Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Por que falar palavrão é sinal de inteligência, ajuda a controlar a dor e mais

    “A mensagem principal é que xingar ajuda você a lidar com a dor”, diz o psicólogo Richard Stephens

    Sandee LaMotte, da CNN

    A sociedade educada considera que falar palavrões é um sinal vulgar de baixa inteligência e falta de educação. Afinal, por que alguém usaria uma linguagem chula quando foi abençoado com um vocabulário rico?

    O fato é que essa percepção é um monte de…, bem, de besteira. Na verdade, usar palavrões pode ser um sinal de superioridade verbal, como mostram os estudos, e também pode fornecer outras recompensas possíveis para os humanos.

    “São muitas as vantagens de usar palavrões”, disse Timothy Jay, professor emérito de psicologia no Massachusetts College of Liberal Arts, que estuda o tema há mais de 40 anos.

    “Os benefícios de palavrões foram ressaltados nas últimas duas décadas, como resultado de muitas pesquisas sobre o cérebro e as emoções, junto com uma tecnologia aprimorada para estudar a anatomia do cérebro”, contou Jay.

    1. Xingar pode ser um sinal de inteligência

    Em um estudo de 2015 (em inglês), pessoas bem educadas, com vasto vocabulário à sua disposição, foram melhores no uso de linguagem chula do que aquelas que eram menos fluentes verbalmente.

    Os participantes foram solicitados a listar o máximo de palavras que começam com F, A ou S em um minuto. Outro minuto foi dedicado a pronunciar palavrões que começassem com aquelas mesmas três letras. O estudo descobriu que aqueles que criaram mais palavras com F, A e S também produziram mais palavrões.

    O uso é um sinal de inteligência “na medida em que a linguagem está correlacionada com a inteligência”, informou Jay, autor do estudo. “Pessoas que são boas no idioma são boas em gerar um vocabulário de palavrões”.

    Xingar também pode estar associado à inteligência social, acrescentou Jay.

    “Ter as estratégias para saber onde e quando é apropriado usar palavrões é uma habilidade social cognitiva, como escolher as roupas certas para a ocasião correta. Essa é uma ferramenta social bastante sofisticada”.

    2. Xingar pode ser um sinal de honestidade

    A ciência também encontrou uma ligação positiva entre palavrões e honestidade. Pessoas que xingavam mentiam menos em um nível interpessoal e tinham níveis mais elevados de integridade geral, de acordo com uma série de três estudos publicados em 2017 (em inglês).

    “Quando você expressa honestamente suas emoções com palavras poderosas, passa a ser mais honesto”, disse Jay, que não estava envolvido nos três estudos.

    Embora uma taxa maior de uso de palavrões tenha sido associada a mais honestidade, os autores do estudo alertaram que “as descobertas não devem ser interpretadas como significando que quanto mais uma pessoa usa palavrões, menos probabilidade ela se envolveria em comportamentos antiéticos ou imorais mais graves.”

    3. Xingar melhora tolerância à dor

    Quer pegar muito pesado no treino? Solte um palavrão ao terminar a série mais difícil de exercícios.

    Ciclistas que xingavam enquanto pedalavam em prova de resistência tinham mais potência e força do que aqueles que usavam palavras “neutras”, como demonstraram alguns testes (em inglês). Uma pesquisa também descobriu que as pessoas que praguejavam enquanto apertavam um torno eram capazes de usar mais força e por mais tempo.

    Liberar palavras obscenas não ajuda apenas na resistência: se você fechar a porta do carro no seu dedo, pode sentir menos dor se disser “m***a” em vez de “meleca”.

    Pessoas que falavam palavrões ao mergulhar a mão na água gelada (tática usada em outro estudo em inglês) sentiram menos dor e conseguiram manter as mãos na água por mais tempo do que aquelas que disseram uma palavra neutra.

    “A mensagem principal é que xingar ajuda você a lidar com a dor”, disse o principal autor, o psicólogo Richard Stephens, em uma entrevista anterior à CNN americana.

    Professor sênior da Universidade Keele, em Staffordshire, Inglaterra, onde lidera o Laboratório de Pesquisa em Psicobiologia, Stephens diz que xingar produz uma resposta ao estresse que inicia o antigo reflexo defensivo do corpo. Uma descarga de adrenalina aumenta o ritmo cardíaco e a respiração, preparando os músculos para a resposta conhecida como lutar ou fugir.

    Simultaneamente, existe outra reação fisiológica chamada resposta analgésica, que torna o corpo mais impermeável à dor.

    “É algo que faz sentido do ponto de vista evolucionário porque você vai ser um lutador melhor e um corredor mais rápido se não estiver sendo atrasado por preocupações com a dor”, afirmou Stephens.

