Peças de luxo para máscaras geram críticas sobre ‘gourmetização’
O chamado "porta-máscaras" custa até R$ 600 e esgotou em menos de cinco dias em um atelier de alta costura em Campinas
Feito à mão e com pedrarias que vão de cristais a zircônias, o mais novo acessório para as máscaras de proteção chegou ao mercado dividindo opiniões. O motivo? O preço. O mais barato custa R$ 120 e, dependendo do material, pode chegar a R$ 600, o mesmo valor do auxílio emergencial do governo federal, popularmente conhecido como “coronavoucher”, aguardado por mais de 45 milhões de brasileiros.
O porta-máscara foi criado para revestir o equipamento tradicional e trazer a moda para um item que se tornou comum nas ruas de todo o mundo. A ideia é do estilista de alta costura Luddy Ferreira, que percebeu a necessidade de deixar a aparência da máscara mais leve depois de enfrentar uma doença autoimune em 2016.
“É uma peça que transmite medo e, nos tempos atuais, insegurança”, avalia. O artigo de luxo não protege contra vírus, mas muda a aparência do acessório: “Nunca quis fazer nenhum tipo de máscara de proteção, mesmo porque não tenho conhecimentos nem maquinários para a confecção”, explica.
Nas redes sociais, a proposta não foi bem recebida. Internautas criticaram os preços e questionaram a utilidade do novo produto.
Mas no atelier de Ferreira, em Campinas, os pedidos não param há quase uma semana. Com encomendas feitas por todo o Brasil, segundo o estilista, o estoque se esgotou. O primeiro porta-máscara a acabar foi o mais caro, feito com zircônias. Porém, o mais procurado é o que custa menos, modelado com manta falsa de cristal e silicone, além do crinol, um material utilizado pelo estilista anteriormente para armar barras de vestidos.
Os preços elevados são compatíveis com o mercado de luxo da moda, que somente em 2019 movimentou no Brasil cerca de R$ 12 bilhões em roupas, sapatos, bolsas e joias, segundo o último levantamento feito pelo provedor de pesquisa de mercado Euromonitor International. “Há uma falta de cultura de moda, porque as pessoas não são obrigadas a desenvolver isso. Aos poucos, elas vão entender, porque acredito que isso é uma tendência que veio para ficar”, conclui Ferreira.