, ele passou nove anos e 48 viagens desaparecendo na floresta por semanas, às vezes meses de cada vez, voltando com novas histórias e sentimentos de comunhão. “Quando viemos trabalhar com essas tribos, voltamos para casa”, diz ele.

    As viagens de Salgado para esses encontros fazem parte do novo livro. Suas passagens rio acima, de barco e às vezes de canoa, são documentadas resumidamente. No entanto, voar foi uma revelação. De seus voos em helicópteros e aviões militares Salgado voltou com fotos de montanhas rompendo a bacia florestal e céus envoltos em nuvens – “rios aéreos“, como ele os descreve, que carregam bilhões de toneladas de água da floresta todos os dias e as depositam como chuva na América do Sul. É um lembrete de que o que acontece na floresta – e com a floresta – tem consequências de longo alcance.

    Mesmo que a Amazônia pareça intocada em suas fotos, Salgado lamenta a floresta tropical já perdida. “Por muito tempo, construímos nossa sociedade com base nos recursos naturais. Destruímos”, diz ele. “Devemos proteger o que não destruímos. Devemos ser inteligentes o suficiente para sobreviver”.

    O povo da Amazônia “vive em comunhão total, paz total, com o meio ambiente”, diz Salgado. Eles também podem oferecer lições: embora ele descreva as tribos como “a pré-história da humanidade”, ele também descreve cada uma como um “futuro” em potencial para o planeta.

    “Não podemos construir nosso futuro – o futuro da humanidade – com base apenas na tecnologia”, acrescenta. “Devemos olhar para o nosso passado, devemos levar em consideração tudo o que fizemos em nossa história. O ser humano tem uma grande oportunidade: a pré-história da humanidade está na Amazônia agora”.

    Quando se trata de ambientalismo, Salgado não pode ser acusado de conversa fiada. Há anos, ele tem praticado o que pregava por meio do Instituto Terra, centro que fundou com a esposa Lélia. O local na Mata Atlântica, sudeste do Brasil, já foi a fazenda de gado de seus pais, e como pasto havia se tornado um “deserto” ecológico, admite. Desde 1999, o casal e uma equipe crescente de funcionários plantaram mais de 3 milhões de árvores cobrindo 300 espécies e observaram a inundação da vida selvagem. “Foi uma espécie de milagre”, diz ele. “Com as árvores, os insetos, os mamíferos, todo tipo de pássaro, todo tipo de vida estava voltando”.

    Mais de 700 hectares foram totalmente reflorestados e o trabalho do instituto está ajudando na recuperação de cerca de 2 mil nascentes da Mata Atlântica. Salgado afirma que o modelo é tão relevante para o Brasil quanto para a Califórnia, atingida pela seca: “Precisamos reconstruir a fonte de água, uma maneira é plantar árvores”.

    “Podemos reconstruir o planeta que destruímos e devemos”, acrescenta.

    O dinheiro do livro “Amazônia” vai voltar para o instituto, diz ele. “Não sou uma pessoa rica, sou apenas um fotógrafo”, ele pondera. No entanto, seu prestígio tem suas vantagens. Uma parceria com a seguradora suíça Zurich permitirá o plantio de mais 1 milhão de árvores.

    Apesar de todos os aspectos positivos que vêm de sua fotografia, Salgado permanece ambivalente quanto ao seu poder. “Não acredito que as fotos possam mudar alguma coisa”, diz ele. “A imagem por si só é algo para ver.” No entanto, diz ele, no caso da Amazônia, combiná-los com o trabalho de instituições ambientais pode “incitar um movimento”.

    O momento é de grande urgência. Em sua introdução ao livro, o fotógrafo comunica seu desejo sincero de que “daqui a 50 anos, este livro não se pareça com o registro de um mundo perdido”.

    Por meio de sua publicação, em mais de uma maneira, ele está fazendo todo o possível para garantir que isso não aconteça.

    Amazônia” de Sebastião Salgado é publicado pela Taschen.

    Texto traduzido, leia o original em inglês.