    “Parece que, ao soltar palavrões, você desencadeia uma resposta emocional em si mesma, o que produz uma leve resposta ao estresse, que por sua vez traz consigo uma redução da dor induzida pelo estresse”, acrescentou.

    Cuidado, no entanto, da próxima vez que você decidir enfeitar seu treino com palavras sujas. Palavrões perdem seu poder sobre a dor quando são usados demais, segundo uma outra pesquisa (em inglês).

    Alguns de nós conseguimos mais recompensas pelo uso de palavrões que outros. Veja o caso das pessoas que têm mais medo da dor, que sofrem com a chamada catastrofização. Segundo o professor Stephens, uma pessoa que sofre com essa distorção cognitiva é aquela que ao fazer um corte no dedo já pensa: “Ah, isso é uma ameaça à minha vida. Vou ficar com gangrena, vou morrer”.

    “A pesquisa descobriu que os homens que eram menos catastrofistas eram mais beneficiados pelo uso de palavrões, enquanto aqueles que eram mais catastrofistas não”, disse Stephens. “Já com as mulheres não houve diferença”.

    4. Xingar é um sinal de criatividade

    O xingamento parece estar centrado no lado direito do cérebro, a parte que as pessoas costumam chamar de “cérebro criativo”.

    “Nós sabemos que pacientes que têm AVC no lado direito tendem a se tornar menos emocionais, menos capazes de entender e contar piadas, e podem simplesmente parar de praguejar, mesmo que tenham xingado muito antes”, explica Emma Byrne, autora de Swearing is good for you (“Palavrões fazem bem para você”, sem edição no Brasil).

    A pesquisa sobre palavrões começou ainda na época vitoriana (século XIX), quando os médicos descobriram que os pacientes que perdiam a capacidade de conversar ainda podiam xingar.

    “Eles praguejaram com incrível fluência”, disse Byrne. “Repreensões da infância, palavrões e termos carinhosos, ou seja, palavras com forte conteúdo emocional aprendidas desde cedo, tendem a ser preservadas no cérebro mesmo quando todo o resto de nossa linguagem é perdido.”

    5. Liberar palavrões em vez de socos

    Por que escolhemos xingar? Talvez porque a linguagem obscena forneça uma vantagem evolutiva que pode nos proteger de danos físicos, disse Jay.

    “Um cão ou gato arranha ou morde você quando está com medo ou raiva”, lembrou. “Os palavrões nos permitem expressar nossas emoções simbolicamente, sem fazê-lo com unhas e dentes. Em outras palavras, posso mostrar o dedo a alguém ou dizer ‘vai se f**** do outro lado da rua. Eu não tenho que dar na cara da pessoa”.

    Para Jay, xingar então se torna uma forma remota de agressão, oferecendo a chance de expressar sentimentos rapidamente e evitando repercussões.

    “O propósito de xingar é dar vazão à minha emoção e há uma vantagem, pois me permite lidar com isso. Ao falar o palavrão, comunico imediatamente a quem está a redor qual é o meu estado emocional. Tem a vantagem da eficiência emocional: é algo muito rápido e claro”.

    Uma linguagem universal

    O que torna o uso de palavras sujas tão poderoso? O poder do tabu, é claro. Trata-se de realidade universalmente reconhecida: quase todas as línguas do mundo contêm palavrões.

    “Parece que assim que você tem uma palavra tabu e a percepção emocional de que a palavra vai causar desconforto para outras pessoas, o resto parece acontecer naturalmente”, disse Byrne.

    Não são apenas as pessoas que xingam. até os primatas amaldiçoam quando podem.

    “Na natureza, chimpanzés tendem a usar seus excrementos como um sinal social, jogando-os e assim mantendo os outros afastados”, contou Byrne.

    Os chimpanzés que conviveram com humanos e foram treinados para usar o penico aprenderam a linguagem de sinais para “cocô”, para que pudessem dizer a seus treinadores quando precisavam usar o banheiro.

    “Assim que eles aprenderam o sinal de cocô, começaram a usá-lo como fazemos com a palavra m****”, contou Byrne. “Xingar é apenas uma forma de expressar seus sentimentos que não envolve jogar m**** de verdade. Você apenas lança a ideia dela”.

    Será que, então, devemos mandar uns palavrões para o mundo sempre que tivermos vontade, independentemente do nosso ambiente ou dos sentimentos dos outros? Claro que não. Mas pelo menos você pode ter alguma folga na próxima vez que, inadvertidamente, deixar escapar um p****.

    Afinal, você está apenas sendo humano.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

    Tópicos